Quinta-feira, Abril 18, 2024
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As pandemias do passado

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Diz a sabedoria popular que a história se repete. Há mais de um século, a gripe espanhola infetava um quarto da população mundial e deixava um rasto de mortos. Um século depois, o mundo vive a segunda pandemia, após a Gripe A em 2009, com a disseminação do novo coronavírus por todo o globo. Será que podemos aprender com os erros e as vitórias do passado e, deste modo, tentar antever alguns comportamentos da Covid-19? 

Diz a sabedoria popular que a história se repete. Há mais de um século, a gripe espanhola infetava um quarto da população mundial e deixava um rasto de mortos. Um século depois, o mundo vive a segunda pandemia, após a Gripe A em 2009, com a disseminação do novo coronavírus por todo o globo. Será que podemos aprender com os erros e as vitórias do passado e, deste modo, tentar antever alguns comportamentos da Covid-19? 

As semelhanças entre aquelas que são descritas como as duas maiores pandemias da história da sociedade moderna são cada vez mais notórias. O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, comparou recentemente a pandemia de Covid-19 à “gripe espanhola”, mas reiterou que um “desastre” idêntico pode ser evitado. De acordo com os registos mundiais, em 1918, em plena Primeira Guerra Mundial, morreram mais pessoas vítimas do vírus do que em combate. Na região, o cenário acompanhou a tendência global.  

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Segundo dados históricos, cerca de uma década antes do início da pandemia de gripe espanhola, a média de morte no concelho de Alcobaça era de 300 por ano. No ano de 1911, havia a lamentar 338 óbitos, mas o número quase duplicou em 1917 (665 óbitos). No ano de 1918, as fatalidades quase que triplicaram no concelho, tendo sido registadas mais de 1.200. A justificação deste aumento exponencial pode estar relacionada com uma segunda vaga da pneumónica, que provocou mais mortes que a primeira.

De acordo com os especialistas, apesar de ter tido impacto durante dois anos, a pneumónica foi especialmente feroz na segunda vaga, três meses durante o outono do mesmo ano, no qual ainda se registava um grande fluxo de circulação de tropas devido ao conflito mundial.

Tal como durante a pandemia de Covid-19, também a gripe espanhola obrigou à alteração de comportamentos um pouco por todo o mundo. “Tussa ou espirre para um lenço”, “evite os ajuntamentos”, “não cuspa para o chão”, “não partilhe copos ou guardanapos”, “evite cansar-se excessivamente” e “se contrair a doença, fique na cama e contacte o seu médico” eram algumas das indicações que vigoravam nos pósteres afixados pelas cidades.

O combate à doença passou também pelo encerramento de escolas, a proibição de feiras e romarias. Para assistir os doentes foram requisitadas dezenas de espaços públicos, que passaram a funcionar com enfermarias, mas o número de vítimas era tão grande que ao longo de várias semanas se viveu uma situação de caos.

Os relatos da época revelam que as medidas foram cumpridas pela população durante algum tempo, mas a vontade de regressar à rotina motivou o decretar de um “desconfinamento”, que se revelou demasiado precoce. Os meses de novembro e dezembro, com a realização de festividades religiosas um pouco por todo o País, refletiram-se no aumento de fatalidades. A nova composição da gripe espanhola na segunda vaga permitiu que fosse mais letal não só para os idosos, mas também para os jovens e adultos saudáveis.

Um século depois, o mundo enfrenta um inimigo muito semelhante. Com as medidas de desconfinamento gradual, a possibilidade de uma segunda vaga, mais severa, é um dos maiores receios da Direção-Geral de Saúde. A autoridade acredita que até à disponibilização de uma vacina, haverá “novas ondas, ou, pequenos surtos epidémicos que serão contidos”. 

Ao REGIÃO DE CISTER, o historiador Saul António Gomes recorda que a região já enfrentou várias outras pandemias ao longo dos séculos, que se demonstraram desafiantes para os meios tecnológicos da época, mas não impossíveis de ultrapassar. “A epidemia da modorra, de 1521, que preocupou os monges alcobacenses foi apenas uma de muitas outras epidemias que ao longo dos séculos atingiram a região. Guerras e epidemias haviam-se tornado em verdadeiros pesadelos para a sociedade medieval e assim continuariam por muitos séculos”, recorda.

O historiador afirma que entre todas as pandemias, a que mais afetou a comunidade de Alcobaça, foi a Peste Negra de 1348. “Também a Gripe Espanhola, em 1917-1918, ceifou muitas vidas em Portugal, como ao longo do século XIX, epidemias de cólera, tifo, gripe e varíola devassaram o país”, nota Saul António Gomes, sublinhando que aos ciclos epidémicos juntava-se o “conjunto de endemias das populações da região de Alcobaça e Porto de Mós como a lepra e a tuberculose, doenças estas que chegaram aos nossos dias”. 

Ao longo dos anos, os habitantes tiveram de aprimorar as “receitas e mezinhas para curar maleitas, febres e males de pestes”, que, de tempos em tempos, provocavam o pânico na comunidade. “Eram também conhecidas, dos ‘médicos’ desses tempos, as medidas do isolamento profilático e quarentenas, como forma de salvar vidas, entre outras técnicas que passavam por cordões sanitários no entorno das localidades e, ainda, a purificação dos ares pelo fogo”, conta.

Também as pandemias anteriores provocaram o colapso do sistema de saúde de diversos países, mortes em diferentes faixas etárias e colocaram em estado de calamidade a economia mundial. Perante um novo inimigo, a Covid-19, sobre o qual se aprende diariamente, os especialistas acreditam que os governantes e profissionais de saúde podem recolher alguns ensinamentos da história e, deste modo, não cometer os mesmos erros.

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