É um processo lento, doloroso e sofrido aquele que Bernardo Trindade vive desde que se viu forçado a encerrar, no início deste ano, a mítica Livraria Campos Trindade, em Lisboa, onde entrou pela primeira vez aos 3 anos pela mão do pai. Mas, o sonho de criar um Centro de Estudos Cistercienses continua no horizonte do alcobacense.
É um processo lento, doloroso e sofrido aquele que Bernardo Trindade vive desde que se viu forçado a encerrar, no início deste ano, a mítica Livraria Campos Trindade, em Lisboa, onde entrou pela primeira vez aos 3 anos pela mão do pai. Mas, o sonho de criar um Centro de Estudos Cistercienses continua no horizonte do alcobacense.
Foi o antigo presidente da Câmara de Alcobaça, Tarcísio Trindade, que lhe incutiu o gosto pelos livros e foi ele que abriu a livraria da Rua do Alecrim, no Chiado, há 44 anos, uma autêntica meca do livro antigo, que está tão enraizada em Bernardo como o amor pelo pai e o vazio de o ter perdido faz este mês uma década.
“Todas as grandes histórias têm um fim”, escreveu Bernardo Trindade por ocasião do encerramento da livraria. A verdade é que o alfarrabista quer continuar a escrever história e é por isso que continua a preservar o espólio que o pai juntou ao longo de sete décadas, a que se juntam exemplares que o livreiro de 47 anos foi conseguindo reunir ao longo dos anos. “Tenho peças boas, muito boas e felizmente tenho conseguido coisas muito antigas, com 400 e 500 anos”, reconhece.
O livro antigo exige um processo demorado e paciente de recuperação e restauro. “Às vezes, uma peça demora dois ou três anos e recuperar”, revela Bernardo Trindade, que admite voltar a abrir uma livraria num espaço maior, mas, por enquanto, o tempo é de reflexão e, sobretudo, descanso. “Há mais de dez anos que não tenho férias a sério”, revela, denotando cansaço por toda a burocracia que tem enfrentado com o encerramento da Campos Trindade. “Nunca pensei que fechar uma empresa desse tanto trabalho”, desabafa, enquanto anuncia que vai parar “pelo menos até ao fim do verão”.
Vai descansar, mas promete regressar com novos projetos e o Centro de Estudos Cistercienses está no horizonte. Bernardo Trindade admite juntar o espólio de bibliografia ligada a Cister na sua cidade de origem. “Tinha todo o gosto, no futuro, que as coisas ficassem em Alcobaça, desde que fossem oferecidas as condições para garantir o seu bom estado”, anuncia, referindo-se à “vontade local”, tanto por parte do Mosteiro como da Câmara. “Seria uma coisa a ser falada e ponderada com calma”, acrescenta, admitindo tratar-se de um sonho seu e do pai.
A par do habitual trabalho de livreiro, foi aumentando a biblioteca privada do pai apenas sobre Alcobaça. Tem gravuras, fotografias e livros, entre os quais um que data do século XVI, acerca de São Bernardo, oferecido a Frei Pedro de Rio Maior, abade do Mosteiro.
Radicado em Lisboa desde que se lembra, a verdade é que Alcobaça está enraizada desde sempre no especialista do livro antigo, essa paixão que herdou do alcobacense que tão importante contributo deu à história do livro em Portugal.
Foto: Maria Helena da Bernarda