Não abriu pela iniciativa da “Ti Lídia”, mas foi sob a sua alçada que a mercearia, a que depois também se juntou um café, foi gerida nas últimas seis décadas. No Valado de Santa Quitéria não há quem não conheça a mercearia e café da Ti Lídia, um estabelecimento comercial situado no centro daquela localidade da freguesia de Alfeizerão.
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Ao REGIÃO DE CISTER, a quiterense explicou que o negócio já tinha, “com toda a certeza”, mais de 90 de existência. “Isto era do António Rodrigues, conhecido por ‘Ti Nabo’. Há de ter mais de 90 anos”, recordava, explicando, depois, todo o processo até chegar às mãos da família Piedade.
O negócio – que junta um café num espaço contíguo – já não é tão próspero como outrora, “devido ao surgimento das grandes superfícies comerciais”, mas nem isso impede Lídia Piedade, na imponência dos 86 anos – faz 87 ainda este ano –, de manter a casa com história aberta. Mesmo que seja para vender o pão pela fresca ou para servir umas “bicas, umas cervejas ou para desenrascar alguns produtos à população”.
“Costumo dizer que as mulheres da minha idade estão no asilo, como chamo aos lares, mas eu por aqui continuo e por aqui quero ainda continuar”, brincava a multifacetada empresária. É que além de vendedora, a tarefa das contas da casa é ainda feita por ela. “Tenho aqui tudo direitinho”, mostrava.
No entanto, e porque já não é o dinheiro que a move, aquele estabelecimento é também ponto de socorro para a população analfabeta. “Às vezes, acabam por vir aqui as senhoras mais velhas para eu lhes ler as cartas que recebem”, notava, explicando tratar-se das cartas… da luz ou da água. “Já não se escrevem cartas de amor como antigamente”, brincava a “Ti Lídia”, que há uma década perdeu a companhia do amor de sempre e que, desde então, assume sozinha a gestão do negócio. “Venho abrir as portas por volta das 9 horas, mas só encerro por volta das 23:30 horas”, completava, dando conta de que é naquele lugar que se sente bem.
Além dos produtos típicos de mercearia, trata-se também de uma pequena drogaria onde os clientes podem encontrar de tudo um pouco. “Temos fruta, legumes, detergentes, bebidas, meias, pilhas…”, enumerava a octogenária, reforçando que, apesar de ter um estabelecimento aberto ao público, até gosta de estar… sozinha. “Há vezes que também gosto de estar no meu cantinho, a ver as minhas coisas na televisão”, gracejava Lídia Piedade, sempre com um sorriso de orelha a orelha.
Nos últimos anos, os dois filhos têm a convicção de que está na hora de encerrar as portas definitivamente, e a “Ti Lídia” até concorda. “Mas lá para os 90…”, atirava também, feliz da vida por fazer daquele o seu verdadeiro lar.