Católica fervorosa e frequentadora assídua da missa na Martingança desde os 5 anos, a octogenária Alda Santos sente o vazio desde que, na aldeia, a missa passou de semanal para quinzenal. É uma realidade fruto da crise de vocações na Igreja e da consequente falta de padres, que deixa o pároco Virgílio Rocio sozinho a liderar dez igrejas das Paróquias de Alpedriz e de Pataias.
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A insatisfação da martingancense é comum aos fiéis da Burinhosa, da Mélvoa, dos Pisões, de Paredes da Vitória, de Alpedriz, dos Montes, da Ribeira do Pereiro e da Moita, que, apesar de pertencer ao vizinho município da Marinha Grande, integra a Paróquia de Pataias. Já na vila, os serviços religiosos são regulares. “Não é possível haver missa ao domingo em todas as igrejas”, constata o sacerdote. “Estou sozinho e procuro gerir conforme há possibilidade”, justifica Virgílio Rocio, que lembra o tempo em que eram dois padres para Pataias e Alpedriz. Depois disso, chegou a haver um capelão ao sábado e ao domingo, “mas atualmente devido às dificuldades não tem havido capelão habitual”, reconhece o clérigo. “Na Páscoa perguntei a vários colegas, nem os franciscanos de Leiria ou os carmelitas de Fátima estavam disponíveis”, lastima Virgílio Rocio, que faz notar “que se criou o hábito de ter missa em cada igreja e esse é o sentido de uma comunidade fechada em si mesmo”.
Dentro das dificuldades, foi acordado que há missa à sexta-feira, alternadamente, na Martingança ou na Moita. Ao sábado é fixa em Pataias, no verão, às 18:15 horas de sábado e no domingo às 11:30 horas. Em Alpedriz e Montes, a missa é fixa ao domingo, às 8:45 horas. De forma alternada, aos sábados, há missa na Mélvoa, Burinhosa e Pisões. Além de Pataias, a missa é celebrada aos sábados também na Moita e na Martingança, de forma alternada.
A par dos serviços religiosos, o trabalho diário do pároco Virgílio Rocio também é burocrático, no cartório paroquial, no atendimento e a lidar com os processos de casamentos e batizados. “Dedico tempo ao estudo”, confessa o sacerdote, que se desdobra, igualmente, pelas várias reuniões de trabalho, no âmbito da Diocese, e pelo acompanhamento às equipas que dão formação na igreja, como os catequistas. Virgílio Rocio ainda encontra tempo para a edição digital da Folha Paroquial de Alpedriz e de Pataias, que é publicada todas as semanas.
O pároco do Norte do concelho de Alcobaça acredita que ajudar a colmatar a falta de sacerdotes passa pela criação de unidades pastorais, grupos de trabalho constituídos por leigos que se dedicam às tarefas administrativas, de forma a aliviar o trabalho dos párocos, que ficam, assim, mais libertos para o exercício do seu ministério. Ainda assim, também esse é um caminho penoso, pela dificuldade em encontrar pessoas que se dediquem a causas de forma desinteressada. “O mais comum é cada um procurar olhar para a realidade para ver que benefício pode tirar”, lamenta o pároco.
Há 19 anos em Pataias, a vila é, de resto, o local onde Virgílio Rocio esteve mais tempo. “É natural que as pessoas estejam mais cansadas do que eu”, brinca o sacerdote, para quem “beneficiará muito a comunidade haver mudanças”. É certo que o pároco também quer seguir a sua missão noutras paragens, mas a manifesta falta de padres pode adiar, para já, essa vontade.