Quem diria que João Amarelo só aprendeu a dançar depois de se casar com a mulher, Maria Irene Sousa. O casal, que frequenta o lar do Solar de Cister, teve a “desculpa” perfeita, na passada quinta-feira, para recuar no tempo e reviver os bailaricos que frequentavam há tempos idos. A dança já não é tão frenética como antigamente – os anos já “pesam” –, mas nem por isso deixaram de dar as mãos, uma vez mais, para dançarem ao som de temas bem conhecidos do cancioneiro popular português. Mas, o caso destes eternos namorados, não fosse terem dado o nó no Dia dos Namorados, foi um entre centenas de dançarinos. Foram mais de 300 as pessoas que participaram na “tarde dançante”, organizada na Associação Recreativa de Chiqueda, na freguesia de Aljubarrota. O único requisito era serem utentes das Instituições Particulares de Solidariedade Social.
Este conteúdo é apenas para assinantes
“Gosto muito de estar aqui. Antes não dançava, mas depois de casado aprendi com a minha mulher para a acompanhar”, confidenciou João Amarelo, de 83 anos, ao REGIÃO DE CISTER.
E, caro(a) leitor(a), se pensa que o ritmo da música não acelerou muito devido à idade dos participantes, está bem enganado(a). Os utentes das diversas instituições da chamada região de Cister têm energia que nunca mais acaba. Que o diga a dona Maria Adília, utente do Centro Social da Freguesia de Famalicão, que só parou mesmo… para a entrevista do REGIÃO DE CISTER. “Não me deixam ter sossego”, disparou a nazarena, de “70 e muitos” e “casada só uma vez”, que se apresentou vestida a rigor com os trajes nazarenos, contando que quando era mais jovem “não falhava um bailarico”. “Corria todos”, acentuava, sempre pronta para um pezinho de dança. Ora ao ritmo de Quim Barreiros, ora ao som de Tony Carreira, que foram fazendo as delícias dos dançarinos seniores. “Quando saí de casa, pensei o que é que vinha para aqui fazer, mas elas [colaboradoras] são boas amigas e lá me trouxeram. Estou a divertir-me muito”, sussurrou a utente.
Foi também o caso de Maria Costa de Sousa, “nascida e criada nos Montes”. A utente do Centro de Bem Estar Social da Freguesia dos Montes, de 85 anos, não parou nem um bocadinho e foi uma das mais ativas da tarde na pista de dança. “Toda a vida dancei muito. Quando era solteira ia aos bailes e dançava as músicas todas, todas, todas”, asseverou a antiga agricultora, que já perdeu o “par de sempre”, mas que continua a exibir uma jovialidade notável quando é hora de… dançar. “Enquanto as pernas deixarem é para dançar”, gracejou Maria Costa de Sousa, assumindo o bem que aquela tarde lhe fez “à alma e à cabeça”.
Já Fernanda André, da Fundação Manuel Francisco Clérigo, em São Martinho do Porto, garantiu que “há umas décadas não escapava baile nenhum”. “O corpo já não deixa tanto, mas já me fartei de dançar hoje”, salientou a antiga cozinheira, recordando os “tempos de juventude”.
A tarde foi de festa no salão da Associação Recreativa de Chiqueda, mas foi também de regressos ao passado. Em alguns casos, literalmente. A alcobacense Elvira Bernardes, utente da Residência Sénior “O Baloiço”, da freguesia de Aljubarrota, foi cozinheira daquela associação durante muitos anos e se, na passada quinta-feira, dançou, o mesmo não poderá dizer-se de outros tempos, em que ali “trabalhou muito a ajudar nos jantares e nos fins de semana”. “É uma alegria voltar, já dancei muito, mas ainda quero dançar mais”, asseverou a dona Elvira, aprontando-se para regressar à pista de dança, na qual estava também Venusa Silva, diretora técnica da Residência Sénior “O Baloiço”, que destacou a importância destes momentos. “O balanço é espetacular. Vão dormir melhor certamente, e é a alegria que se vê”, sublinhou, revelando que nos dias antes da iniciativa os utentes já vão mostrando alguma “ansiedade” para que chegue o dia de reencontrarem velhos amigos das outras instituições. “Partilhar este convívio e ver a alegria deles vale muito”, rematou a responsável, numa ideia que foi corroborada por Elisabete Nogueira, diretora técnica da Misericórdia de Aljubarrota.
O baile destinado à terceira idade é já uma tradição no plano de atividades das instituições de apoio à terceira idade do concelho de Alcobaça e realiza-se duas vezes por ano, sendo que esta edição foi dedicada ao tema “Viagens”, com os utentes a serem também desafiados a criarem adereços alusivos a países de todo o mundo, que levaram depois a concurso. Ganharam os artigos criados pelos utentes da Residência Sénior “O Baloiço”, seguindo-se no pódio os adereços da Fundação Maria e Oliveira de Alcobaça e da Santa Casa da Misericórdia de Aljubarrota, respetivamente. Mas, na verdade, ganharam todos os que tiveram oportunidade de reavivar memórias, rever velhos amigos e ser felizes… a dançar!