A Kind of Black Box, produtora da peça de teatro “Pedro, o Cru”, que esteve em cena no Mosteiro de Alcobaça, acusou o pároco de Alcobaça de “censurar” excertos do texto que estava preparado para ser interpretado na igreja do Mosteiro.
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A polémica está relacionada com o momento final do monólogo escrito por António Patrício, para ser dito por D. Pedro junto ao túmulo de D. Inês de Castro. “Por opção artística, e de forma a respeitar a santidade do espaço, o encenador apresenta as palavras do dramaturgo emitidas através de audioguias proporcionando uma maior aproximação e intimidade com a sublime declaração de amor entre os dois históricos amantes. Assim, a visita à igreja e, consequentemente, ao túmulo, é feita em silêncio”, pode ler-se no comunicado, no qual também é dito que o pároco não autorizou esta proposta alegando que “o texto, de autor republicano liberal, não está adequado ao caráter sagrado do local, nomeadamente porque não serve para exercer ou promover o culto, a piedade e a religião (…)”.
Ao REGIÃO DE CISTER, o padre Ricardo Cristóvão explicou os motivos que o levaram a tomar esta posição, confessando não perceber o porquê de se ter gerado toda esta polémica. “A lei diz que as igrejas em Portugal são um espaço de culto. Como tal, o que lá acontece está sujeito à autorização do pároco. E essa mesma autorização não foi pedida em devido tempo, ao que acresce o facto de os textos não serem adequados. Acabei, depois, por ceder, fui compreensivo e cheguei a acordo com a produtora da peça para escolher alguns excertos do texto. Posto isto, e muito sinceramente, não consigo perceber todas estas acusações, que considero despropositadas e que não vão nada ao encontro do nosso acordo”, retorquiu o pároco de Alcobaça.
Na sequência destas declarações, o REGIÃO DE CISTER falou com o responsável pela peça de teatro “Pedro, o Cru”, que refuta estas acusações e vai ainda mais longe. “O facto de o senhor pároco pretender escolher excertos do texto, na minha ótica, é ainda mais grave. Tal posição apresenta uma clara referência aos tempos da censura, do lápis azul, algo que repudio veementemente. Até porque, acrescente-se, o recurso ao audioguia é igual ao que acontece diurnamente naquele espaço, nomeadamente com as centenas de turistas que passam diariamente no Mosteiro de Alcobaça, situação em que o pároco não tem de intervir”. explicou Tobias Monteiro.
O espetáculo, que foi apresentado em formato itinerante, retrata a vingança de D. Pedro sobre os assassinos de Inês de Castro e a transladação do corpo da rainha póstuma de Portugal, de Coimbra para Alcobaça. O encenador mostra-se agradecido ao público, acrescentando até que já foi solicitado para repetir. “As pessoas pediram para voltarmos com a peça ao Mosteiro, mas essa é uma decisão que terá de ser tomada pelas entidades competentes”, concluiu o produtor.