A história de “Uma aldeia portuguesa”, de António Gonçalves, retrata a vida de uma aldeia do centro litoral do País desde o início da II Guerra até 1972. O livro, que tem o apoio da União de Freguesias de Pataias e Martingança, vai ser esta sexta-feira, às 21 horas, no auditório dos Bombeiros Voluntários de Pataias.
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“A obra versa sobre uma aldeia fictícia, mas, na narrativa, cedo se percebe podia retratar Pataias, a terra natal do autor, ou, como faz questão de dizer o pataiense, de qualquer outra aldeia portuguesa por aquela data.
A II Guerra eclode em 1939, com a Alemanha a invadir a Polónia. Portugal não entra no conflito, mas sofre as consequências. “Livro-vos da guerra, mas não vos livro da fome”. A frase do presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, ilustra bem a situação nacional à época. “Este livro versa sobre a fome, a miséria, a repressão e doenças como a pneumonia e a tuberculose, que afetaram profundamente sobretudo as aldeias nos anos 40, 50 e 60”, explica o autor ao REGIÃO DE CISTER, que teve acesso à obra. “Uma aldeia portuguesa” não tem personagem principal, mas antes várias personagens típicas que retratam as vivências entre a comunidade.
A pequena aldeia – Santa Isabel – é uma terra onde se cruzam histórias em locais característicos, como a taberna do Zé da Torna, a barbearia do Aníbal “Pipi” ou a oficina do Vitinho, onde “toda a gente tinha medo de exprimir opinião, porque, segundo se dizia, até as paredes tinham ouvidos”.
O fenómeno da emigração está bem presente na obra de António Gonçalves, da mesma forma que são destacadas figuras fundamentais, como o padre, o médico e o professor, num meio pequeno e carenciado, com muitos pobres e alguns abastados. Não faltam as histórias de pancadaria nos bailaricos e outros palcos, nem tão pouco as alcunhas tão típicas. “Os nomes foram surgindo à medida que ia escrevendo”, conta o autor, que assume que a obra “fala muito sobre política”. Afinal, Portugal vivia sob ditadura, à semelhança de grande parte da Europa.
A obra, que o autor começou a escrever na pandemia, era um projeto pensado há algum tempo. “Sempre pensei que faltava um retrato de uma aldeia portuguesa a partir dos anos 40”, explica António Gonçalves.
O autor, pataiense de origens humildes, viu-se obrigado a trabalhar aos 10 anos, após perder o pai. Sempre quis “contrariar a fatalidade que estava destinada aos pés-descalços” e, depois de concluir o serviço militar, regressou à escola, concluiu o curso dos liceus e, anos mais tarde, o 12.º ano. Teve intensa atividade associativa em diferentes instituições, concluiu a licenciatura, uma pós-graduação e um mestrado em Gestão de Recursos Humanos, área que exerceu na Secil, como responsável das fábricas de Pataias e da Maceira.
Foi diretor do Jornal de Pataias, vereador na Câmara de Alcobaça e é o atual presidente da Concelhia do PS/Alcobaça.