Em vésperas de Natal, os gestos de altruísmo e amizade têm ainda mais significado. E a participação do eborense Carlos Fernandes no Desafio Picos do Açor, no qual completou um percurso (bastante exigente) de 32 quilómetros com um fato amarelo completo para conseguir ajudar um amigo a alcançar um importante financiamento para a organização da prova, é disso um excelente exemplo. Prometeu ao amigo que o faria quando o visitou numa cama de hospital e selou a sua promessa, no passado dia 15, ao cortar a meta equipado a rigor com um fato da referida marca.
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Mas, recuemos dois meses. Por essa data, David Gouveia, organizador da competição, sofreu um (grande) “percalço” e teve de ser operado de urgência a um tumor na medula, num problema que o poderia afastar da organização daquele trail.
O cenário de recuperação antecipava-se difícil e foi numa das visitas que o jovem, de 33 anos, viu um amigo prometer que o ajudaria a angariar aquele patrocínio. Esse amigo foi Carlos Fernandes. “Tinha prometido ajudar no que precisassem e não volto com a minha palavra atrás”, confidenciou Carlos Fernandes ao REGIÃO DE CISTER.
Dito e feito. No passado dia 15, em Arganil, o eborense percorreu de fato os 32 quilómetros, com 2.300 metros de desnível, em 4h23m12s, posição que lhe permitiu alcançar a 100.ª posição da geral e a 21.ª no escalão M35.
“Foram 32 quilómetros a pensar e a inspirar-me na superação dele”, confidenciou também, sublinhando que o caso do amigo o tocou e que não pensaria duas vezes em voltar a repetir aquele momento. “Acabou por ser um percurso muito divertido e a história do homem de amarelo até se tornou viral”, afirmou o atleta, notando que o desporto é muito mais do que pódios e classificações. “O desporto é o humanismo, a amizade, a entreajuda, a superação pessoal…”, elencava, certo de que “é apenas mais um” a reger-se por esta filosofia de vida.
É certo que o tempo permitiu ainda ser 93.º classificado na geral masculina, no entanto, na categoria referente à amizade e aos valores que dela emanam, é caso para dizer que Carlos Fernandes arrebatou a distinção máxima. E tudo para ajudar um amigo num momento particularmente conturbado, mas que não o impediu (e ainda bem) de assistir de perto à prestação do eborense.
Este caso ilustra na perfeição os valores do desporto e da humanidade, o que valeu no final um sentido abraço de agradecimento e a promessa de um brinde que ficará por cumprir na edição 2025 do Desafio Picos do Açor.
Ao REGIÃO DE CISTER, o beneficiário do ato de amizade mostrou-se bastante agradecido. “O Carlos é um maluco, mas agradeço-lhe imenso esta maluqueira para nos ajudar”, sublinhou David Gouveia, estendendo a gratidão à família do eborense, que “sacrificou” o dia em prol daquela “missão”. “O filho mais novo do Carlos fazia anos e havia um almoço de família que teve de ser adiado…”, partilhou ainda.
E se a história já tinha contornos altamente peculiares, mais se tornou pelo facto do profissional que operou David Gouveia ter participado na prova, momento em que lhe revelou que a biópsia havia ditado um tumor… benigno.
Boa recuperação, David!