Não creio que ninguém fique indiferente a este cíclico recomeço, que é a época do regresso às aulas. A maioria não vai voltar a pegar num caderno porque já há muito tempo abandonou a escola e muitos nem sequer têm filhos, ou netos, ou sobrinhos que lhes tragam à casa e à memória a rotina que antes foi a sua. No entanto, este regresso é de todos.
Como se de um círculo virtuoso se tratasse, a novidade e a expectativa dos estudantes e dos professores estende-se à nossa vida colectiva e todos nos organizamos para o recomeço. De alguma maneira, esta época reconforta-nos. Vivemos ou revivemos a esperança de crescimento, de melhoria e de aprendizagem. Por estes dias, todos acreditamos que seremos melhores, mais esclarecidos, porque vem aí a escola e com ela a partilha de conhecimentos. Depois da interrupção, a vida retoma o seu curso e agora é tempo de evoluir.
Este ano, o ritual é talvez mais simbólico do que nunca. Sem que nada o fizesse prever, o ciclo anterior foi interrompido cedo demais e a cadência circular do tempo foi deformada. Tivemos de nos adaptar a viver com as crianças e os jovens em casa, no espaço virtual, sem o cheiro dos lápis de cor e sem mochilas a povoar as ruas e os parques. Deixámos de ouvir as rodinhas dos tróleis na rua e a algazarra das visitas de estudo. O silêncio tomou conta das nossas vidas, dos nossos bairros e suspendemos o tempo, à espera da rotina que nos reconforta e nos dá segurança.
É ainda uma segurança frágil, continuamos a sentir o desconforto da dúvida e do medo mas, caramba, celebremos o regresso às aulas com a mesma esperança que antes nos preparávamos para entrar pela primeira vez no recinto da nova escola. Porque sim, porque desta vez não são só os estudantes que são convocados a reaprender a viver. Boa sorte!