Nas ditaduras, já se sabe, os cidadãos perdem grande parte das suas liberdades. Mas em democracia, confesso que nunca me tinha ocorrido a ideia de perder a liberdade.
Susana Santos
Um destes dias alguém me perguntou se preferia viver com liberdade ou com conforto. Fiquei em sobressalto. Não por desconhecer a resposta, mas por não entender a pergunta. Como pode alguém imaginar uma vida confortável se não for livre, se não puder manifestar as suas opiniões, se os seus direitos estiverem cerceados e as suas opiniões condicionadas?
Nas ditaduras, já se sabe, os cidadãos perdem grande parte das suas liberdades. Mas em democracia, confesso que nunca me tinha ocorrido a ideia de perder a liberdade. É certo que ainda há pouco tempo admitimos alguns constrangimentos, porventura até demasiados, durante o período excecional da pandemia e apenas porque se tratou de um período ímpar das nossas vidas coletivas. Agora, que regressámos à normalidade, vejo, por todo o lado, bandos de vigilantes que procuram condicionar as liberdades de tudo e de todos. Não se pode fazer humor porque podemos ofender alguém, não se pode expressar uma opinião porque podemos melindrar uma pessoa, não se podem ler determinados livros porque usam uma linguagem que alguns consideram ofensiva, não se podem filmar, ou exibir ou citar determinados autores porque não são suficientemente inclusivos, ou corretos ou sustentáveis ou modernos ou lá ou que for…
Espero que este clima de aparente conforto com o politicamente correto não me impeça de viver num mundo onde posso emitir uma opinião minoritária, ou parva ou mesmo absurda e ser contraditada e, porventura, insultada, mas onde nem eu, nem os que de mim discordam sejam cancelados ou proibidos de falar.