O presidente da Junta da Nazaré e candidato do PS à câmara defende uma política de proximidade e aposta na habitação, saúde e requalificação urbana como prioridades do seu programa. Rejeita divisões internas no PS local e critica a extrema-direita.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > Exerce funções como presidente de Junta da Nazaré há 12 anos. Que lições leva desse percurso que agora aplica nesta candidatura à câmara?
JOÃO FORMIGA (JF) > Na realidade, só sou candidato à câmara porque este percurso de 12 anos na junta foi, no meu ponto de vista, extremamente positivo. Foram três mandatos de proximidade, como nunca se tinha visto. Com muita obra feita na rua, com muita humildade da minha parte. Foram talvez essas razões que levaram o PS a escolher-me como candidato à Câmara da Nazaré nestas eleições. Como presidente de Junta, posso dizer que adorei. Gosto muito de conviver, de servir, dá-me prazer ajudar. Costumo dizer que me meti na política, não para ser político, mas para poder ajudar os outros. Foi com esse intuito que aceitei, há 12 anos, vir para a política. Longe de mim, pensar que ia ganhar as eleições. Foi mais uma aventura. Acabei por ganhar, ainda bem para mim e para a população. Encontrei uma junta completamente penhorada, sem dinheiro sequer para comprar um saco de cimento. Não fomos informados das condições em que a junta se encontrava. As próprias viaturas estavam penhoradas. Foram, pelo menos, dois anos muito complicados. Felizmente, conseguimos dar a volta por cima. E o resultado está à vista. Muito trabalho, muita dedicação. Muito me honro de ter criado a loja social. Na pandemia, chegámos a ajudar mais de 300 famílias por mês. Nunca dissemos que não a ninguém. Vim para a rua, levava os alimentos a casa das pessoas. Sou do povo, falo com toda a gente, nunca virei as costas a ninguém. É nesse sentido que aceitei ser candidato à câmara. Como presidente de junta do PS e presidente da Concelhia do PS, tenho conhecimento da situação financeira da câmara. Encontrámos uma Nazaré completamente às escuras, pensávamos que eram lâmpadas fundidas, mas eram lâmpadas a corte, devido a uma dívida que a câmara tinha com a EDP. Não vou fazer aquilo que me fizeram a mim, ao esconder o que realmente se passa.
RC > Mas gerir uma junta é diferente de gerir uma câmara… o que o motivou a aceitar encabeçar esta candidatura?
JF > Acredito que consigo fazer mais e melhor. É fundamental acreditar em mim. Sempre acreditei e tive muita fé em mim. A proximidade com a população é sempre um fator positivo. Sei ouvir. E, sabendo ouvir, temos todas as condições para fazer mais e melhor. Não posso deixar de referir que me acompanha uma equipa experiente, com provas dadas, pessoas com imenso conhecimento dos dossiês atuais da Câmara, que é logo uma vantagem. Além de que a remodelação na equipa da câmara é total. Não podemos deixar de falar dos grandes problemas da Nazaré. E passa, sobretudo, pela habitação. As camadas jovens acabam por sair do concelho e um dos meus principais objetivos é fazer com que fiquem. Tentar criar um parque público, habitação municipal. Temos até terrenos debaixo de olho, como se costuma dizer, para poder criar estas novas gerações de cooperativas, com o intuito de fixar os nazarenos e os mais novos, a custos controlados. Nestes novos modelos de cooperativas, o terreno é da Câmara, há apoios financeiros do PRR para a construção e depois é uma questão de saber contactar os empresários certos, no sentido de poder executar a obra. A inflação só acontece quando há vendas. Neste caso, é uma venda controlada. Há sempre um controlo camarário. Além da habitação, há o problema da saúde. Vamos ter de encontrar formas e incentivos para fixar médicos na Nazaré. Se tiver de acampar à porta do Ministério da Saúde, para lá vou. Podem contar comigo. Outro grande objetivo é a requalificação urbana, sobretudo na questão das águas pluviais e saneamento. Uma das minhas prioridades será o saneamento básico. Irei, talvez, fazer o que os últimos 18 presidentes de Câmara, depois do 25 de Abril, não fizeram. E isso, para mim, será uma grande honra.
RC > Como olha para o turismo na Nazaré?
JF > A Nazaré depende do turismo, mas a Nazaré não pode viver só do turismo. Na pandemia, tudo parou e o turismo foi o primeiro a parar. É importante diversificar para que possamos trabalhar mais amplamente. Pensamos criar bolsas de estacionamento na periferia da Nazaré. Temos um plano já com esse intuito. Temos também um plano estratégico para o Porto de Abrigo, que passa por ter um parque de estacionamento incorporado. A Nazaré tem de expandir o turismo e vai expandir através desse plano. A Nazaré está demasiado concentrada numa pequena área, mas a Nazaré é muito grande. É uma terra muito bonita, com muito por descobrir. E quando falo da Nazaré, não falo só da vila. Vamos incentivar empresários a investir no turismo rural, de forma a que o turismo se espalhe por todo o concelho.
RC > Pode dar a entender, tendo em conta o seu percurso, que estava a preparar-se para esta candidatura. Foi isso que aconteceu?
