Chegado o verão, chegam também as festas e as romarias que nos reúnem enquanto conterrâneos. Juntamo-nos à volta de lugares, de sabores, de histórias partilhadas, de símbolos e de tradições.
Na construção da identidade coletiva de um lugar, as festas da terra são talvez as celebrações que melhor reforçam os nossos laços afetivos.
Além dos rituais religiosos, numa festa portuguesa, tem de haver música, comes e bebes e o inevitável mercadinho. Em conjunto, estes elementos parecem concorrer para a plenitude do folguedo e para que cada terra exiba, com orgulho e com brio, o que a distingue das demais.
Pelo menos assim era, antigamente… Agora as festas da vila, da aldeia e da cidade confundem-se e confundem-nos. São todas iguais, graças, sobretudo, às malfadadas barracas.
Há barracas para os cachorros quentes, barracas psicadélicas para as inevitáveis farturas, barracas para a música estridente. E, piores do que todas estas, há barracas, dezenas de barracas de inutilidades com cheiro a cola e a plástico que vendem de tudo, desde capas de telemóvel feitas na China a bugigangas de uso indefinido.
Seja qual for a povoação, este enxame de barracas feias e idênticas parece invadir o recinto da festa e tomar conta dela, embora todos saibamos que isto só acontece com a conivência de quem as organiza e a indiferença de quem as assiste.
Com festas assim, já não podemos dizer que nos reunimos na nossa terra, nem ninguém se identifica com os seus valores nem as suas tradições. No meio do inferno das barracas, pode estar-se em São Martinho do Porto, na Nazaré ou em Turquel, que o cenário e a origem do cheiro a óleo queimado e da música infernal são sempre os mesmos.
Como gostaria que enviássemos as barracas para as feiras e, no lugar delas, colocássemos as bancas com o que é nosso e nos recorda o que temos em comum. Seja a memória dos sabores, seja dos cheiros ou dos sons. E que ao invés dos conjuntos ensurdecedores, deixássemos soar no coreto as nossas bandas filarmónicas e trocássemos os churros gordurosos pelas brindeiras de forno a lenha.
Assim não celebramos nada, não nos identificamos com nada, nem nos orgulhamos de coisa nenhuma.
Ou seja, cada festa é uma grande barraca!