Sozinho, com apenas uma mochila de 30 litros às costas, o alcobacense Renato Jácome iniciou, ontem de manhã, a maior viagem de comboio do mundo. Será o primeiro português – e o primeiro do mundo a fazê-la sozinho – a percorrer 18.751 quilómetros, atravessando 14 países e 30 estações de comboio, numa aventura de 21 dias, se tudo correr como previsto. Partiu da Estação Ferroviária de São Martinho do Porto e só vai parar quando chegar a Singapura.
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O percurso atravessa a Península Ibérica, passando por França, e segue em direção à Alemanha, Polónia e os países bálticos, até chegar à Bielorrússia e à Rússia. Após cruzar a Rússia, Renato Jácome entra na Mongólia, antes de seguir para o coração do Sudeste Asiático, passando pela China, Tailândia, Malásia e, finalmente, Singapura.
“Primeiro tivemos de escolher a rota, depois foi encontrar alternativas e sítios para descansar e tomar banho, pedir vistos e autorizações de entrada e acautelar situação de doença“, resume Renato Jácome ao REGIÃO DE CISTER. O itinerário, que demorou mais de um ano a ser planeado, foi meticulosamente organizado, com horários precisos e ligações exatas para garantir que o trajeto seja cumprido sem grandes contratempos. “Há um comboio que, se o perder, tenho de esperar três dias para apanhar o próximo”, lembra.
Ao longo da jornada, o alcobacense terá de lidar com fusos horários, mudanças climáticas e as diferenças culturais e linguísticas, além de atravessar regiões instáveis. “Apesar de toda a instabilidade e guerras no mundo não devemos ter medo de enfrentar os desafios e os nossos possíveis receios”, reflete o empresário, de 55 anos.
Renato Jácome cresceu a ver os barcos navegar pelo Rio Tejo, no Mercado da Ribeira, em Lisboa, onde começou a trabalhar aos 10 anos, a vender maçãs. Mesmo com as dificuldades financeiras da família, nunca desistiu do sonho de viajar pelo mundo e descobrir o que poderia estar para lá do rio. Aos 18 anos, teve a oportunidade de trabalhar a bordo de um dos maiores paquetes de passageiros à data, o Princess Cruises, o que aprofundou ainda mais o desejo de explorar novos destinos. Mais tarde, foi trabalhar como eletricista para a Acordo, empresa que adquiriu em 2012. Hoje é o CEO do grupo empresarial, que conta com cerca de 300 colaboradores.
“Sempre quis fazer um Interraill, mas nunca me foi possível, e sempre gostei de comboios”, partilha o alcobacense, que também vestiu a farda de bombeiro na corporação de Alcobaça durante três décadas. “Esta viagem é nada mais nada menos que cumprir com o meu sonho de conhecer o mundo e assim puder dar como cumprido mais um dos meus sonhos de vida, de superação e realização pessoal e poder demonstrar que quando acreditamos em algo devemos fazer de tudo para as nossas realizações”, sublinha.
Com mais de 50 países visitados, Renato Jácome não é novato em viagens, mas esta será, sem dúvida, a mais longa, exigente e memorável de todas. Cá o aguardamos no dia 23.