O Chega concorre pela primeira vez à Câmara da Nazaré e o resultado nas legislativas cria expectativa sobre a prestação do partido no concelho. A candidata considera que há um ciclo que tem de terminar.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > É empresária, sem experiência política. Como aparece na política?
LÚCIA LOUREIRO (LL) > A minha candidatura à Câmara da Nazaré surge na sequência do convite do presidente André Ventura, pela ligação que tenho à Nazaré e pelo amor que tenho a esta terra. Aceitei prontamente. O Chega tem uma ligação forte à Nazaré. Foi na Nazaré que aconteceu o Conselho Nacional que deu origem à Convenção de Évora. Foi também na Nazaré que se realizou a primeira Academia de Verão da Juventude, com a presença do presidente do Chega, André Ventura, e de Iván Espinosa, o líder do Vox, em Espanha, sob o lema “A onda que vai mudar Portugal”. Recebi o convite para esta candidatura na rentrée do ano passado, no Algarve. A partir daí, começámos silenciosamente a estruturar todo o percurso. Até porque já sou conhecedora dos problemas existentes na Nazaré há muito tempo.
RC > Não sendo natural da Nazaré, porquê a candidatura à Câmara da Nazaré?
LL > Tive negócios e uma casa na Nazaré mais de 10 anos, tenho raízes familiares na Nazaré e um amor intenso por esta terra. Não havia nada que não justificasse a minha candidatura.
RC > Não teme ser vista apenas como uma “candidata importada” pelo partido?
LL > Outrora também aconteceu e penso que não houve qualquer problema.
RC > A maioria dos elementos das listas não têm experiência política. Pode garantir que há conhecimento dos problemas do concelho?
LL > Consciência temos. Não sei é como vou encontrar a Câmara. É uma questão que estamos a trabalhar no nosso programa. Assim que tomar posse vou requerer uma auditoria independente à Câmara e à empresa municipal [Nazaré Qualifica]. Só depois de tudo averiguado é que vamos ter condições para falarmos mais.
RC > Que medidas específicas tem o Chega para áreas como saúde, habitação ou mobilidade?
LL > Saúde, habitação e mobilidade são as prioridades para o concelho. Na saúde, queremos médicos de família para todos. É dever da Câmara, junto do poder central, encontrar soluções para a falta de médicos de família nos centros de saúde. Queremos também criar uma unidade móvel de saúde, a fim de haver deslocações aos utentes e na assistência aos mais idosos. Na mobilidade, temos as questões da criação de estacionamento, do ordenamento e da recolha do lixo. Não podemos ter a recolha do lixo em pleno dia, causando transtornos aos comerciantes. Além do cheiro nauseabundo às 3 da tarde, com as esplanadas cheias de gente, é uma pouca-vergonha. Na habitação, queremos criar um projeto municipal de oferta de valores acessíveis destinada à população do concelho, com parcerias público-privadas. É um projeto sensível, com pernas para andar. Não há um projeto para que os jovens se fixem. Na coesão territorial do concelho vamos reforçar a rede de transportes entre as freguesias e o concelho. No turismo, queremos fazer um reforço de infraestruturas, de apoio a quem nos visita, e criar um centro de investigação oceanográfico. É preciso tornar a Nazaré um destino turístico e não um destino de passagem turística. Queremos um turismo que crie rentabilidade à Nazaré, com uma maior aposta num marketing digital e reforço da marca da Nazaré em certames internacionais de turismo. As outras linhas gerais incluem rede de apoio a famílias e cuidadores, criação de um fundo de apoio ao comércio local e a requalificação do Porto de Abrigo e Mercado Municipal. Também prevemos mais investimento na cultura. Estamos ainda a elaborar o nosso programa e preferia, quando estivesse pronto, falar mais sobre algumas medidas.
RC > O Chega é, muitas vezes, acusado de dividir em vez de unir. Que garantias pode dar de que, na Nazaré, não vai gerar conflito social em vez de soluções concretas?
LL > Focamo-nos na solução. Com o tempo a população vai perceber que o Chega não é o bicho papão, como realmente pintam. E, sim, o Chega vem para solucionar.
RC > “Com coragem p’la Nazaré” é o slogan da sua candidatura. Coragem para quê? E, se for o caso, contra quem?
LL > Somos um partido jovem e, mesmo assim, as pessoas têm alguma dificuldade em dar a cara. É preciso coragem pela Nazaré, mediante a conjuntura política existente no sistema, que chega a ser intimidatória perante a população.
RC > O Chega fala muito em “limpar” a política. O que isso significa, na prática, para a Nazaré?
LL > Limpar tudo o que está menos bem. Tenho de perceber como a Câmara está, quando tomar posse, para requerer a auditoria. E, realmente, verificarmos o que está menos bem.
RC > Enunciou três bandeiras na apresentação da candidatura: defender tradições, comércio e pescadores. Que medidas concretas tem para cada uma delas?
LL > Como lhe disse, estamos a trabalhar o nosso programa. E preferia deixar mais para a frente a apresentação do programa.
RC > Ainda assim, caso seja eleita, o que fará no primeiro ano de mandato?
