O objetivo era oferecer aos meus filhos uma das mais impressivas memórias do Natal da minha infância: o cheiro a musgo acabado de colher nos maroiços perto do mato ou nas raízes expostas das velhas oliveiras.
Queria oferecer-lhes também o prazer de construir a cabana, a ponte e o celeiro onde nasceu o Menino.
Por isso organizámos uma tarde dedicada à construção do presépio. Curiosamente, para eles, nenhum destes elementos tem cheiro. Tudo se compra. Tudo está embalado e higienizado.
Por isso mesmo, desta vez só comprei as figurinhas. Não são exatamente iguais às da minha infância, porque a cerâmica pintada à mão, que guardava em caixas de sapatos no sótão da minha avó, há muito se perdeu. Pelo que deitámos mãos à obra. Serrotes, pregos, pequenos troncos de madeira e musgo. Muito musgo para tapar as imperfeições da madeira.
Quem me ajudou foi o meu pai. Os meus filhos ficaram atrapalhados e divertidos ao perceberem o entusiasmo da mãe e do avô. Foram mais espectadores do que construtores. Toda esta experiência é anacrónica, já não é este o mundo que habitam.
Não, não lhes consegui transmitir o que sentia quando me perdia, tardes inteiras, mato a dentro, com a minha amiga Luísa à procura de pedrinhas e de musgo e de azevinho, nem consegui explicar-lhes que mais do que o presépio acabado, que depois comparávamos com os dos vizinhos, era importante o processo de construção e de reconhecimento da natureza.
Mas talvez tenha conseguido outra coisa. Talvez as mãos enormes e hábeis do avô, empenhado em acertar na esquadria da madeira para a construção do estábulo. Talvez a paciência da avó Maria a ensinar como se fazem feixes de palha em miniatura, lhes tragam uma outra imagem. A do carpinteiro e de Maria a ensinarem como se protege, como se edifica e como se cuida.
Queria oferecer o cheiro a musgo aos meus filhos, acabei o dia com a sensação de lhes ter ensinado como se constrói um lar.