Conhecer as máquinas fotográficas reunidas pela família Coutinho, em Pataias, ao longo das décadas é como fazer uma viagem no tempo e na história da fotografia. A máquina mais antiga é um exemplar velhinho de madeira, do século XIX, que ainda funciona. A verdadeira relíquia sobressai no amontoado de fotografias, negativos e centenas de equipamentos, de onde saíram os muitos milhares de fotografias que a Foto Coutinho, atualmente na Avenida Rainha Santa Isabel, fez ao longo dos últimos 83 anos.
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A história da fotografia na vila começa com Joaquim Maria Coutinho, um filho da terra que era funcionário da cimenteira da Maceira. Um colega de trabalho tinha o gosto pela fotografia e não demorou muito até Joaquim Coutinho ganhar a mesma paixão. Corria a década de 1940 e as máquinas ainda usavam chapas de vidro.
O pataiense, pioneiro na arte na freguesia, instalou uma espécie de estúdio em casa, onde nasceu a Foto Coutinho. “Ia muita gente lá a casa tirar fotografias de passe”, conta o filho Antero Coutinho, que ainda hoje assegura o negócio familiar, por onde passaram os seus irmãos António, Celestino e José, e até o seu filho André. “O meu pai tinha uma armação como pano de fundo, na rua”, lembra Antero Coutinho, que relata ainda o carinho com que a mãe cuidava do jardim que servia de cenário às mais diversas fotografias.
Quando o fundador começou a fotografar, Pataias ainda não tinha eletricidade, que só seria inaugurada na então aldeia em 1953.
Joaquim Maria Coutinho, homem engenhoso, inventou então um sistema com um candeeiro a petróleo e uma caixa de luz. “O candeeiro iluminava a película e a foto era feita em contacto direto com a película iluminada”, descreve Antero, que, anos mais tarde, numa viagem a Lisboa para comprar material de fotografia, ouviu o vendedor elogiar “o pataiense que fazia fotografias iluminadas com candeeiro a petróleo”. Antero não está certo de ter sucessão, apesar de o filho perceber da arte. O fotógrafo lembra que “hoje em dia qualquer pessoa tem um telemóvel que tira fotografias”.
O vasto e rico espólio da loja Foto Coutinho dá para encher um museu. As máquinas fotográficas acompanham mais de um século de história. Antero já pensou nisso, mas ainda não sabe bem o que quer fazer ou tão pouco quando. Ele, que começou aos 11 anos a mexer em máquinas fotográficas, conheceu todas as fases da evolução da fotografia: da chapa de vidro, aos filmes a preto e branco, mais tarde os filmes a cores e, por fim, a era digital.
Como nas últimas décadas, Antero Coutinho é presença assídua nos eventos de monta na União de Freguesias de Pataias e Martingança. O legado da Foto Coutinho vai muito além da fotografia dos conterrâneos. Do arquivo da casa fazem parte momentos históricos captados pela objetiva, como o episódio da revolta popular de 1975 na vila, quando a comunidade se uniu para exigir a desafetação de uma parcela das matas nacionais para instalar uma unidade fabril, que acabaria por marcar o início da zona industrial da Alva.