LL > Uma das prioridades é o estacionamento. O estacionamento na Nazaré é um caos. Quem visita a Nazaré não pode deixar o carro a 3 quilómetros para conseguir fazer uma refeição a um restaurante, comprar um souvenir, maravilhar-se com a vista da Nazaré. Isso não pode acontecer, tem de ser resolvido no imediato. A questão do saneamento também é uma prioridade. Há bem pouco tempo, a praia ficou interdita duas vezes, que levou mais de uma centena de pessoas às unidades hospitalares. Isto é culpa do sistema instalado, do socialismo e da inércia da Câmara. E quem pagou isto tudo? O povo. Vivemos do comércio e do turismo, estamos em plena época alta, e não houve qualquer tipo de sensibilidade, nem pedido de desculpas pelo executivo.
RC > A vitória do Chega na Nazaré nas eleições legislativas é um bom indício para as autárquicas de 12 de outubro?
LL > Foi um bom barómetro. Temos de perceber que, embora sejam eleições diferentes, há algo que as une. O eleitor que vota por consciência numa eleições legislativas e está insatisfeito, pode ter grandes possibilidades de fazer o mesmo voto nas autárquicas. Porque pouco ou nada mudou, até porque as legislativas foram há bem pouco tempo, para que o eleitor mude a sua opinião repentinamente. Estou todos os dias no terreno, conheço muito bem as pessoas e as pessoas conhecem-me muito bem. Todos dias falam comigo e todos os dias se queixam. Não têm nada a apontar de bom ao executivo. Não há propostas e não há condições para as executar. O povo está realmente revoltado com todas as atitudes nos últimos 12 anos.
RC > Que outras queixas lhe chegam?
LL > A Nazaré tem uma fatura da água caríssima. É ridículo estarmos a ir ao bolso dos nazarenos quando podemos ter outras medidas. Vivemos essencialmente do turismo, podemos controlar os custos e as receitas de uma forma completamente diferente. É um dos problemas que os nazarenos se queixam muito. Não queremos uma Nazaré estagnada. Vive-se muito de três, quatro meses de verão. Estamos a trabalhar num projeto para alterar a sazonalidade. Consolidar a marca internacional das ondas gigantes, criar uma oferta diversificada ao longo do ano, com surf, bodyboard, kitesurf. É preciso criar mais estacionamento e acesso à Praia do Norte. Em sintonia com a APA, criar condições de acomodar os espetadores das ondas gigantes. Ou seja, possivelmente, criar uma bancada. Quando o público se desloca à Praia do Norte para ver o “espetáculo”, está em perigo. Não consigo perceber como o atual executivo não encontra uma solução ao longo de todos estes anos. Não sei como ainda não aconteceu um problema gravíssimo. Tanto a mobilidade e a falta de condições para assistir às ondas gigantes são situações catastróficas. As minorias no concelho, é uma questão que me colocam muito, estão totalmente inseridas na comunidade. Não encontramos qualquer problema aí.
RC > Reconhece que gerir uma Câmara é diferente de fazer campanha parlamentar? Tem equipa para assegurar a gestão da Câmara?
LL > Reconheço que temos capacidades para fazer mais e melhor, garantidamente, do que tem sido feito nas últimas décadas.
RC > Se não vencer a Câmara, admite fazer coligações ou acordos locais?
LL > Garantidamente tenho o meu presidente ao meu lado e é com ele que vamos discutir isso. De momento ainda não falámos sobre isso. Mas, posso garantir que não vamos dificultar absolutamente nada, vamos conversar para chegar a uma solução. Porque o bem das pessoas é o que está à frente do projeto.
RC > É a primeira vez que o Chega vai a votos na Nazaré em autárquicas. O partido veio para ficar no concelho?
LL > É um caminho para continuar e não para estagnar. Por isso, logo à partida, vamos conseguir andar pela Nazaré durante muitos anos.
RC > O que será um bom resultado no próximo dia 12 de outubro?
LL > Ganhar as eleições.
RC > Não é demasiada ambição para uma estreia autárquica na Nazaré?
LL > Até lhe pode chamar ambição, penso que não seja. Como diz o presidente do meu partido, queremos limpar com uma séria de situações que estão instaladas. É esse o caminho. É um projeto que as pessoas merecem da nossa parte. O Chega não tem outra forma de ser, que é pensar na população. É por aí que trabalhamos. Não é uma situação a curto prazo, é uma situação a longo prazo, para ser resolvida.
RC > Como avalia a gestão do PS e do PSD à frente da Câmara da Nazaré nestas décadas?
LL > É uma má gestão. Não encontro motivo nenhum para que o PS consiga de alguma forma tapar o sol com a peneira perante os nazarenos numa governação posterior. É este o executivo socialista que é responsável por uma indemnização à empresa instalada na zona industrial de Valado dos Frades no valor de cerca de 1 milhão de euros. Uma câmara que tem uma situação destas por resolver e que tem a dívida que tem. A má gestão que o PS tem feito está aos olhos de toda a gente. A estagnação da Nazaré é pública. Nada foi feito, nestes últimos anos, para dar melhorias e condições aos nazarenos. E é também este executivo que não tem a capacidade de defender os interesses do município num processo judicial sobre a Pedralva, onde curiosamente o autor é o atual candidato do PSD à Câmara. Quem mais sofre com esta gestão socialista é o povo. Sobre o PSD ainda, importa saber se o candidato Serafim António pretende retirar o processo que tem contra o município, da Pedralva, até ao dia 12 de outubro, ou se alimenta a esperança de ganhar para resolver o processo a seu favor. É uma das questões que queremos perceber até ao dia das eleições.