Sábado, Julho 12, 2025
Sábado, Julho 12, 2025

Isto é Saúde Pública

Data:

Partilhar artigo:

Nos últimos dois anos reforçou-se a ideia de que ciência são as chamadas ciências duras, e dentro delas a matemática, sobretudo a matemática computacional. Ao lado do “confiem nos especialistas!” (uma pseudociência) está uma tendência de fundo e longa duração, a perda da centralidade das ciências humanas e sociais, a renúncia à literatura como espaço de criação e invenção do social, a política como obrigação e necessidade de todos.

Estas tendências, que vinham desde a derrota das revoluções da década de 60-70, ganharam força com a introdução massiva da informática nos locais de trabalho. Nestes dois anos ganhou novo folego a já longa substituição de Deus pela Ciência (veja-se a quantidade de pessoas que emoldura a sua foto nas redes socias com um “Eu acredito na Ciência”), como se a ciência fosse matéria de fé e não de demonstração, estudo teórico, e claro, hipóteses controversas). Em segundo lugar, assistimos à idolatração (humana) de programas computacionais que reduziram a epidemiologia, uma ciência de carácter eminentemente social, à previsão, sempre errada já agora, de modelos, cuja justificação para o erro é sempre o “imprevisível”, “o vírus que nos surpreende”.

Vejamos, existe uma parte do impacto do vírus que é desconhecida, mas temos um amplo conhecimento acumulado que nos aponta caminhos – desprezados, uma vez que exigiam mudanças económicas radicais em sociedades carcomidas pelo neoliberalismo. Sabemos que a esmagadora maioria das pessoas que adoece ou morre é muito idoso, vive em lares, ou é obesa e tem comorbilidades associadas à obesidade – ora a maioria das pessoas no mundo ocidental com este quadro são pobres ou das classes trabalhadoras e médias.

Região de Cister - Assine Já!
Sabemos que o fator mais destacado pela OMS e a OIT no Relatório deste ano sobre a saúde no trabalho foi um aumento exponencial de mortes devido aos longos horários de trabalho; conhecemos, desde o século XIX, vide a este propósito Ricardo Jorge e as casas “imundas” do Porto, que as casas sobrelotadas e frias potenciam mortes e doentes; conhecemos, desde o século XVIII, que dos determinantes sociais da saúde, a alimentação conta cerca de 70%. Tudo isto é saúde pública. Joga-se aqui – nas condições de trabalho e vida – grande parte das decisões de vida ou morte, saúde ou doença da população mundial. 
AD Footer

Artigos Relacionados

Rodas d’Aço entregam cerca de 700 quilos de comida a famílias carenciadas

A associação Rodas d’Aço Motor Clube recolheu 690 quilos (!) de excedentes alimentares durante os nove dias das...

Armazém das Artes expõe as telas que o mar “dá” a Dino Luz

As telas que o mar dá a Dino Luz vão estar em exposição na galeria do Armazém das...

André Luís vive sonho como fisioterapeuta do Athletic Bilbao

Festejou os títulos de campeão nacional enquanto fisioterapeuta do Sporting, nas temporadas 2020/2021 e 2023/2024, mas quis o...

Atletismo: Beatriz Castelhano correu para o ouro nacional

Se dúvidas houvesse, já poucas restarão: Beatriz Castelhano (Arneirense) sagrou-se campeã nacional de 100 metros, no escalão de...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!