Há menos pessoas a recorrer às cantinas sociais do concelho de Alcobaça.
Há menos pessoas a recorrer às cantinas sociais do concelho de Alcobaça. Segundo dados recolhidos pelo REGIÃO DE CISTER, as três cantinas servem, atualmente, menos 80 refeições diárias do que em 2012, quando três instituições de solidariedade social (IPSS) do concelho assinaram protocolos com o Instituto da Segurança Social para fornecimento de refeições a pessoas carenciadas.
De resto, o número de refeições servidas pelas Misericórdias de Alcobaça e Benedita e Associação de Bem Estar e Ocupação de Tempos Livres de Pataias (ABEOTLP) tem vindo a baixar de forma consistente desde que as cantinas sociais foram implementadas no concelho, ao abrigo do Programa de Emergência Alimentar da Convenção da Rede Solidária de Cantinas Sociais. Em 2014, o número de utentes beneficiários deste serviço de ação social fixou-se nos 210 por dia, número que baixou, no passado mês de julho, para 160.
O decréscimo de quase 25% no número de refeições servidas pelas cantinas sociais, nos últimos quatro anos, parece dar conta de melhoria nos rendimentos das famílias. Pelo menos no que diz respeito à sua “sustentabilidade” ao nível da alimentação
Das três IPSS em causa, a Misericórdia de Alcobaça é a única que não regista uma variação acentuada no número de refeições servidas. Segundo João Carreira, provedor da instituição, o apoio social tem-se estabelecido, ao longo dos últimos anos, “sempre à volta das 100 refeições diárias”. Na Benedita, servem-se atualmente 50 refeições, enquanto em Pataias o número fixa-se nas 10 diárias. Também o Banco Alimentar do Oeste tem notado uma diminuição no número de beneficiários: no concelho de Alcobaça a instituição apoiou, este mês, 1.333 pessoas, de 519 agregados familiares, face às 1.386 pessoas, de 558 agregados, apoiados em outubro do ano passado.
Na semana passada, a Fundação Francisco Manuel dos Santos publica o estudo “Portugal Desigual”, no qual dá conta de que, em média, as famílias portuguesas perderam cerca de 116 euros no rendimento mensal entre 2009 e 2014. Na sequência do estudo, o REGIÃO DE CISTER foi tentar perceber, junto das IPSS, como os agregados familiares da região fizeram face – e continuam a fazer – a um período em que se verificaram graves carências económicas.
Apesar de os números de refeições servidas terem vindo a baixar, nenhuma das três instituições referidas apresenta, neste momento, qualquer lista de espera. Ou seja, todas as pessoas que pedem ajuda alimentar às IPSS conseguem ver supridas as suas necessidades alimentares de primeira instância. Este facto tranquiliza os órgãos sociais das respetivas instituições. Rafaela Santos, educadora social da Santa Casa da Misericórdia da Benedita, afirma que as refeições servidas são “suficientes” para ajudar todos os que pedem ajuda, acrescentando que tem “sentido melhorias” nas condições de vida das populações.
O decréscimo de quase 25% no número de refeições servidas pelas cantinas sociais parece dar conta de melhoria nos rendimentos das famílias, pelo menos no que toca à sua sustentabilidade ao nível da alimentação. A economia foi dando, ao longo dos últimos meses, sinais sucessivos de recuperação, ao mesmo tempo que o número de desempregados foi diminuindo no País e na região.
“O pior já passou”, diz o Governo. Elsa Simões, responsável pela área de Ação Social da Câmara de Alcobaça, concorda com a afirmação, defendendo que cada vez menos pessoas procuram a ajuda da autarquia para fazer face às debilidades económicas. “As pessoas estão mais felizes e a situação não está tão aflitiva” como estava “no início da crise”, garante Elsa Simões. Aquela responsável avança que a autarquia está a preparar um “regulamento municipal de Ação Social” para aumentar as garantias prestadas aos munícipes. O esboço do documento prevê que os beneficiários das cantinas sociais possam, também, usufruir de apoios no pagamento de rendas próprias e medicamentos, segundo as informações prestadas por Elsa Simões.
Os responsáveis pelas IPSS auscultadas pelo REGIÃO DE CISTER têm dificuldades em “pintar” o quadro do beneficiário-tipo. “Recebemos todo o tipo de pessoas”, adianta João Carreira, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça. “Homens e mulheres, mais novos e até mais velhos”, e sem esquecer as “crianças”. A situação é semelhante nas restantes instituições, que afirmam ajudar pessoas de todas as idades que, por alguma razão, perderam o emprego. Há, porventura, um dado curioso: na Misericórdia de Alcobaça, João Carreira tem notado que a média de idades na cantina social tem vindo a baixar e regista, apesar da disparidade de idades entre os beneficiários, “cada vez mais jovens” a beneficiar daquele serviço de ação social. Um sinal preocupante.
A “falta de emprego” e as “pensões baixas” são a causa número 1 apontada pelas instituições para a necessidade que os utentes sentem em usufruir das cantinas sociais. De acordo com os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional, o desemprego em Alcobaça aumentou 6,7% no primeiro semestre do ano, face ao mesmo período de 2015. Em sentido contrário tem variado o número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção: de 899 em 2011 para 553, em 2014, segundos os últimos dados disponíveis no observatório municipal da Câmara de Alcobaça.
João Carreira acredita que, apesar da diminuição registada nos apoios prestados pelas cantinas sociais do concelho, a resposta das instituições tem vindo a aumentar, o que é mais um sinal contraditório. Esta tendência, que é de dimensão “nacional”, tem sido, em Alcobaça, alvo de uma “grande cobertura” de apoio por parte de instituições que empregam centenas de funcionários para apoiar os que mais precisam. Por quanto tempo, o futuro dirá.