Na luta política, observamos insubordinações grosseiras, banalizações e depreciações do estatuto e simbologia da Assembleia da República, comportamentos malcriados de deputados, falando uns em cima dos outros, exprimindo-se através de gestos ordinários, enfim…
Gaspar Vaz
Esta frase, da autoria de Séneca (séc. I), pode ser encontrada na sua “Carta a Lucílio” (“Longum iter est per precaepta, breve et efficax per exempla” – 6,5) e é concordante com muitos outros aforismas e ditados populares. Aplica-se em situações em que “a letra não dá com a careta”, apelando para a necessidade de os princípios serem confirmados por uma prática efetiva. De facto, de nada valerá a defesa de belos e subidos princípios se, na prática, impera a vulgaridade. Lembrei-me desta frase de Séneca, a propósito de alguns episódios recentes. Comecemos pelo desporto. Aos primeiros dissabores, todo o verniz estala e os adeptos mais fiéis transformam-se nos críticos mais impiedosos, nos inimigos mais ferozes, ameaçando jogadores, treinadores e dirigentes. Nas lutas sindicais, parece passar-se o mesmo. Assim, classes e profissões em que sempre vimos (e, apesar de tudo, continuamos a ver) referências de responsabilidade e probidade, rebentam petardos, forçam cordões de segurança, exprimem-se em público sem autorização, com índices de ruído intoleráveis.
Na luta política, observamos insubordinações grosseiras, banalizações e depreciações do estatuto e simbologia da Assembleia da República, comportamentos malcriados de deputados, falando uns em cima dos outros, exprimindo-se através de gestos ordinários, enfim… E tudo isto se passa em direto, sem quaisquer filtros, nos media tradicionais, mas, sobretudo, nas redes sociais, extremamente permeáveis a notícias falsas, potenciadas pela emergente “Inteligência Artificial” que, sendo uma ferramenta extraordinária, nas mãos erradas, se transforma numa ameaça enorme. Neste cenário, a função da escola e das famílias complica-se e complexifica-se extraordinariamente. Como é que um professor vai chamar a atenção de um aluno que responde mal, que adota comportamentos inadequados… se ele apenas mimetiza ações de gente responsável? Em que cenário os pais poderão transmitir valores como a verdade, a sensibilidade, a honradez, a democracia…?
Mas é no meio deste cenário que a esperança tem de surgir, na forma de um tão singelo como sincero “Feliz Natal para todos”.