Dia 16 de Junho dirigi-me ao Gimnodesportivo de Alcobaça para “levar” a primeira dose da vacina contra a covid-19.
Estavam meia-dúzia de pessoas à porta e, à falta de qualquer informação em contrário entrei, pois estava na hora marcada: 11:31. A senhora da segurança no local logo me pediu para aguardar lá “fora” porque havia algum atraso. Assim o fiz, juntamente com outras pessoas, tudo de máscara posta, e passados nem dez minutos, a senhora com um blocozinho de notas começa a chamar as horas e lá vou eu. Não eram os placards eletrónicos do país das web summits, nem um computador à vista sequer, mas lá fomos nós tirar a senha no rollout igual aos dos talhos ou padarias e sentar o rabo na cadeira de plástico desinfetada a cada 10 minutos pelas incansáveis senhoras da limpeza.
Antes de entrar, uma senhora com uma raiva que só estes tempos explicam, estacionou o carro, gritou, gritou, gritou, atrapalhou o trânsito e depois lá foi, sabe Deus onde, mais aliviada, talvez, à custa da paciência de todos. Voltemos, pois, ao interior do gimnodesportivo então:
– Portugal não é o país que anunciamos nos sites de turismo ou que os tontos dos nossos políticos tentam vender aos parolos dos turistas que para cá vem espalhar os deltas. Portugal não são ecrãs de leds a assinalar a passagem das senhas, nem o Sr. Almirante de camuflado, nem a Ministra da Saúde a ralhar aos Portugueses ou aos Alcobacenses que fizeram muito mais pela gestão da pandemia e da segurança de todos do que qualquer medida incoerente como quase todas, ah! vamos ser honestos, todas as medidas e comunicações vindas do Conselho de Ministros ou da DGS.
– Portugal é o (Senhor) Traquina a chamar os números em voz alta, sem necessidade de microfone ou de usar o sistema de som do pavilhão, apesar da acústica e do grande eco das bancadas vazias. Portugal é as senhoras das limpezas a repetirem os números C56, C57, C58, para quem não conseguiu ouvir, porque estava na conversa. Portugal é o sorriso das enfermeiras, a simpatia das doutoras, as brincadeiras “já tens 5G agora!” entre quem andou na escola juntos. Portugal é ser vacinado como se estivéssemos numa quermesse, num jogo do Ginásio, no Bingo da Nazaré a ouvir os números a ver se nos sai o loto da saúde.
– Portugal não é a Temido a ralhar, nem Costa a mentir, nem Fonseca a beber drinks, nem Freitas a dizer que o vírus não teria transmissão humana. Portugal não é aquelas trapalhadas todas que o PS faz e com as quais vai orientando a sua família polícia, enquanto nós suamos as estopinhas para nos salvarmos a nós e aos nossos.
– Portugal é dizer obrigado a todos naquele gimnodesportivo no dia 16 de Junho: à senhora da Segurança, às senhoras da limpeza, à enfermeira que era fã da minha mulher, à Doutora que me reconheceu “pela voz”, e claro ao Senhor Traquina que nomeio para Presidente!