Ana Carolina Silva é uma das atletas que vai representar a Seleção Nacional no Europeu de andebol feminino, que arranca hoje, na Suíça. Em entrevista ao REGIÃO DE CISTER, realizada durante o estágio de preparação, em Rio Maior, a nazarena, que cumpre história no andebol regional, traçou os objetivos e os sonhos para a competição, garantindo levar o “orgulho de ser nazarena”.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > Como se sente por ser a primeira andebolista da região a atingir tão alto patamar?
Ana Carolina Silva (ACS) > Sinto um orgulho enorme. Além de um marco histórico para mim, porque já estou há alguns anos na modalidade, isto era, sem dúvida, um objetivo que estava traçado. Poder estar a viver este momento é um privilégio. É um sonho tornado realidade. Há uns anos era um sonho muito distante e, com o tempo, trabalho e dedicação pela modalidade, conseguimos aproximar-nos deste objetivo. Agora estamos a viver um sonho e temos de desfrutar dele.
RC > Do que foram falando nesta preparação?
ACS > Para ser sincera, ainda não estou a acreditar a 100%. No dia em que ficámos apuradas, na Chéquia, senti imensas coisas que ainda nem sequer consigo expressar. Agora penso muito na minha família, nos meus amigos, porque já passei algumas fases em que pensei que isto não seria possível e nesses momentos refugiamo-nos muito na nossa casa e na nossa família, que nos dá aquele conforto para conseguir continuar a acreditar.
RC > Leva Portugal no peito, mas leva também a Nazaré…
ACS > Claro que sim. É muito aquela coisa da raça da Nazaré, do ser nazarena e tenho mesmo muito orgulho em ser nazarena. Sem dúvida, não me posso esquecer das minhas raízes porque se não houvesse andebol feminino na Nazaré, hoje não era jogadora de andebol e não estaria aqui.
RC > O que esperam deste Europeu?
ACS > Estamos há 16 anos a lutar por este objetivo e finalmente conseguimos atingi-lo. Estamos muito conscientes da responsabilidade que é estar a viver este momento. O que espero é desfrutar muito, porque não sei se voltarei a viver esta oportunidade, e estou bastante confiante de que vamos fazer um bom trabalho porque sinto que a seleção desenvolveu um trabalho muito sólido nos últimos anos. Estamos preparadas para chegar ao Europeu e fazer, de facto, um bom trabalho. Espero que a equipa consiga transmitir e demonstrar tudo aquilo que sabe e que é. Confio mesmo que podemos fazer um bom trabalho se tivermos essa capacidade de nesse momento fazer daqueles os nossos dias. Que esteja tudo alinhado para demonstrar o que somos e o nosso valor, que é mesmo muito. E é também além da competição, temos de mostrar que o andebol feminino em Portugal tem valor e que o desporto feminino merece mesmo ser respeitado. É uma luta para além da competição dentro das quatro linhas. É uma oportunidade muito grande mostrarmos que o andebol feminino em Portugal está a crescer.
RC > O primeiro jogo [hoje] será o mais difícil?
ACS > O primeiro jogo vai ter um impacto emocional gigante, pois vai ser a primeira vez que estas atletas vão estar numa competição de um nível tão alto. Emocionalmente pode trazer-nos um impacto um pouco diferente e que não estamos à espera, mas quando o árbitro apitar, vamos começar a focar naquilo que é o nosso objetivo e no trabalho que temos feito.
RC > Prevalecerá a irreverência de uma estreia ou a inexperiência em palcos como o que vão pisar?
ACS > Vamos tentar aproveitar isto e agarrar de uma forma positiva. Quando as pernas já não tiveram tanta força para correr, julgo que essa energia vai estar lá para conseguirmos dar a volta. O mais importante é que estamos mesmo muito motivadas e super felizes por este momento.
RC > Quem aponta como candidatos?
ACS > França, Noruega, Países Baixos, Dinamarca…
RC > Esta presença pode ser um ponto de viragem no andebol feminino em Portugal?
ACS > Sim porque é um impacto gigante uma equipa jogar uma competição deste nível. O andebol feminino só tem de crescer com isto, em ter jogadoras que jogam no campeonato português e vão ter esta oportunidade. Os clubes em Portugal vão ter também uma responsabilidade maior no que toca ao investimento, para que este seja apenas o começo de uma história. Com uma continuidade sem fim e para que possa ser recorrente continuarmos com estas presenças no Campeonato Europeu e do Mundo.
RC > E para que a Ana Carolina Silva seja uma inspiração também para as atletas da Nazaré e da região?
ACS > Sim, estou muito feliz por ser a primeira, mas espero poder contagiar essas meninas a continuarem a jogar e a lutarem pelos seus sonhos porque muitas vezes pensamos que estão muito longe, derivado às várias dificuldades, mas quando misturamos a nossa paixão com a nossa dedicação, as coisas são possíveis. Esta nossa participação no Europeu é um pequeno “lembrete” de que se acreditarmos e nos dedicarmos com tudo, conseguimos atingir os nossos objetivos e tornar os sonhos uma realidade.
RC > Regressar a Portugal a nível de clubes está no horizonte?
ACS > Neste momento não. Tenho bastantes objetivos ainda a nível internacional e gostava de poder competir noutras ligas, nomeadamente a húngara ou a romena. Considero-me uma jogadora jovem e com uma janela de oportunidade e crescimento. O meu sonho não fica por aqui.
Nazarena faz história e é a primeira da região a jogar um Europeu
Um momento único na carreira e para escrever na história da chamada região de Cister: Ana Carolina Silva (CB La Calzada, de Espanha), de 27 anos, é uma das 17 jogadoras que vai representar a Seleção Nacional no Campeonato da Europa, que arranca hoje e termina no próximo dia 15 de dezembro, na Áustria, Hungria e Suíça, tornando-se na primeira jogadora da região a conseguir tal feito no andebol ‘indoor’ feminino.
Portugal estreia-se hoje diante da Espanha, (17 horas), seguindo-se os embates com as congéneres da Polónia, no sábado (14:30 horas), e de França, na próxima segunda-feira (19:30 horas), no Grupo C da competição, que se vai disputar na cidade helvética de Basileia.
A Seleção Nacional vai voltar ao maior palco europeu da modalidade 16 anos depois da primeira e única participação lusa até à data, numa comitiva em que todas as atletas, e também o selecionador, são estreantes.
A lateral nazarena, que tem maior preponderância na estratégia defensiva da equipa das quinas, é uma das nove jogadoras que já ultrapassou a barreira das 30 internacionalizações, contabilizando 33, bem distante da capitã Bebiana Sabino, que já leva 145 jogos.
O derradeiro estágio de preparação decorreu em Rio Maior, durante a passada semana, e numa iniciativa simbólica, as jogadoras voltaram a vestir a camisola do primeiro clube da carreira. No caso de Ana Carolina Silva, foi mesmo o Dom Fuas AC, que vai agora também representar no Campeonato da Europa da modalidade e pelo qual deu os primeiros passos na modalidade.
Em 2007, a jogadora juntou-se à equipa feminina de infantis do Dom Fuas AC, clube que representou até 2010, ano em que se transferiu para a Juve Lis, emblema no qual encerrou a etapa formativa e pela qual se estreou como sénior. Seguiram-se Alavarium e Madeira SAD em Portugal até rumar a Espanha, onde já alinhou, além do CB La Calzada, pelo Atlético Guardés.