Crise, Guerra e Revolução é a tríade da história contemporânea. Se havia uma ligação na história entre preços agrícolas e crises, a partir de 1870 ela desaparece. As crises modernas não são de escassez, pragas ou maus anos agrícolas. São crises cíclicas de superacumulação de capital. Na crise não faltam colheitas, há produção de capital a mais. A “queima de capital” é a resposta à crise: parar de produzir, desempregar ou produzir mais, com menos trabalho, cortando salários, cortando pensões, aumentando a idade da reforma, subindo a remuneração do capital em juros. O que pensaria um servo da Idade Média perante uma crise ouvir dizer “parem de trabalhar?”.
A tríade do capitalismo – crises, guerras e revoluções – começa aqui, em 1870. O seu percurso é retroalimentado, uma bola de neve. As chamadas “medidas para sair da crise” são desde 1870, e até um pouco antes, desde 1820/1840 respostas anti cíclicas (forçar ao desemprego, imobilizando investimentos, expansão de novos mercados, disputa de matérias-primas, intensificação do trabalho, economia de guerra). A “saída da crise” está na origem da crise. Impondo à modernidade a barbárie, em doses apocalípticas.
Mas as crises também são os momentos de resposta às medidas contra cíclicas. As crises são os momentos de escolhas. Encruzilhadas. Questões decisivas para os destinos da humanidade. As crises foram momentos de barbárie social, mas também originaram resistência, atos de coragem e cooperação que redesenharam para sempre o futuro, expandido o espectro de autodeterminação de toda a humanidade.