Quarta-feira, Abril 24, 2024
Quarta-feira, Abril 24, 2024

A Democracia, o Normal e os “Homens de Bem”

Data:

Partilhar artigo:

Karl Marx defendeu que a tendência do capitalismo era a supressão da democracia. Por várias razões, nenhuma delas devido à “maldade” ou “ganância” dos seus actores, proprietários de fábricas, bancos, meios de transporte e comunicação. Era irrelevante se um capitalista era um “homem de bem”, porque a questão não podia ser olhad ao nível do indivíduo.

Marx via o capitalismo como um factor de progresso face aos modos de produção anteriores, como o feudal – ao libertar a sociedade dos privilégios dos senhores e os trabalhadores da terra, a burguesia revolucionária impulsionou como nunca o desenvolvimento das forças produtivas – não se compara a capacidade de produção de uma enxada com um trator, de uma fábrica com trabalho domiciliar de autossubsistência.     Porém, a tendência inevitável do capitalismo era para o bloqueio deste desenvolvimento. E para a consequente bonapartização dos Estados.  Desde logo porque nas empresas e nas fábricas nunca houve democracia, a não ser em épocas revolucionárias. A democracia para à porta do Trabalho. Logo o lugar mais importante – porque é o que dá o sentido da vida -, para a exercer.

Segundo, porque todo o desenho democrático da sociedade se deve ao movimento operário que em décadas de protestos, greves e revoluções conquistou o direito ao voto, reunião, associação, liberdade de expressão. Há um rio de mortos atrás dos nossos direitos. Não foi a força civilizadora da burguesia, mas a sua derrota aqui e ali, pelo movimento operário (trabalhadores organizados) que nos legaram direitos que hoje temos por adquiridos.

Região de Cister - Assine já!

Porém Marx referia outra razão – a democracia não seria o normal na história do capitalismo, direitos não eram “adquiridos”, porque a concorrência seria progressivamente eliminada à medida que o modo de produção se desenvolvia, dando lugar a monopólios; e o lucro progressivamente ia impedir a produção de riqueza, e destruir o principal meio de produção – os trabalhadores.

Foi um modelo de desenvolvimento das forças produtivas que se transformou num modelo destrutivo das forças produtivas. Hoje, quando olhamos as duas Guerras Mundiais, a indústria de bens desnecessários, a erosão dos serviços públicos de qualidade ou a obsolescência programada, em que o que usamos se esgota ao fim de pouco tempo (e que vem acompanhada do esgotamento, obsolescência, de quem os produz, com horários e condições de trabalho que adoecem os trabalhadores) verificamos a importância desta análise, há 200 anos.

Por fim Marx sustentou que a tendência para a concentração de riqueza e ampliação da pobreza levaria a crescentes conflitos sociais. A que os Estados democráticos responderiam sendo cada vez menos democráticos, com medidas autoritárias e bonapartistas em “nome do interesse nacional”, que era a fórmula mágica da classe dirigente designar aquilo que era no fundo apenas do interesse da sua classe e dos seus herdeiros/membros. O Bonapartismo não é a resposta de “homens maus”, é a essência normal dos “homens de bem” que comandavam o declínio do modo de produção.

AD Footer
Artigo anterior
Próximo artigo

Artigos Relacionados

Solancis alicerça crescimento com aposta na inovação

A inovação tem sido a chave para o desenvolvimento do negócio da Solancis. A empresa, sediada na Benedita...

Como vivi o 25 de abril de 1974

Lembro-me, quase como se fosse hoje. Depois de uma madrugada não esperada, houve um dia que parecia igual...

Beneditense visita Ansião em duelo de extrema importância na Honra de juniores

A equipa de juniores do Beneditense vai visitar o reduto do Ansião, no próximo dia 4 (15:30 horas),...

Alq. Serra obrigado a fazer melhor do que o Valeo SAD para sonhar com a permanência

Seis temporadas depois, o Alq. Serra pode estar prestes a voltar a disputar o último escalão distrital.Os alqueidoenses...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!