Sábado, Novembro 8, 2025
Sábado, Novembro 8, 2025

Jornalismo e desinformação

Data:

Partilhar artigo:

Este foi o ano em que todos os líderes mundiais alertaram para o grave “problema da desinformação”. Supostamente a sua origem seriam as redes sociais, que divulgariam notícias “falsas”. Não restam dúvidas que hoje há uma enorme circulação de propaganda duvidosa e notícias falsas. Não creio, porém, que o seu problema esteja, principalmente, nas redes sociais. O jornalismo está ele próprio – e com a pandemia adensou-se esta questão – numa encruzilhada. Ou há uma rutura com as práticas atuais como a precariedade e a ausência de trabalho em redação ou o seu declínio é ineludível. Vive-se no jornalismo o que chama uma crise total: crise dos proprietários, crise dos meios, crise dos jornalistas, crise de formação. A demonização das redes sociais não resolverá o problema.

Nas redes sociais não há tempo nem meios para se produzir pensamento e reflexão, mas são um excelente lugar de divulgação desse pensamento.

Desde logo nas redes sociais há de tudo – banalidades, vida pessoal, mentiras; mas também divulgadores científicos notáveis, trabalhos seríssimos de académicos, intelectuais e artistas com obras maravilhosas. É uma questão de escala -, tudo é grande: o mau, mas também o bom. Se o que tem má qualidade aumentou, o mesmo acontece com o que tem boa qualidade. Sublinho – as redes sociais não produzem trabalho sério, nem podem fazer. Nas redes sociais não há tempo nem meios para se produzir pensamento e reflexão, mas são um excelente lugar de divulgação desse pensamento.

O problema hoje não é tanto saber distinguir o certo do errado – esse é um problema geral de educação. O problema das redes é que elas são o inferno de excesso de informação – para se chegar a um belo artigo crítico sobre um determinado tema é preciso navegar, durante horas, por textos nem bons nem maus, selfies, memes, anúncios de férias e casas para alugar. Exige um tempo de que não dispomos.

Região de Cister - Assine Já!

É aí que volta a entrar o lugar que o jornalismo pode ter. Os jornais diários passaram a substituir, com frequência, reportagens e jornalismo por opinião – casa vez mais superficial. Talvez a solução esteja num retorno ao início. Em vez de fact-check a posteriori precisamos de fact-check a montante, que não é senão outro nome para o Jornalismo. Esperamos do jornalismo artigos de 1 ou 2 páginas, que condensam um trabalho de 2 ou 4 semanas de um profissional, culto, com capacidade de reflexão intelectual, que pensa e investiga, e escreve – sem medo, em diálogo com as melhores práticas, com redações sólidas experientes, trabalho cooperativo, e, evidentemente, com boas condições de trabalho.

AD Footer
Próximo artigo

Artigos Relacionados

Fator “aldeia do hóquei” decisivo para HC Turquel

Dois jogos na aldeia do hóquei e… duas vitórias para o HC Turquel. O fator casa tem sido...

Futebol: Nazarenos vence dérbi da região e encosta ao líder

Um golo de André Mendes, aos 17 minutos, e um bis de Ricky, aos 37 e aos 70,...

Pedro Chagas Freitas e Amigos da Treta no Festival Literário de Mira de Aire

Após o sucesso das duas primeiras edições, o Festival Literário de Mira de Aire está de regresso à...

Jorge Vala coloca educação gratuita como “prioridade máxima” para último mandato

A educação gratuita será a “prioridade máxima” do último mandato de Jorge Vala à frente da Câmara de...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!