Há momentos em que temos de fechar os olhos para entrarmos em mundos diferentes. Hoje [dia 12, quinta-feira] não foi preciso, ainda que, por momentos, os olhos se fechassem por emoção. Rodeio-me de pessoas especiais. Tão especiais que em breve voltarei para acompanhá-las em mais uma hora de alegria, boa-disposição e troca de sentimentos puros. Ouvem-se Sons Com(n)Sentidos!
Há momentos em que temos de fechar os olhos para entrarmos em mundos diferentes. Hoje [dia 12, quinta-feira] não foi preciso, ainda que, por momentos, os olhos se fechassem por emoção. Rodeio-me de pessoas especiais. Tão especiais que em breve voltarei para acompanhá-las em mais uma hora de alegria, boa-disposição e troca de sentimentos puros. Ouvem-se Sons Com(n)Sentidos!
As personagens desta minha história são utentes de Porto de Mós da Cercilei. Falo da Cristina, do João Bela, do João Baptista e do Bruno. Os olhos brilham ao som de cada nota musical, as palavras constroem poemas e saem livremente, sempre que o desejam.
Numa das salas da Academia de Música de Alcobaça (AMA) acontece magia duas vezes por semana, com estes jovens adultos. Os ‘rituais’ são vividos por todos.
Dadas as boas vindas, é momento de tranquilizar deitados no chão, de baixo do piano, que Dalila Vicente, coordenadora da Área de Projetos Especiais da AMA, conduz com mestria. Ali uma outra lágrima solta-se, bem como sorrisos. Ao som de três músicas, de olhos abertos ou fechados, imaginam-se cenários. “Senti meninos a saltar na relva, a brincar no baloiço e a jogar ao pião”, diz o Bruno, o poeta do grupo. Já a Cristina, que gosta de elásticos para o cabelo, sentiu-se “feliz”.
Quase em vésperas do Dia dos Namorados, fala-se de amor. O amor de João Baptista pela Cristina é tão carinhoso. A sua mão ‘envergonhada’ procura a da menina de trança, enquanto a cabeça desliza até ao seu ombro. Ficam assim durante vários segundos, mostrando a felicidade que os envolve.
Amor. João Bela, que usa uma camisa em flanela, diz que amor é “carinho, felicidade, beijos na boca, dança e tocar viola”. Tocar viola porque prepara-se para uma serenata que vai fazer à sua Suzélia.
O nosso poeta, que tem um sorriso do tamanho do mundo, diz que amor é uma “história de encantar” e “ficar apaixonado”.
A paixão surge também no momento em que Dalila Vicente se aproxima com o violoncelo, o instrumento que o Bruno mais gosta. Faz-se música e silêncio. Se no início o poeta não deixou fluir os movimentos, no final “tocou” uma bela melodia.
É ao som de Augusto Canário que acontece um pezinho de dança na sala da Academia de Música. Dalila Vicente e Cláudia Gomes, técnica de Educação Especial da Cercilei, também não resistem. Aproveito para tirar fotografias. Já José Eduardo Reis de Oliveira, contador de histórias alcobacense que acompanha também a sessão, bate palmas ao ritmo da música. O CD é de João Belo, pertencia ao seu pai, que faleceu há cinco anos e tocava acordeão. “Não o queria trazer porque não o quero estragar”, afirma o jovem de camisa de flanela.
A música é uma feliz terapia. É chegado o momento de atuar a solo e acompanhados no piano, João Bela envolve, com a sua performance, todos os presentes, digna de quem imprime música através da alma. Emocionada, Dalila Vicente diz: “Sabes João, tenho tanto orgulho em ti. Cada dia que passa tenho mais. Que bonito momento nos proporcionaste!”.
A carrinha da Cercilei já está estacionada à porta. Antes da partida, chega o momento dos conselhos, dos beijinhos e das despedidas. Saem felizes e conscientes que na próxima semana a professora Dalila os envolverá novamente com carinho e um enorme sorriso, lembrando que a música é a perfeita aliada de todos os dias.
A história ‘Música com gente especial’ só fica completa se lhe juntar os nomes do Renato, Ana Filipa, Miguel, António, David e Carina, os jovens adultos que compõem a outra ‘turma’ da Cercilei, que visitam semanalmente Alcobaça. Agora, sim, a história está completa!