O Centro Cultural, Desportivo e Social (CCDS) do Casal Velho vive um clima de tensão, após mais de cinco dezenas de pais e encarregados de educação terem redigido uma carta a denunciar a instabilidade no clube da freguesia de Alfeizerão, que está há vários meses em gestão corrente.
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Entre os principais pontos levantados estão as eleições para os órgãos sociais, que afirmam alegadamente não terem sido realizadas, a ausência de uma assembleia para apresentação de candidaturas e dezenas de pessoas que, também há vários meses, entregaram propostas para se tornarem sócios, tendo pago as quotas, mas ainda não tendo recebido qualquer confirmação ou recusa. Além disso, a secção de futsal também tem motivado uma grande apreensão entre os encarregados de educação.
De acordo com a missiva, à qual o REGIÃO DE CISTER teve acesso, pais e encarregados de educação manifestaram forte preocupação pela alegada inexistência, até à data, de “qualquer Assembleia Geral para apresentação das listas candidatas à Direção, e consequente eleições de novos membros de órgãos sociais”, conforme previsto nos estatutos. Isto já depois de alegadamente continuarem a aguardar, há cerca de dez meses, pela confirmação dos pedidos de aprovação de sócios.
Os signatários lamentam ainda a ausência de uma Assembleia Geral para apresentação, discussão e aprovação do Relatório e Contas referente a 2024, assim como a falta de um espaço no edifício sede para consulta das contas do exercício anterior. “Tudo aqui exposto, é manifestamente irregular, revelador de uma gestão de Direção duvidosa e questionável, e opõe-se francamente às regras de funcionamento estabelecidas nos Estatutos do Centro Cultural, Desportivo e Social”, lê-se na nota, que acentua que tal situação “lesa os atuais sócios, os futuros sócios, os utentes, os atletas, a comunidade e todos os que apoiam e simpatizam com o Centro Cultural, Desportivo e Social do Casal Velho”.
Além disso, os cerca de 50 pais e encarregados de educação que assinaram a carta – dirigida à Associação de Futebol de Leiria, Câmara de Alcobaça e Junta de Alfeizerão – estão também bastante preocupados com o futuro da secção de futsal, que conta atualmente com 120 atletas. Nas últimas semanas, várias saídas de treinadores, desde os seniores até à formação, aumentaram a incerteza quanto ao rumo do clube. “Os pais dos atletas não se conformam com tal conjetura, atuação, com constantes ameaços de que o futsal vai terminar. Há já dois anos que isso é referido para Direção, que refere ainda que o futsal gera prejuízo… Como é possível sequer pensar em terminar o futsal num clube certificado com 3 estrelas, com 120 atletas na formação, e que, a nível de instalações e infraestruturas, poderia ser, se devidamente melhorado e preservado, um dos melhores da região”, questionam, notando ainda que os referidos acontecimentos têm “vindo a contribuir para um clima de instabilidade a todos os níveis, até emocional, dos atletas (…)”.
O REGIÃO DE CISTER apurou que houve reuniões entre a Direção e encarregados de educação dos atletas, mas que, à data, nada terá ficado efetivamente definido relativamente à época 2025/2026. O presidente da Direção terá alegadamente abandonado as reuniões antes do término, mas ao REGIÃO DE CISTER, João Camacho preferiu não comentar o assunto.
Presidente da Assembleia Geral garante que assembleias foram realizadas e que listas apresentadas não eram totalmente compostas por sócios da coletividade
O presidente da Assembleia Geral do Centro Cultural, Desportivo e Social do Casal Velho afirmou ao REGIÃO DE CISTER que ainda não se realizaram eleições dos órgãos sociais porque não surgiram listas totalmente compostas por associados. “Não houve até hoje nenhuma lista completa só de sócios. Se não há lista não posso marcar eleições”, explicou Joaquim Daniel. O dirigente garantiu que as assembleias têm sido realizadas desde o fim do mandato, mas nenhuma lista apresentada cumpriu os requisitos para avançar às eleições. Relativamente à apresentação, discussão e aprovação do relatório e contas, o presidente da Assembleia Geral lembrou que a referida assembleia tem acontecido no mês de setembro. “O que aconteceu este ano é que o gabinete de contabilidade ainda não deu como completas as contas do ano passado e, por isso, ainda não foi marcada nenhuma assembleia para o efeito”, justificou. Nesse sentido, e desde então, os destinos do clube estão entregues a uma gestão corrente até que seja eleito um novo órgão diretivo para assumir o futuro do emblema da freguesia de Alfeizerão.
Presidente da Direção assegura futsal em 2025/26
Ao REGIÃO DE CISTER, o presidente da Direção Centro Cultural, Desportivo e Social (CCDS) do Casal Velho, em gestão corrente, não teceu comentários sobre os temas relacionados com as assembleias e eleições, mas garantiu que os escalões de formação do futsal estarão ativos na temporada 2025/2026.
“O objetivo do Casal Velho não é fechar. O objetivo é o futsal do Casal Velho, fundamentalmente ao nível da formação, manter-se”, sublinhou João Camacho, garantindo que os escalões de formação vão ser uma realidade na época 2025/2026, sem conseguir assegurar a continuidade da equipa sénior.
“Quanto aos seniores, estamos a fazer esforços para manter, independentemente das saídas”, acrescentou o histórico dirigente. Ao REGIÃO DE CISTER, João Camacho, o único presidente da história do CCDS Casal Velho, abordou ainda a situação financeira do clube, que vive um período “pós pandemia” adverso, com “reduções significativas da receita e automaticamente de lucros”, e que continua a ter dívidas por liquidar.
“A dimensão do futsal do Casal Velho tem de ser enquadrada com a realidade de hoje e com a realidade dos compromissos financeiros que foram ficando por resolver e que se têm de resolver. Compromissos com os Serviços Municipalizados, Federação Portuguesa de Futebol, uma situação que a Autoridade para as Condições do Trabalho considera que temos de recompensar os padeiros porque não trabalharam com os 30% de acréscimo do vencimento por fazerem trabalho no período noturno”, elencou o dirigente, destacando ainda uma dívida por regularizar “para com o sócio João Camacho, que foi para lá emprestando dinheiro sem juros para colocar a obra de pé”.
E contextualizou: “Depois de uma amortização efetuada em maio, estamos a falar de 95 mil euros. O meu empréstimo foi contabilizado em Assembleia Geral, em 2004, e o empréstimo até essa data eram 200 mil euros e estão lá sem juros”, revelou João Camacho, explicando que a verba foi aplicada no clube “para fazer a obra”. “O pavilhão, o café, todas as infraestruturas, fomos criando e inventando eventos, fomos tendo receita, houve uma grande generosidade por parte dos sócios, mas isso não foi suficiente e foi preciso ir injetando dinheiro. Esse dinheiro foi injetado nos montantes que disse e que estão em ata”, assegurou o dirigente. Nesse sentido, e segundo o próprio, terá ficado acordada uma forma de pagamento mensal na ordem dos 2.500 euros.
Com cerca de 300 sócios, dos quais “pagarão as quotas apenas 10%”, João Camacho apontou ainda a necessidade de várias intervenções estruturais, nomeadamente os balneários, “que têm 19 anos de utilização, a cobertura do pavilhão, o salão exterior, que tem uma imagem ainda mais degradada”. Já sobre o futuro na liderança do emblema casalense, o dirigente deixou a decisão para tempo oportuno.