A balança utilizada para pesar mercadoria é a mesma que o avô de Norberto Isaac usou pela primeira vez há quase 100 anos quando abriu a loja de ferragens que a família explora, desde então, na antiga Calçada do Sítio.
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A viagem no tempo faz-se também graças às gavetas originais e toda a memorabília, que inclui a primeira máquina de duplicar chaves a chegar à Nazaré, “que tem, pelo menos, 60 anos”, conta o comerciante, de 76 anos.
Norberto Isaac começou a ajudar o pai, Joaquim, em pequeno e hoje é apoiado pelo filho, Alexandre. Fica, assim, garantida a quarta geração do clã Isaac atrás do balcão da loja, que tem conseguido assegurar a sucessão de forma natural.
A casa abriu em 1926, pela mão de José Vicente Tereso, avô de Norberto e homem ligado à construção naval. Só ele esteve mais de cinco décadas atrás do balcão. Em 1971, o negócio passou a ser gerido pelo filho do fundador, Joaquim Vicente Isaac, que o passou a Norberto em 1985. Motivos para afirmar que a loja do clã Isaac está de pedra e cal na vila.
Na rua, entretanto rebatizada de Rua Doutor José Laborinho Marques Silveira, o estabelecimento comercial quase passa despercebido. Não há placa com nome e apenas dois pequenos autocolantes informam sobre o serviço de duplicação de chaves. Norberto Isaac sabe que não precisa de publicidade no exterior da loja, “que toda a gente conhece na Nazaré”.
No espaço comercial, onde, para além de ferragens e chaves, há tintas e material elétrico, Norberto Isaac consegue encontrar qualquer produto “de olhos fechados”. É impressionante a ginástica mental do nazareno, que sabe bem o que cada cliente precisa e até se lembra da cor exata da tinta que alguém levou tempos antes.
Alguns dos fornecedores são os mesmos há mais de 70 anos, os clientes que tem agora são bastantes menos do que os que antigamente procuravam os materiais da loja de ferragens, mas o movimento mantém-se constante. No período de uma hora, em que o REGIÃO DE CISTER o acompanhou, o comerciante aviou meia dúzia de clientes e ainda recebeu um novo fornecedor.
A Nazaré de outrora não é mais a mesma, reconhece Norberto Isaac, que nota um decréscimo no seu negócio na ordem dos 50 por cento. “O núcleo da vila mudou-se lá para cima”, analisa o comerciante, que lembra ainda o “fenómeno das grandes superfícies”. Para o nazareno, “o cliente vai ao engano a pensar que poupa”, quando, na realidade, a melhor resposta está no comércio tradicional.