Dois dias de luto, com bandeiras a meia haste, foram cumpridos, em Vila Nova de Famalicão, distrito de Braga, pelo desaparecimento de Joaquim da Silva Loureiro, antigo combatente antifascista, natural dos Montes, que faleceu no passado dia 27.
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No próximo domingo será celebrada missa na igreja dos Montes, pelas 8:45 horas, sendo posteriormente colocadas as cinzas mortais no jazigo da família, no cemitério de Alpedriz.
Considerado um dos mais conhecidos advogados famalicenses, Joaquim Loureiro foi político e ativista contra a ditadura do Estado Novo. Desde os finais da década de 1950 que foi um ativo apoiante da oposição democrática.
Nasceu na aldeia dos Montes em 1936, mas estava radicado em Famalicão há 56 anos. Aquele município do distrito de Braga prestou, assim, homenagem ao antigo presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Famalicão (1986-1989), que, após o 25 de Abril de 1974 foi membro da comissão administrativa do município de Famalicão e vereador entre 1976 e 1977.
Era licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, tendo, em 1958, apoiado a candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República. Durante a crise académica de 1960-1962 participou ativamente nas manifestações estudantis, tendo sido identificado e detido pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) em duas ocasiões.
Foi professor, de 1967 a 1968, na Escola Técnica de Vila Nova de Famalicão, mas as suas posições políticas foram a justificação para a expulsão da função pública, por decisão do Conselho de Ministros.
O advogado pertenceu às comissões políticas do Movimento Democrático Português, que abandonou em 1974 para aderir ao Partido Socialista. Pertenceu à Comissão Administrativa da Câmara de Famalicão, foi presidente da Assembleia Municipal daquele concelho e várias vezes eleito vereador pelo PS, tendo desempenhado o cargo como vereador independente.
No campo associativo, esteve ligado à associação ambientalista Quercus e ao Famalicense Atlético Clube.
O montense foi também autor de vários livros, o último dos quais “O Estado Totalitário (do 28 de maio ao 25 de Abril), lançado em setembro de 2019 na Biblioteca Municipal de Famalicão. A obra foi candidata ao prémio Barbosa de Melo 2022, da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República. “Quarenta e cinco anos após o 25 de Abril, o ‘salazarismo/caetanismo’ continua a ser objeto de manifestações diversas, para além de descaradas tentativas de ‘branqueamento’ da história. De resto, apesar das largas dezenas de obras que têm sido publicadas nos últimos anos, o que se assiste é a uma manifesta apreciação enviesada e falsificadora da realidade histórica”, escreveu, então, o autor.
Joaquim Loureiro foi ainda um homem ligado à imprensa. Integrou o conselho editorial fundador do jornal Opinião Pública, de que foi cronista durante vários anos.
“Um lutador ativo pela liberdade e pela democracia que fez dele um dos presos políticos do Estado Novo. Nunca deixou de lutar pelos valores da democracia e da liberdade”, reagiu o presidente da Câmara de Vila Nova de Famalicão, Mário Passos. “Joaquim Loureiro fica na história de Famalicão como um lutador e um dos grandes responsáveis pela fundação do Partido de Vila Nova de Famalicão”, considera a Concelhia do PS/Famalicão. Também a delegação de Famalicão da Ordem dos Advogados publicou uma nota de pesar pelo falecimento de Joaquim Loureiro, afirmando que “Famalicão e os advogados famalicenses ficam bem mais pobres”. Em 2014, por ocasião da sua aposentação, a Ordem dos Advogados organizou um jantar em sua homenagem.