Focado na habitação acessível, na melhoria dos serviços de saúde e na inovação na mobilidade, o candidato do PS à Câmara de Alcobaça promete trazer uma mudança estruturante ao concelho, após 28 anos de governação do PSD.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > Com a desistência do primeiro candidato e uma crise interna na estrutura local do PS, não teme que passe a mensagem que está a ser “usado” pelo partido quase como uma solução de emergência?
Diogo Ramalho (DR) > Não penso nada disso. A política é muito volátil. Aconteceu uma desistência de Carlos Guerra e a comissão política, em conjunto com a federação distrital, encontrou uma solução para o PS. Seria de temer era se o PS não se apresentasse a eleições. Eu e a minha equipa trabalhámos para que esse cenário nem sequer fosse colocado em cima da mesa. Apresentamo-nos condignamente a eleições, estamos focados em trabalhar e acredito que a nossa mensagem está a passar. Não vejo como uma solução de emergência. Venho de um mandato na Assembleia Municipal, na Assembleia de Freguesia da Maiorga, na Comunidade Intermunicipal do Oeste… já estou no PS há 10 anos. Portanto, apesar de ter 24 anos, tenho a mínima consciência e preparação política e autárquica para me apresentar a eleições.
RC > É o mais jovem candidato de sempre à presidência da Câmara de Alcobaça. Como reage aos que questionam a sua experiência política ou profissional para liderar o município?
DR > O que fizemos foi arranjar uma equipa com diferentes idades, diferentes experiências, ex-autarcas e autarcas atuais, pessoas que têm uma vida sustentada e na qual já deram provas. Há diversidade. Apenas vou eu à frente. O meu trabalho é em equipa e as pessoas vão votar na equipa e não apenas no Diogo. Claro que existe sempre essa crítica porque há o estereótipo de político predefinido. Sabemos que existem questões de género, de idade, presentes na nossa sociedade, mas cabe-nos, e também a mim, com este exemplo que dei, mudar isso. A alteração desses estereótipos começa com este exemplo que o PS está a dar. Quando as pessoas são mais jovens não têm vícios e não estão formatadas para determinado tipo de pensamento. Isto é uma equipa e tem de haver contrapesos. Essa juventude é equilibrada com pessoas que têm mais experiência. Talvez, por ser mais novo, tenha mais abertura para inovar ou arriscar em projetos. O principal investimento será na habitação e, neste caso, a câmara avançar para a construção. Percebemos que o apoio direto aos privados não vai resolver o problema, que o preço de mercado está muito alto, e, portanto, a única solução é a câmara usar recursos próprios para lançar uma empreitada e construir a custos controlados. Em terrenos municipais, porque um dos grandes problemas da inflação do preço da habitação está na pouca disponibilidade de solos urbanos. A câmara tem alguns terrenos municipais, sobretudo na cidade, que pode dedicar a essa construção, e construir a custos controlados significa que os valores estão balizados pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana. Sabemos que conseguimos construir um T1, de 100 metros quadrados, por 150 mil euros. É esse o custo de produção e isso implicaria um investimento anual dos 3,75 milhões de euros e que representam um esforço do orçamento municipal de 6%, que é perfeitamente comportável. Foi uma promessa construir habitação para jovens em 2021. Em setembro de 2025, nem uma máquina temos no terreno para um assunto que se diz prioritário.
RC > Já assumiu funções em várias frentes políticas. Que lições retira dessas experiências?
DR > É uma pergunta interessante, porque tive diferentes experiências. Tive uma visão 360º porque na Assembleia de Freguesia da Maiorga pertencia à bancada do poder e sei o que é apoiar um executivo. Na Assembleia Municipal estive na oposição e também fiz o esforço de fazer críticas construtivas, apontar o que estava mal, mas também o caminho, estando em minoria. Na OesteCim, os diversos partidos unem-se para apoiar políticas que necessitam de escala, como a de transportes intermunicipal ou de saúde. Foram quatro anos muito ricos.
RC > O PS apresenta-se a votos com uma lista totalmente renovada nos primeiros lugares. Que PS está a ser representado por esta equipa?
DR > O PS que tem experiência. Temos três juntas com pessoas em que o PS confiou e em que os fregueses confiaram. Freguesias que historicamente nem eram afetas ao PS, mas que conseguiram ter uma primeira confiança, com uma diferença muito pequena num primeiro mandato, e que depois demonstraram bom trabalho e reforçaram sucessivamente a votação. É um PS em quem as pessoas do concelho de Alcobaça conseguiram confiar e é por aí que vamos. Já confiaram em nós nas juntas, esperemos que confiem em nós para a câmara. Já provámos que somos capazes pelo trabalho que fazemos nas três juntas que temos e nos 12 anos de mandato que o PS já esteve à frente da Câmara de Alcobaça, em que fez habitação, o MercoAlcobaça, saneamento, implementou um bom regime de recolha de resíduos sólidos urbanos. É com essa perspetiva de desenvolvimento que o PS se apresenta a eleições.
RC > Quando o PS considera necessário ter “coragem para mudar”, a coragem é sua, da equipa ou dos eleitores?
DR > É minha, da equipa, e, sobretudo, dos eleitores. A coragem tem de estar nos eleitores depois de 28 anos de PSD e com o peso que isso tem. Que tenham a coragem de fazer a cruz no símbolo no PS, porque nestes 28 anos de PSD houve três presidentes de câmara. Tivemos um que investiu alguma coisa no concelho, com certeza, mas endividou muito a câmara. Paulo Inácio, que veio a seguir, teve imensos problemas financeiros, inclusivamente, a Câmara teve de ser resgatada. E, depois, Hermínio Rodrigues, que em quatro anos, o que fez foi procurar acabar de resolver problemas que o próprio PSD acrescentou ao território, negligenciando a resolução dos problemas estruturais. Para nos concentramos nos problemas dos centros escolares, dos armazéns Raimundo & Maia, e da revisão do Plano Diretor Municipal (PDM), ficou pouco tempo para investirmos em políticas estruturantes.
