Outro dia, apeteceu-me.
Telefonei a uma pessoa que conheço e combinei com ela. Fui às compras e depois fui lá ter. Ali, nas traseiras do Mosteiro, sobre o olhar altivo e novo-limpo de D. Afonso Henriques, liguei outra vez e disse-lhe: estou à porta. Ela estava lá dentro, mas veio a mãe abrir. Passou-me dois sacos, paguei em dinheiro e meti tudo no carro para, como bom e obediente alcobacense, voltar a casa e confinar-me devidamente.
Antes de esta troca acontecer, dei uma voltinha de carro por Alcobaça: cidade-fantasma (ainda mais); estaleiro de mil e uma obras adiadas, meia-dúzia de pessoas na rua, cafés semi-fechados, mas máquinas de café automático abertas com mil dedadas e quem sabe, covid aos molhos. Um retrato de um país cujos decisores não sabem gerir, nem comunicar, nem dar o exemplo. Um país à beira do colapso, cheio de medo, culpa e respeitinho, à portuguesa. Uma Alcobaça sem presente, e, quem sabe, sem futuro.
Ah! Antes que me esqueça: não consumo drogas.
Era só uma metáfora para ter a vossa atenção.
Fui sim mas ao Restaurante Trindade, telefonei à Carla e as doses eram de arroz de peixe, frango na púcara e arroz doce, feito pela Dona Zé. Amor, dedicação, tradição servida em barro.
Fui comprar comida, mas vim de lá com a impressão de que teria sido mais fácil ter ido comprar droga.
Texto escrito a 8 de março, antes das novas regras de desconfinamento