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Festejou os títulos de campeão nacional enquanto fisioterapeuta do Sporting, nas temporadas 2020/2021 e 2023/2024, mas quis o destino que o futuro passasse por solo basco. Mais concretamente em Bilbau, onde André Luís, nascido em Caldas da Rainha mas beneditense de coração, desempenha agora funções no histórico Athletic Club, um dos emblemas mais icónicos do futebol mundial.
Ao REGIÃO DE CISTER, o jovem, que estudou no Externato Cooperativo da Benedita e se formou em Fisioterapia pela Escola de Tecnologia e Saúde de Coimbra, revelou como surgiu o convite para rumar a Espanha, recordou o início da carreira enquanto profissional de fisioterapia e até aos tempos em que ajudou os juniores do Beneditense a conquistar a dobradinha distrital. Corria a temporada 2012/2013.
“Estava de férias com a minha namorada, que reside em Bilbau, e estava a enviar currículos para tentar arranjar emprego lá. Para grande surpresa minha, acabo por ser contactado pelo diretor clínico do Athletic para uma entrevista. Passei as três fases do processo e, também fruto de algumas recomendações que lhes tinham fornecido sobre mim, acabei por ingressar no clube”, contou.
Desde então, é por Espanha que André Luís passa a maior parte do ano, considerando que no país vizinho o fisioterapeuta é visto com um “papel reabilitador”, que concilia a parte de fisioterapia com a preparação física. “O que saliento da diferença cultural em relação ao fisioterapeuta é que existe uma literacia em saúde maior em relação ao acesso e às funções do fisioterapeuta, o que permite ser mais valorizado em Espanha”, destacou.
No clube espanhol, o jovem tem a oportunidade de conviver e lidar semanalmente com craques do futebol mundial, nomeadamente o guarda-redes Unai Simón, o defesa Dani Vivian e o extremo Nico Williams, que no ano passado conquistaram o Campeonato da Europa por Espanha. Mas antes da aventura em Espanha, já André Luís tinha dado cartas em Portugal e… ao serviço do Sporting.
E a oportunidade de ingressar nos leões aconteceu já depois de ter realizado um estágio numa equipa sénior, seguindo-se uma passagem por um ginásio, por uma clínica e pela Federação Portuguesa de Rugby. Surgiu em 2019 o convite do emblema verde e branco, mas inicialmente na equipa feminina.
“Enviei um currículo espontâneo para o diretor dos serviços clínicos do Sporting e naquele momento tive sorte de estarem a recrutar profissionais na área. Chamaram-me para entrevista presencial e depois ingressei na equipa feminina”, contextualizou.
Nos meses seguintes, André Luís dividiu o dia de trabalho entre a equipa feminina e a equipa secundária do clube de Alvalade, até que foi chamado para a equipa principal, já em 2021. “Sou muito honesto: ninguém, aos 24 anos, tem experiência suficiente e conhecimento para assumir um patamar com o grau de responsabilidade daquele, mas acabou por ser um misto de necessidade e de estar no momento certo à hora certa”, contou o beneditense, explicando que, numa fase inicial, foi “promovido” para auxiliar a equipa de fisioterapia durante a pandemia.
O que é certo que é acabou por ficar. E com o símbolo do Sporting ao peito festejou mesmo vários troféus, entre outros, os títulos de campeão nacional em 2020/2021 e 2023/2024. “É incrível porque quando ingresso no Sporting estava longe de imaginar que seria no futebol. Pensei que a vaga para a qual me tinha candidatado era para as modalidades. Para surpresa minha não foi…”, recordou, sublinhando que poder experienciar a conquista de títulos pela equipa principal foi “único”. “O primeiro título marcou muito porque jamais imaginava ser possível ser campeão pelo Sporting”, atirou.
E como é trabalhar com jogadores que valem milhões e cuja condição físicas são determinantes para a rentabilidade dos clubes? “É sempre um trabalho de elevada exigência e responsabilidade, sobretudo quando são lesões de longa duração”, disse, evidenciando que os processos de recuperação “dependem muito de cada jogador e do contexto clínico de cada um” e que permitem, por vezes, estabelecer-se “relações de grande amizade” que “perduram no tempo”.
Mas é desafiante, acrescenta. “A recuperação de um atleta depende muito dele, mas também nos toca. Passamos todo o processo de recuperação ao lado do atleta e depois entram vários fatores em ação, não só físicos como mentais. A aceitação, a cirurgia, quando é necessária, o regresso ao campo… as pequenas vitórias do dia-a-dia ou os passos atrás na recuperação…”, elencou.
Sobre o futuro, André Luís admitiu que não passará em breve por Portugal. Até porque, justificou, a margem de progressão na carreira é mais apelativa no estrangeiro. Nomeadamente nos bascos do Athletic Bilbao, pelo qual atingiu as meias-finais da Liga Europa na última temporada. Já no que toca a sonhos, o também mestre salientou sentir-se “completamente realizado”. Todavia, e aos 30 anos, é caso para dizer que ainda tem a “vida pela frente”. E novos desafios para superar, pois claro.