Os sub-19 do CCRD Burinhosa terminaram a 1.ª fase do nacional na 2.ª posição e preparam-se para dar início ao apuramento de campeão nacional. O desafio é de extrema dificuldade, mas, em entrevista ao REGIÃO DE CISTER, o técnico Nuno Veiga garante que o sonho “mora” no balneário da aldeia do futsal.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > Depois de uma grande 1.ª fase, o sonho é ser campeão nacional?
NUNO VEIGA (NV) > O sonho é sempre esse. Se não sonharmos alto, não vamos atingir objetivos. Ainda assim, a nossa realidade é outra, e não é igual à de um Sporting ou de um Benfica. Tentamos contratar jogadores do distrito de Leiria, enquanto os grandes contratam em todo o País e essa é uma grande diferença.
RC > Mas dentro do balneário, existe essa crença no título?
NV > Dentro do nosso balneário acreditamos muito no título. Os meus rapazes acreditam mesmo, e nós, equipa técnica, também. E basta olharmos para aquilo que fizemos esta época – já ganhámos ao Sporting, no Pavilhão João Rocha e vencemos o Benfica aqui na aldeia. Mas no futsal, e no desporto em geral, há momentos, e é preciso estarmos num bom momento, e esses dois candidatos, que todos esperam que sejam campeões, estejam num momento menos positivo. Mas acima de tudo, no CCRD Burinhosa sonha-se e trabalha-se sobre esse sonho de poder chegar a uma final do campeonato nacional.
RC > Assume uma candidatura ao título ou prefere colocar a Bury com a maior candidata, mas a ser a surpresa?
NV > Prefiro que seja, mais uma vez, a surpresa do campeonato.
RC > E ainda é uma surpresa?
NV > Julgo que nem tanto. Há quatro anos que temos vindo a manter a equipa na elite, a tentar atingir os play-offs e a disputar os jogos decisivos. Não é uma surpresa e penso que já estamos inseridos no lote de oito melhores equipas portuguesas. Mas, no capítulo do título, temos de ser humildes e não nos colocar num patamar de Benfica e Sporting. Somos candidatos à maior surpresa, mas não ao título. São coisas diferentes.
RC > O desiderato era já perspetivado no início da época ou foi um sonho que foi sendo construído?
NV > Gostamos de falar e definir objetivos semanalmente. Quando pensámos esta época foi com o intuito de assegurar a permanência. É importante manter a equipa na elite de sub-19 e esse era o primeiro objetivo. Depois de alcançado, o objetivo era ficar nos oito primeiros e atingir os play-offs e também o conseguimos. Agora é sonhar.
RC > Os adeptos terão um papel fundamental nesse sonho?
NV > Jogar na Burinhosa é totalmente diferente de jogar fora. Na aldeia sentimos mesmo os adeptos, as vibrações que eles passam, e isso faz com que seja um pouco mais fácil ganhar jogos. Não tenho qualquer dúvida de que os adeptos são mesmo importantes nos jogos. Mesmo fora, a jogar longe e ao domingo à noite, levamos autocarro com muitos adeptos. Nos últimos tempos, e com a mudança da Direção do clube, recuperou-se alguma estabilidade no clube e isso trouxe muita gente de volta à aldeia para ver jogar os seniores, os juniores, os juvenis… As pessoas atualmente identificam-se com o projeto do CCRD Burinhosa, que passa por competir bem, por ter os melhores do distrito, e é isso que queremos continuar a melhorar em todos os escalões de formação.
RC > Tocava há pouco num tema importante. Apesar de não recrutar numa área tão grande, a verdade é que o CCRD Burinhosa tem conseguido reforçar-se com jovens talentos a despontar no distrito. Esse tem sido também um dos ingredientes para esta receita de sucesso?
NV > O que fazemos, e temos feito bem, é recrutar jogadores que julgamos terem potencial e tentamos trabalhá-los bem. Além disso, apostamos cada vez mais no trabalho de base, a começar no escalão de infantis. Assim, quando chegarem aos sub-19, que consideramos um escalão de formação mas em que o nível competitivo (interna e externamente) já é enorme, já estão prontos. E, depois disso, que possam reforçar a equipa sénior, que é o grande objetivo de todo este trabalho.
RC > São já vários os exemplos desse percurso…
NV > Sim, temos conseguido fazer isso com muitos deles. Mas também há outros em que os clubes ditos grandes estão atentos e acabam por nos levar esses jogadores. Mas reafirmo que não é surpresa nenhuma o CCRD Burinhosa estar nos play-offs e entre as cinco, seis equipas que marcam presença regularmente na fase decisiva do campeonato.
RC > Para concluir: quantos dos atletas podem chegar à equipa principal do clube ou fazer carreira na elite nacional?
NV > Mais de metade do plantel que tenho não sabia da qualidade que tinha quando aqui chegou. E estão a evoluir de tal maneira que, neste momento, acredito que vão ser o futuro de muitas equipas seniores do distrito e não só. Há jogadores que já mereciam as seleções nacionais. E julgo que vão acabar por ser chamados O futuro do CCRD Burinhosa passa por muitos destes atletas
“A época passada foi surpreendente para algumas pessoas”
O trajeto que os sub-19 do CCRD Burinhosa trilharam na temporada 2022/2023 foi bastante meritório, com a equipa de Nuno Veiga a atingir os quartos de final do campeonato nacional, no qual perdeu apenas na “negra” perante o Caxinas. Sobre o percurso, o técnico considera que “foi surpreendente para algumas pessoas ter o CCRD Burinhosa nos primeiros lugares, com jogadores chave (Andriy Dzyalochynskyy, Tomás Silva, Hugo Cordeiro, Nazariy Krukovskyy…) que foram às seleções nacionais”. Ainda assim, nota também, era conhecida a “qualidade do plantel”. Já sobre a presente temporada, o leiriense afirma que a época foi preparada num plantel com algumas subidas e outras contratações. “Sabíamos que íamos passar por algumas dificuldades, porque é diferente a competitividade distrital para um nível nacional, mas a qualidade era notória. Com o trabalho de uma equipa técnica muito bem preparada, e tenho de frisar este ponto, e, acima de tudo, com o talento e o trabalho dos miúdos, percebemos aos poucos que podíamos chegar mais longe e que eles podem estar num patamar um pouco acima do que até eles julgavam ser possível. É um sonho vê-los neste patamar”, rematou.
Perfil de Nuno Veiga
Nascido a 5 de junho de 1980, Nuno Veiga dedica a vida profissional ao desporto, seja como treinador de futsal, cargo que desempenha atualmente na formação do CCRD Burinhosa, ou no pelouro do Desporto da Câmara de Leiria, de onde é natural. Começou como jogador de futebol no GRAP, em 1995/96, modalidade que praticou durante quatro temporadas. Em 2005, iniciou-se no futsal pela U. Leiria, que representou até 2010 até rumar à ADR Mata, emblema em que acabara a carreira. Em 2013, tornou-se treinador, função que desempenha há 15 anos e na qual já conquistou vários títulos