É a meta que todos desejam alcançar, mas o “segredo” continua guardado a sete chaves. Viver até aos 100 anos, com saúde, é um desafio cada vez maior na sociedade moderna, mas há quem encare com “naturalidade”. Nas Instituições Particulares de Solidariedade Social da região existem, pelo menos, nove utentes com o título de “centenários”, na sua maioria mulheres. A vida depois dos 100 é tranquila e cheia de razões para celebrar.
É a meta que todos desejam alcançar, mas o “segredo” continua guardado a sete chaves. Viver até aos 100 anos, com saúde, é um desafio cada vez maior na sociedade moderna, mas há quem encare com “naturalidade”. Nas Instituições Particulares de Solidariedade Social da região existem, pelo menos, nove utentes com o título de “centenários”, na sua maioria mulheres. A vida depois dos 100 é tranquila e cheia de razões para celebrar.
Maria Raquel de Almeida Guerra (na fotografia) celebrou 106 anos no passado mês de agosto. A centenária é a utente mais “idosa” da Santa Casa da Misericórdia da Benedita e, muito provavelmente, de todas as IPSS da região. Conhecida como “menina Mariazinha” na vila onde nasceu e viveu, viu ser criada num espaço da sua habitação a Misericórdia que adotou como sua residência em 2002 após ter sido atropelada numa passadeira por um carro de instrução. Mas o “incidente”, não roubou a felicidade a Mariazinha, que optou por se manter solteira e, talvez por isso, nunca teve uma única dor de cabeça.Ao longo da vida, sempre muito agitada, foi “mãe” para os seus 15 sobrinhos que a chamavam de “Tatti”, foi catequista durante 50 anos e viajou bastante. “É uma senhora com muita cultura e quando partilha algumas das suas memórias é sempre surpreendente. Era uma mulher muito avançada para a sua época e isso transparece na sua personalidade”, explica a diretora técnica da Misericórdia da Benedita.
Na Fundação Maria e Oliveira, quem recebe o título de bemérito mais idoso é Evaristo Varela. O caboverdiano conta já com 102 anos e acredita que a idade é apenas um número. Aos 50 anos, e “cansado de acartar sacos“, num trabalho pesado que era o da colheita de coco e de cacau, decidiu embarcar com a mulher e “atracar” em Portugal. Fixou-se em Chiqueda, onde fez “muitos amigos“ e começou a trabalhar na construção civil em Alcobaça. Conhece o País de “norte a sul“, mas o local que gosta mais de visitar é o Santuário de Nossa Senhora de Fátima. O adepto confesso do Benfica é utente da Fundação Maria e Oliveira desde 2011, ano em que ficou viúvo. E entre jogar às cartas ou dar umas “boas braçadas” na baía de São Martinho do Porto, o centenário não precisa de pensar duas vezes antes de ir buscar os calções de banho.
A Fundação Maria e Oliveira conta ainda com Ana Maria, como 101 anos de idade, e Maria da Luz Rosa, que entrou recentemente para o “clube dos 100”. “Todos os centenários da Fundação estão lúcidos e participam nas atividades. São pessoas com histórias de vida muito interessantes e que trazem vida à nossa instituição”, revela a diretora técnica da Fundação. “O segredo para a longevidade? Quem me dera saber. Costumo dizer, entre brincadeiras, que é a teimosia. São todos saudavelmente teimosos e por isso quebram recordes”, graceja Sandra Oliveira.
Na Misericórdia de Aljubarrota, Maria Joana Barrosão completou no passado mês de agosto 100 anos. A mulher dedicou a sua vida ao ensino, tendo exercido a profissão de professora primária no concelho.
Em Alfeizerão, na Misericórdia, o título de pessoa mais velha pertence a Emília Duarte. A idosa cumpre no próximo mês de dezembro 105 anos. A vida de Emília, no entanto, já não é o que era. Habituada uma vida toda a trabalhar como doméstica, a utente necessita agora de cuidados redobrados e está depende de terceiros. Nas visitas de família, embora troque os nomes, os rostos dos netos são inconfundíveis.
Em Porto de Mós, no Solar do Povo do Juncal existem três centenários. Gracinda Leandro já soprou as velas por 104 vezes, enquanto Lázaro Brites e Francisco Florindo já somam 101 e 100 anos, respetivamente. Todos eles dedicaram a sua vida à agricultura. Lázaro Brites é ainda completamente autónomo. “Só não faz a própria caixa de medicamentos porque nós não permitimos, de resto, gosta de organizar as suas coisas sozinho”, conta a diretora técnica da instituição. Por sua vez, Gracinda Leandro comemorou os 104 anos no mês passado, mas o facto de estar acamada há dois anos não lhe permitiu realizar a tão desejada festa. Ainda assim, a data não passou despercebida entre a equipa do lar, que fez questão de assinalar mais um ano da centenária. O maior felizardo, por ter chegado aos 101 anos em fevereiro, antes da pandemia, foi Francisco Florindo que viu a data assinalada com um concerto simbólico de concertinas e guitarras.
Com passados e realidades distintas, os centenários das IPSS da região continuam a ser motivo de celebração para todos aqueles que os rodeiam. Embora muitos considerem que seja “apenas um número”, 100 anos de vida são também um século de memórias, de conhecimento e de conselhos para dar às gerações mais novas.
Supercentenária tinha 111 anos e vivia em Alfeizerão
Nasceu em 1906 e faleceu em 2017. Benvinda Marques soprou as velas por 111 ocasiões, as últimas doze no lar da Santa Casa da Misericórdia de Alfeizerão. Benvinda Marques tinha dois netos e quatro bisnetos e no lar da Misericórdia já tinha visto “partir” o único filho, em 2011.
Era provavelmente a mulher mais velha do País e uma das poucas portuguesas que ainda viveu na Monarquia. Natural de Monte Frio, do concelho de Arganil, a mulher assistiu às duas grandes guerras mundiais, viveu os 48 anos de ditadura no País. Os 111 anos valeram-lhe a designação de “supercentenária”.