Gostaria de estar mais otimista. Porém, os últimos desenvolvimentos à volta da Guerra na Ucrânia não me permitem tal otimismo. Efetivamente, nesta semana, a China deixou-se de meias palavras e afirmou o seu alinhamento pleno com a invasão das Ucrânia pela Federação Russa (FR). O mesmo vai fazendo a Índia.
Este meu pessimismo é alicerçado em factos: 1) Em termos populacionais, a China, a Índia e a Rússia somam cerca de 3000 milhões de habitantes, ao passo que o Ocidente, incluindo o Japão, Austrália e Coreia do Sul, soma cerca de 1200 milhões. 2) O alinhamento da China e da Índia com a FR esvazia, em grande parte, o alcance das sanções decretadas pelo Ocidente: um dólar – que, em 7 de março, custava cerca de 143 rublos – vale atualmente, cerca de 75 rublos. 3) Por outro lado, a China poderá substituir o Ocidente como fornecedor de alta tecnologia, em troco de petróleo muito mais barato. Deste modo, a energia que o Ocidente está a pagar a preços nunca antes praticados chega às indústrias chinesa e indiana a preços de saldo.
O Ocidente e o Oriente nunca confiaram completamente um no outro. As batalhas de Plateias e Salamina, o terror dos Mongóis, as invasões muçulmanas e subsequente resposta europeia … testemunham, a meu ver, o confronto entre o europeu individualismo humanista e o asiático anonimato dos impérios. Em nome desse individualismo, as unidades políticas europeias sempre foram pequenas – demasiadamente pequenas, diria mesmo.
A globalização deu aos “tigres asiáticos” uma vantagem competitiva decisiva: desde que os produtos fossem baratos “na Ásia”, o Ocidente fechava os olhos às condições de trabalho, aos regimes políticos, à política armamentista. Como se viu, na crise covid-19, o Ocidente ficou completamente dependente da “fábrica do mundo”…
De leste, sopram ventos de impérios que querem fundar uma nova ordem mundial. Dinheiro e capacidade tecnológica têm. Muita gente para executar esses propósitos, também. Ainda vamos a tempo de evitar o “Declínio do Ocidente” que Oswald Spengler teorizou em 1918?