Era uma vez uma menina cega chamada Ana Isa. Um dia, vá lá saber-se porquê, mas é, de certeza, coisa de quem apenas vê com o coração, a Ana Isa descobriu o Vitorino, sim, esse mesmo, um dos nomes maiores da música popular portuguesa, com aspeto de distante, para não dizer coisa menos simpática, mas é assim que nascem os preconceitos.
E, desta vez (que era uma vez), a menina Ana Isa, que é cega, viu uma maneira de chegar mais longe porque um professor de Educação Física (em que alguns se obstinam em ver mais do que deviam, para além do nome: Jorge,…) disse à menina que havia de chegar ao Redondo, terra desse improvável príncipe. E o Vitorino, que o meu preconceito classificava de distante, disse que sim: eu vou a Alcobaça, à D. Pedro I, disse. A menina não acreditava. Mesmo no dia marcado para a aparição, ela estava trémula de incredulidade: será que virá? Que sim, disse o Vitorino ao Jorge, já a partir da A8: “com o grande carro em que vou, é um instante!”. Não foi, e a Ana Isa tremia: acho que não vem.
Mas veio. O “grande carro” era um Renault Twingo da primeira geração. Mas era só para disfarçar porque, dentro do calhambeque, havia um verdadeiro príncipe, aliás, o Príncipe do Redondo. Se houvesse fadas, este seria um dos seus contos, com gente humilde, mas grande, ainda com um brilhozinho nos olhos, não se furtando a cantar, mesmo em condições penosas.
De hoje em diante, Vitorino, para além de seres aquele que a Ana Isa vê na sua cegueira, serás, sempre, para mim e para muitos mais, a epifania da verdade contra o preconceito.
Quando voltas a Alcobaça, Vitorino?