A plateia torna-se um palco e o palco torna-se uma plateia. O “Concerto”, sem música, é protagonizado por 20 migrantes latino-americanos, residentes em Alcobaça, Pombal e Granollers (Catalunha), cujos testemunhos serão projetados em 20 caixas de som instaladas na habitual plateia. O espetáculo, uma criação de Tiago Cadete, estreia esta sexta-feira, às 21:30 horas, no Cine-teatro de Alcobaça.
Este conteúdo é apenas para assinantes
A performance resulta de quatro residências artísticas do artista, na Casa Varela – Centro de Experimentação Artística, em Pombal, e no Cine-teatro de Alcobaça João D’Oliva Monteiro, e em Espanha, onde conheceu e recolheu as histórias de migração dos participantes, ao abrigo do projeto “Stronger Peripheries: A Southern Coalition”, num desafio lançado pela Artemrede, coprodutor do espetáculo em associação com os Municípios de Alcobaça, de Pombal e de Granollers.
Os depoimentos dos 20 participantes – migrantes há “dois meses ou há 20 anos” – formam uma “partitura que revela processos migratórios contemporâneos em justaposição com a
história colonial”, Lê-se na descrição do projeto. “Quando me deparei com o tema da call “Having a Voice” [ter uma voz] do projeto, comecei a questionar quem tem a voz e quem a escruta. Foi aí que quis dar uma voz em vez de ter uma voz, privilegiando a escuta”, explicou Tiago Cadete, durante a conferência de imprensa, que decorreu na semana passada, no Cine-teatro de Alcobaça.
Quem são estes novos migrantes? Que desejos têm quando migram para o país que os colonizou? São algumas das perguntas que o artista tentou responder, através dos relatos dos participantes, que abordam questões como o trabalho, a habitação, a língua, o acesso a sistemas de saúde, as saudades de casa e as motivações para emigrar.
O espetáculo inverte a relação tradicional de uma sala de teatro, colocando o público em palco, onde haverá 52 lugares disponíveis. Na plateia estarão 20 colunas de som, das quais serão difundidas as histórias dos migrantes, contadas em português do Brasil e em castelhano. No final da performance, será distribuída ao público uma tradução integral de todos os depoimentos, em quatros línguas.
“As 20 caixas de som que estão na plateia representam os 20 países latino-americanos e os entrevistados”, explica o artista algarvio, que esteve emigrado no Brasil cerca de uma década. “Neste concerto não há musicas, há vozes e também a intenção de consertar algo”, acrescenta o mentor do projeto.
“Um projeto que faz pensar e refletir”, resumiu a vereadora da Cultura da Câmara de Alcobaça, Inês Silva, para quem estas coproduções são uma “mais-valia” para todos. Além das apresentações em Alcobaça, amanhã e no sábado, o espetáculo será apresentado nos dias 12 e 13 de maio no TAG – Llevant Teatre (Granollers, Catalunha).