JF > Nunca me passou pela cabeça de junta ser presidente de Junta da Nazaré, quanto mais um dia ser candidato a uma câmara municipal. Fiz os dois primeiros mandatos longe de pensar que no terceiro me iria candidatar à câmara. Somos uma equipa e havia nomes, há sempre sucessores. Se ganhar, também já tenho na minha cabeça quem é o meu sucessor. E nenhum desses sucessores era eu. Isto para dizer que não tinha ideia nenhuma de ser candidato à câmara. A ideia surgiu no último ano, por um grupo de militantes que me incentivou a avançar. Quando entrei para lá era desconhecido, agora tenho pessoas que gostam de mim e outras que não me podem ver. Mas, tenho uma coisa que me honra muito: saio sem telhados de vidro. Ninguém tem nada para me apontar.
RC > Esta é uma candidatura de continuidade do PS ou haverá uma tentativa de ruptura com o que foi feito?
JF > Sou socialista e quem lá está também é socialista. Mas, como os dedos da minha mão em que nenhum é igual, entendo que também não sou igual a nenhum deles. O que não significa que não pense que eles tenham feito bons mandatos. Quem chega a uma câmara com tudo penhorado, com um défice de 1,5 milhões por ano, e uma dívida de 48 milhões – e consegue abater cerca de 16 milhões – fez um bom trabalho. Construíram um centro de saúde moderno e uma marginal nova, que deu outra imagem à Nazaré. Temos um novo terminal rodoviário. O elevador para a Pederneira está em construção. Fizemos o Centro Escolar de Famalicão. Pensamos também em projetar o aumento da zona industrial de Valado dos Frades e construir uma nova em Famalicão. Ideias não nos faltam. Deem-nos a vitória, nós fazemos as obras. Mas, respondendo à questão, não gosto de falar no passado. Como digo, somos diferentes. Somos todos socialistas, mas todos temos formas distintas de estar na vida.
RC > É público que o PS na Nazaré tem vivido várias divisões internas. Qual é o PS de João Formiga?
JF > É o PS de todos os socialistas. Não considero que haja divisões no PS. O que pode haver é alguém que não se sinta bem dentro deste grupo porque deixou de ser socialista.
RC > A quem se refere?
JF > Cada um pensa o que quiser. Não vou falar em nomes de ninguém. O que posso dizer é que quem deixou de ser socialista não faz parte desta equipa. Não há ruturas com ninguém. O PS na Nazaré está unido como nunca esteve. O que é tóxico sai fora, por natureza. Toda a gente pode dizer que é do partido que quiser, mas não é só falar, é provar. E prova-se nas ações. Como tudo, há pessoas que saem e apoiam outros. Compreendo que haja um ou outro que tenha saído do PS para apoiar o PSD, como também sei de muita gente que era ligado do PSD que vai comigo na lista. É tudo muito relativo. O que conta são as pessoas. Durante 12 anos, provei que sou uma pessoa humilde, que gosto de ouvir e, sobretudo, gosto de ajudar e trabalhar. E é com esse intuito que avanço para a Câmara da Nazaré.
RC > Que prioridades tem no programa eleitoral que diferem das prioridades do PS que geriu o concelho nos últimos 12 anos?
JF > As diferenças existem sempre. A situação que eles encontraram na Câmara é uma, eu agora encontro outra. Um dos meus grandes objetivos é baixar a dívida, de forma a que as pessoas na Nazaré possam sentir isso nos impostos, no preço da água, no IMI… Alguém cria a dívida e é a população que a paga. E eu não quero ser apontado. Quero sair dali pela mesma porta que entrei.
RC > E como pensam baixar a dívida?
JF > A única forma é alocar todo o dinheiro que sobrar do ano transato no abatimento da dívida.
RC > De que forma os resultados das últimas legislativas, em que a esquerda caiu abruptamente, podem influenciar as próximas eleições autárquicas?
JF > As pessoas votam nas pessoas. Não conheço os candidatos das outras listas, sobretudo da lista da extrema direita. Não posso falar de pessoas que não conheço. Não tenho ideia de quem são e estou convencido que as pessoas da Nazaré pensam exatamente da mesma maneira que eu. Espero que a extrema direita nas eleições autárquicas não tenha expressão nenhuma, porque vai contra toda a minha forma de estar na vida e na política, como é um retrocesso em todo o sistema evolutivo na Nazaré, no País e no mundo.
RC > Tem receio do impacto da candidatura do Chega? O resultado nas legislativas na Nazaré foi favorável ao partido…
JF > Espero e tenho quase a certeza que o Chega nas autárquicas não vai ter expressão. A Nazaré é dos nazarenos. Eles dizem que não querem cá os emigrantes. Eu também não quero cá pessoas de fora a mandar no que é meu, na minha terra. Era incapaz de um dia concorrer a Alcobaça, não conhecendo eu os problemas de Alcobaça. Essas pessoas não conhecem os problemas da Nazaré, nem respiram nazareno. Não é só ouvir falar. É ter alma nazarena. Essa gente não tem alma nazarena. Essa gente está na política para se servir da política.
RC > O que será um bom resultado?
JF > Uma vitória. Espero ter um 5-2. Cinco vereadores contra dois da oposição.
RC > Se ficar aquém dessas expectativas e o PS não vencer, voltará a candidatar-se?
JF > Estou num partido democrata e irei dar o meu lugar no futuro a outro, caso perca as eleições. Tenho um espelho em casa, e sei ver quando cheguei ao fim a minha era. Espero que isso não aconteça e espero ficar cá 12 anos. Penso entrar sempre como vereador e como tal irei cumprir o mandato nos quatro anos. Mas, estou convencido que irei ganhar. Porque não vejo do lado de lá, condições para que possam ganhar seja o que for. Nem câmara, nem juntas, nem assembleia.