O setor do calçado e da marroquinaria é um dos mais competitivos a nível nacional e um “campeão” no que toca às exportações, quebrando recordes sucessivos. Razões de sobra para que os responsáveis do setor acreditem que o caminho já percorrido vai continuar a dar frutos nos próximos anos. O Estado tem procurado estar ao lado dos agentes económicos, valorizando os números e o crescimento de um setor que se tem vindo a afirmar interna e externamente como a “indústria mais sexy da Europa”.
O setor do calçado e da marroquinaria é um dos mais competitivos a nível nacional e um “campeão” no que toca às exportações, quebrando recordes sucessivos. Razões de sobra para que os responsáveis do setor acreditem que o caminho já percorrido vai continuar a dar frutos nos próximos anos. O Estado tem procurado estar ao lado dos agentes económicos, valorizando os números e o crescimento de um setor que se tem vindo a afirmar interna e externamente como a “indústria mais sexy da Europa”.
Em representação do ministro da Economia, que não pôde marcar presença na conferência pública nas instalações da Jomarpi, Miguel Sá Pinto, administrador do IAPMEI (Agência para a Competitividade e Inovação), confirmou o que muitos já suspeitavam: este ano o setor quebrou o sétimo recorde consecutivo nas exportações. As empresas de calçado e marroquinaria exportam qualquer coisa como 70 milhões de pares de sapatos, que valem cerca de 2 mil milhões para a economia nacional. Estes números impressionantes devem-se, no entender de Miguel Sá Pinto, ao “esforço e inovação” dos empresários do setor.
Nos primeiros nove meses do ano registou-se um aumento de 3,7% nas exportações em relação ao período homólogo do ano passado, o que confirma que quem se dedica a este setor soube resistir a vários períodos de crise e sair reforçado da fase adversa que afetou esta indústria na viragem do milénio.
“Com um quadro competitivo muito exigente, os empresários conseguiram formular estratégias de antecipação e diferenciação em vez de estratégias de reação aos estímulos de mercado”, defendeu dirigente do IAPMEI. As empresas de calçado e marroquinaria “souberam enfatizar a qualidade de novos métodos de gestão, estratégias de cooperação e internacionalização” sem esquecendo as “preocupações ambientais”, defendeu Miguel Sá Pinto. Por isso, o dirigente confessou ser “um gosto” poder estar numa fábrica em contexto real, no âmbito de uma iniciativa “tão importante e interessante” como o “Made In Cister”, produto editorial do REGIÃO DE CISTER. “Estes fóruns de discussão são muito importantes para trocar impressões. São um ponto de encontro de reflexão de um setor que tem tido um desempenho notável”, acrescentou o administrador do IAPMEI, mostrando-se “orgulhoso” em relação ao setor do calçado e da marroquinaria.
Desafio é criar valor acrescentado
Eduardo Costa, diretor da Academia de Design e Calçado, defendeu, durante a sua apresentação no âmbito da conferência Made In Cister Calçado e Marroquinaria, que é através da “diferenciação” que as empresas conseguem “criar valor acrescentado ao seu produto”. O empresário foi mais além, referindo que só assim se consegue combater a concorrência de países “que oferecem produtos com custo de venda e produção muito baixo”, como é o caso da China, Índia ou Vietname.
Na base da diferenciação, considera Eduardo Costa, tem de estar o design. “Temos de apresentar design inovador e diferenciado, acompanhar as tendências e analisar os mercados e os seus nichos”, acrescenta o conferencista. Este é o “caminho” que as empresas portuguesas têm trilhado ao longo dos últimos anos. Segundo Eduardo Costa, o calçado português é o segundo a nível mundial que tem maior preço de venda, só a seguir ao mercado italiano, que tem um preço, em média, 40% superior ao nacional. “Se não conseguimos competir com os baixos custos de produção temos de acrescentar valor e inovação aos nossos produtos”, argumenta o responsável pela Academia de Design e Calçado, polo de formação profissional na área do calçado, situado em São João da Madeira. No entanto, este caminho dá “muito trabalho”. Mas é um caminho que tem de ser trilhado para que as empresas de calçado e de marroquinaria da região e do País continuem a dar cartas nos mercados de nicho internacionais.
Por sua vez, Pedro Olaio, o responsável pela criação e desenvolvimento da marca Labuta, considerou a Benedita “o parente pobre do calçado”, tendo em conta que “toda a gente fala da produção de Felgueiras e de São João da Madeira”. Apesar disso, o leiriense frisa que escolheu trabalhar com uma empresa da Benedita – a Rafaela Silva – por entender que “é o melhor local para uma produção artesanal de vincada qualidade”.
O rosto daquela marca, que já se sente um filho da Benedita, lamenta que o “reconhecimento mundial seja ainda difícil”, mas acredita que o design e a qualidade podem fazer a diferença. Questionado pela assistência sobre a capacidade dos italianos venderem o calçado a um preço superior, Pedro Olaio assumiu: “Tenho muito orgulho de ser português e todos devemos ter orgulho nas nossas raízes. Temos de ser os melhores naquilo a que nos propomos fazer”, agradecendo aos profissionais do setor da Benedita pelo sucesso da marca e notando: “Temos de ser capazes de vender o nosso produto como acontece com o Made in Italy. O Made in Portugal tem de evoluir nesse sentido. Podia ter feito como eles e criar uma Labutini… Teria mais margem, mas sou português e criei a Labuta, com muito orgulho”.
Já Amílcar Pimenta, “anfitrião” da iniciativa do semanário dos concelhos de Alcobaça e Nazaré, vai ao encontro da opinião de Eduardo Costa. “É imprescindível as empresas terem uma relação com o design para ficarem no patamar mais alto”, defendeu um dos administradores da Jomarpi. O empresário abordou, ainda, a ligação dos clientes com as fábricas: “hoje a relação entre produtores e compradores mudou radicalmente, atualmente 60% dos clientes vêm diretamente à fábrica”.
A tradição do calçado na Benedita ultrapassa várias gerações. O caso de Amílcar Pimenta não é diferente. Contudo, se foi com o seu avô que a empresa nasceu, foi sob a gerência do seu pai que a qualidade dos produtos chegou fora de portas, com a idealização de uma estratégia de internacionalização há já três décadas. Os resultados começam a estar à vista na Jomarpi e em todo um setor que quer continuar a “caminhar” um trilho de sucesso.