O dia 21 de janeiro de 2024 não sairá tão cedo da memória das gentes de São Martinho do Porto. Nesse dia, a vila viu o histórico Hotel Parque ser parcialmente devastado pelas chamas, num momento que deixou a população consternada face ao simbolismo que aquele edifício representa na história local.
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Pelas 16:35 horas do passado domingo, surgiu o alerta de incêndio e rapidamente os Bombeiros de São Martinho do Porto, apoiados pelas corporações de Alcobaça, Caldas da Rainha e Nazaré, acorreram ao local, deparando-se com as chamas a destruir a zona superior do edifício. Os mais de 30 operacionais destacados para a ocorrência, reforçados com 12 viaturas, conseguiram controlar a operação, todavia, sem possibilidade de salvar parte daquele que é um monumento histórico da freguesia.
Segundo explicou ao REGIÃO DE CISTER o comandante dos Bombeiros de São Martinho do Porto, o incêndio foi dado como dominado apenas por volta da meia noite, sendo que os operacionais estiveram no terreno até às 4 horas da manhã. De acordo com João Bonifácio, o fogo “destruiu a cobertura do edifício e alguma parte do interior”. Ainda assim, garante também, a “quantidade de água utilizada” no combate ao incêndio “poderá, com o tempo, gerar alguns danos em algumas partes da infraestrutura”.
Sobre a ocorrência, o comandante da corporação sublinhou o facto “de nunca ter colocado a população e edifícios circundantes em perigo”. Já sobre a origem do mesmo, João Bonifácio adiantou apenas que a Polícia Judiciária “fez uma vistoria” no dia seguinte, informação que foi posteriormente confirmada ao REGIÃO DE CISTER. “Estamos a proceder às diligências normais neste tipo de ocorrências”, esclareceu Avelino Lima, diretor do Departamento de Investigação Criminal de Leiria da Polícia Judiciária, frisando que, até ao momento, as causas “estão ainda a ser investigadas”.
Erguido em 1910 pelo comendador António Rosa – com traços de arte nova, arte deco, Brasil, chalet e belle-époque, géneros artísticos daquela época – serviu de habitação à família do próprio durante duas décadas num monumento em que fez questão de realçar a fortuna que havia conseguido no Brasil.
Viria depois dar lugar à Pensão Rosa e, mais tarde, a um hotel, que viria a designar-se de Hotel Parque, nome que prevaleceu até aos dias de hoje, ainda que não esteja em funcionamento desde o decorrer da década de 1960.
Nas décadas seguintes, houve tentativas de revitalizar o edifício, no entanto, saíram sempre goradas e o edifício ficou devoluto, a partir dos anos 1980, e entregue ao que o destino acabaria por fazer dele.
Em 2006, já um incêndio tinha lavrado num dos quartos do edifício, valendo a pronta intervenção dos bombeiros para evitar males maiores. Em 2009, o edifício foi classificado pela Câmara de Alcobaça como imóvel de interesse municipal, classificação essa que impedira qualquer intenção de demolição e que, no caso de ser alvo de obras de conservação e restauro, obrigaria a manter o traçado original. Seguiram-se algumas intenções de dar nova vida ao edifício, mas sem nunca terem chegado a bom porto.
Recentemente, e depois de confrontado por um morador da vila em assembleia municipal, o presidente da Câmara de Alcobaça, Hermínio Rodrigues, anunciou que a Câmara de Alcobaça estava a analisar um projeto que tinha como objetivo a requalificação do edifício, mostrando-se preocupado com o estado de degradação do mesmo. Todavia, volvidas algumas semanas, um incêndio cuja origem é ainda desconhecida, tratou de fustigar um edifício já mal tratado, o que gerou revolta e desconfiança entre a comunidade.
Ainda que o edifício não tenha sido totalmente fustigado pelo incêndio, pede a população que lhe seja atribuído a importância devida e, por isso, foi lançada uma petição que expressa “a profunda tristeza, preocupação e revolta com a recente destruição causada pelo incêndio no Hotel Parque que, ao longo dos anos, desempenhou um papel significativo na comunidade. Exigimos uma rápida mobilização de recursos e esforços para a reconstrução integral deste património cultural, preservando a sua arquitetura única e relevância histórica. A restauração não apenas honrará todo o nosso passado, como também proporcionará um legado valioso para as gerações futuras”, lê-se na petição já assinada por 960 pessoas e que solicita que “as autoridades locais, regionais e nacionais” possam “alocar os fundos necessários e colaborar com especialistas em conservação para garantir que o Hotel Parque seja devolvido à sua glória original”.
Câmara de Alcobaça pretende preservar fachada, apesar dos danos provocados na parte superior do edifício
“Foi um dia negro para São Martinho do Porto e para o Município [de Alcobaça]”. Foi desta forma que o presidente da Câmara de Alcobaça começou por reagir ao sucedido na tarde do passado domingo, em que as chamas consumiram a parte superior do Hotel Parque, um edifício icónico na vila e que estava devoluto há mais de três décadas.
Ainda assim, segundo garantiu também ao REGIÃO DE CISTER, Hermínio Rodrigues espera que o ocorrido não coloque em causa os projetos que estavam já a ser pensados para aquela infraestrutura.
“Ontem [segunda-feira] chamei logo o proprietário e vai ser feita uma avaliação para tentar, ao máximo, preservar aquele espaço”, sublinhou o chefe do executivo municipal, que pretende continuar a monitorizar o processo. “Tudo faremos para preservar a fachada, uma vez que se trata de um ícone do concelho e, sobretudo, da freguesia. É fundamental tentarmos ao máximo preservar aquele espaço. Agora, não obrigatoriamente como hotel, mas que seja, acima de tudo, um espaço utilitário e em que as pessoas no futuro possam ver como o edifício de referência que sempre foi”, asseverou o presidente da Câmara, desejando que a população se continue a “identificar” com o edifício histórico.
Recorde-se que recentemente deu entrada na Câmara de Alcobaça um projeto que visa transformar o antigo hotel num conjunto de apartamentos, sendo que, no referido projeto, está prevista a manutenção da fachada do edifício, cenário que não foi afastado pelo presidente da autarquia.
Na sequência do incêndio que deflagrou no passado domingo, o REGIÃO DE CISTER tentou obter uma reação do presidente da Junta de São Martinho do Porto, todavia, até ao fecho da presente edição – e após sucessivas chamadas telefónicas – os intentos revelaram-se infrutíferos.
Até ao fecho desta edição, o REGIÃO DE CISTER tentou também entrar em contacto com o proprietário do imóvel, todavia, não foi possível, ficando assim a pairar no ar o desfecho que irá ter um edifício com muita importância para a população de São Martinho do Porto e para o futuro da vila.