RC > Em 2021, o candidato do PS, Carlos Guerra, dizia, em entrevista ao RC, que “o PSD gozava do estado de graça que o PS lhe deu”. O que tem falhado?
DR > Tem existido alguma desorganização interna do PS e, muitas vezes, faz com que as pessoas não consigam confiar no partido. E são muitos anos de PSD. Começam a criar-se vícios e tem-nos prejudicado. É óbvio que o PS tem culpas, não as negligencio, mas qual foi a perspetiva de desenvolvimento que o PSD deu ao concelho de Alcobaça? O investimento que hoje não se faz, alguém vai pagar. Pagámos agora quase 20 milhões pela Cister – Equipamentos Educativos S.A e esses três equipamentos não custaram isso a construir. Teve de se retirar muito dinheiro aos orçamentos municipais para agora pagar essa fatura. Esse desinvestimento aconteceu e pagámos sucessivamente por determinadas megalomanias, nomeadamente financeiras, que prejudicaram o bem estar e o dia a dia do cidadão comum.
RC > Afirmou querer por um “ponto final” num ciclo de governação cristalizado. Que erros estruturais houve e que prioridades elenca?
DR > A habitação. Tem de haver um reforço do teto a alocar ao apoio à renda. Se a iniciativa privada souber que a câmara está disposta a apoiar a renda dentro de determinados valores, fará com que seja uma política continuada, criando a confiança de que a câmara vai subsidiar essa habitação e levando a que as pessoas reabilitem os imóveis e os coloquem no mercado. Temos um serviço de urgência que não serve o concelho porque estamos dependentes de uma empresa privada para prestação dos serviços de análises clínicas. A construção ou funcionamento de um laboratório 24/7 melhoraria a qualidade assistencial do nosso hospital. A implementação do projeto “Bata Branca”, não sobrecarregando os serviços de urgência. Na mobilidade, a rede da chita surgiu como uma ideia inovadora, mas pouco cresceu em 20 anos. Precisamos de quatro linhas, com autocarros mais pequenos, mas que permitam fazer percursos circulares, dentro das pequenas localidades e que convergem em Pataias, em Alcobaça, na Benedita e em São Martinho do Porto. O município tem falhado no apoio a estas populações. Na economia, tivemos o lançamento da Aleb, mas precisamos de emprego que consiga fixar jovens. A proposta é patrocinar, em parceria com as empresas, um centro de serviços partilhados, que seria um banco de recursos em diversas áreas que pudesse apoiar as empresas, partilhando custos. Há também uma área digital, que falta no concelho e é uma tentativa de atrair os jovens que não encontram solução cá. Na educação, a qualidade das refeições escolares. Com o preço que é pago, não é possível prestar uma alimentação condigna, com proteína, verdes e hidratos de carbono de forma equilibrada. A nível de infraestruturas, existe o projeto, que reconheço, de tentar trazer cursos superiores profissionais para a Epadrc. Será um projeto para continuar, mas não existe mercado de arrendamento para estudantes porque não existe essa necessidade. No entanto, vamos precisar de uma residência universitária. Temos de olhar para a Escola D. Pedro I e para a Escola Frei António Brandão, que necessitam de intervenções de fundo, assim como a implementação de um projeto educativo local. A água e saneamento também são prioridades, uma vez que continuamos com 80% de cobertura do território. O investimento que existe não é na expansão da rede. Na governação, tenho o projeto “à conversa com as freguesias”, em que o executivo visita as freguesias e dialoga sobre os projetos. Ao nível da infraestrutura rodoviária temos localidades que estão completamente esquecidas. Os meios digitais também envolvem mais as pessoas. Um portal para a transparência municipal é importante. Depois, a dinamização de um aplicação, que pode ser reforçada, em que as pessoas possam reportar problemas.
RC > O presidente da Junta da Maiorga, eleito pelo PS, vai a votos como independente. Como justifica esta fragilidade na sua própria freguesia?
DR > A Maiorga sempre foi do PS, mas relativamente à decisão, tem o meu apoio, pessoal e político, mas é uma pergunta que terá de lhe fazer a ele.
RC > Em entrevista ao REGIÃO DE CISTER, Hermínio Rodrigues dizia que havia apenas dois candidatos à câmara e que os restantes eram candidatos a vereadores. É candidato a presidente ou a vereador?
DR > Foi um exercício de enorme prepotência. Hermínio Rodrigues tem de se lembrar que foi numa lista com apenas 27 anos e pergunto qual era o currículo que tinha. Com 24 anos, já pertenço há dez anos ao PS, fui eleito para a Assembleia Municipal, para a Assembleia de Freguesia da Maiorga, sou eleito da OesteCIM, já fiz parte da Juventude Socialista. Licenciei-me e estou a terminar o mestrado. Trabalhei em auditoria de empresas. Sou quadro da função pública há um ano e meio. Tenho um percurso que, apesar da jovem idade, pode corresponder às expectativas do eleitor e posso fazer um bom trabalho. Só tenho de condenar essas palavras. Eu e a minha equipa somos candidatos à Câmara de Alcobaça e eu, como n.º 1, sou candidato à presidência da Câmara nos termos da lei.