Em 1974, fruto dos acasos da vida, os belgas Karl e Elizabeth Geerts estacionaram a sua caravana, ou “roulotte” como gostam de lhe chamar, na cidade de Alcobaça para uns dias de repouso. A receção calorosa dos alcobacenses foi de tal forma generosa que, volvido meio século, o casal, natural de Kontich, localidade próxima da cidade de Antuérpia, continua a escolher a “terra de paixão” – e o parque de campismo de Alcobaça, claro está, pois da viagem de caravana não abdicam – para desfrutarem de 15 dias de férias todos os anos.
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Até porque, como confidenciaram ao REGIÃO DE CISTER, já ganharam uma família por cá. “Temos uma família em Alcobaça de quem gostamos muito”, assevera Elizabeth, de 71 anos, que foi a “porta-voz” do casal por ser a que melhor entende português. Karl, de 84 anos, é mais recatado, entende a língua portuguesa apenas a espaços, mas nada que o impeça de criar laços com aqueles com quem se cruza todos os anos.
Karl e Elizabeth estão reformados, no entanto, continuam a apoiar o filho na gestão da Bakkerijmachines Geerts, uma empresa de produção e reparação de máquinas de padaria que os próprios fundaram. No entanto, há semanas, sejam as últimas do mês de julho ou as primeiras de agosto, de que não abdicam para tirar férias. Nomeadamente aquelas em que conduzem cerca de 2 mil quilómetros, equivalente a quase 21 horas, para rumar a Alcobaça e reencontrar amigos. “Temos gente aqui muito nossa amiga e que são família”, refere a septuagenária, sempre com alegria na voz, recordando algumas famílias que, ao longo dos anos, foram conhecendo na região. Por exemplo, a família da Esplanada do Artur, onde todas as manhãs fazem questão de ir beber o café e tomar o pequeno almoço.
Os dias são sempre preenchidos. Depois do café matinal, o casal gosta de dar um passeio a pé – dizia Karl que na Bélgica os jardins não são tão limpos quanto em Portugal – para depois iniciar a rota por vários monumentos da região, uma atividade que gostam de manter enquanto estão em Portugal.
E se o País “à beira mar plantado” é a fiel escolha destes belgas, a verdade é que a admiração pela região de Cister foi herdada por dois dos três filhos, que escolhem Valado dos Frades e Nazaré para passarem uns dias de descanso durante o verão.
Questionados se alguma vez pensaram em mudar-se definitivamente para Alcobaça, Karl responde prontamente que não, sublinhando, ainda assim, que quer “continuar a vir até Alcobaça até morrer”. A ideia foi corroborada pela mulher: “Alcobaça é muito bonita. Sentimo-nos muito bem aqui!”.
Uma caravana, dois sorrisos estampados nos rostos e uma simpatia que cativa todos aqueles com quem se cruzam. Assim se escreve, em poucas linhas, a história de um casal belga que há 50 anos ousou passar por Alcobaça e que… já não passa sem cá voltar, pelo menos uma vez por ano.