Mais de 16 mil pessoas já visitaram o Armazém das Artes desde que o espaço cultural, fundado por José Aurélio, em 2007, no centro histórico de Alcobaça, reabriu portas. Desde março de 2023 há uma nova vida a acontecer dentro do edifício icónico da cidade e da região. Nos mais de 2 mil metros quadrados, aconteceram mais de uma centena de atividades (119), entre exposições, concertos, oficinas criativas, apresentações de livros e discos, visitas guiadas. Mas, mais importante, foi possível aproximar as pessoas da cultura e da arte.
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“Esta reentré, esta possibilidade de reabrir o Armazém, além de ser uma ‘missão Kamikaze’, é uma viragem de página, uma lufada de ar fresco, que temos vivido com muito entusiasmo”, realça a gestora do Armazém das Artes. A ambição de Maria Manuel Aurélio, que agarrou na gestão do espaço e da programação do equipamento desde a reabertura, para o ano de 2024 era receber 10 mil visitantes. “Atingimos mais de 11 mil e isso é sinal que alguma coisa estamos a fazer bem. Sinto que há cada vez mais pessoas da região a vir cá. Temos tentado variar bastante o tipo de oferta. Por força da localização geográfica, não podemos ter só uma casa aberta e ter umas coisas pontualmente, temos de estar sempre, sempre, sempre a oferecer coisas e coisas de diferentes interesses”, resume. A iniciativa “DJ Fire Party” é um desses exemplos. “Uma coisa simples, como juntar música, bebida e fim de semana, tem sido um sucesso. Diria que 80% das pessoas que vêm a essa iniciativa nunca tinham entrado no Armazém e hoje em dia são clientes regulares. E 20% desses 80% fazem outras coisas no espaço”, explica Maria Manuel Aurélio, para quem “o Armazém tem de ser um sítio ‘quente’, onde as pessoas se sintam confortáveis, onde podem vir beber um café, ler um livro, dizer um olá ou comprar uma prenda”. “Não têm de vir num exercício altamente erudita de ler os textos todos das exposições. A casa está aberta para todos”, acrescenta a alcobacense.
Acreditando que o Armazém das Artes pode “mudar o panorama cultural e social em Alcobaça”, Maria Manuel Aurélio definiu como grande objetivo “aproximar as artes e a cultura do público”. “Parece-me que as artes e a cultura assumiram um papel tendencialmente secundário na vida das pessoas. O próprio setor tem acabado por ter uma responsabilidade nesse afastamento ao criar discursos herméticos de difícil leitura para pessoas que não sejam do setor. No entanto, se pensarmos bem, a expressão plástica acompanha-nos desde sempre. E tem sido uma das grandes missões do Armazém das Artes, esta reaproximação na vida quotidiana das pessoas da cultura e da arte”, resume.
O Armazém das Artes iniciou atividade em 2007 e encerrou ao público em 2012. Em março de 2023 reabriu portas, com o apoio do Município de Alcobaça, e retomou, assim, a atividade regular e missão à qual se entrega. Vê nas exposições o principal eixo de ação, mas tem promovido várias outras atividades. De março a dezembro de 2023, o espaço recebeu 5.600 visitantes e ao longo do último ano de 2024 passou a barreira dos 11 mil. Este ano, em que assinala os 18 anos de existência e os dois da reabertura, Maria Manuel Aurélio quer “manter o mesmo número de visitantes”. “Vamos fechar umas semanas antes e tudo muda aqui dentro. É a nossa mudança de ano”, refere Maria Manuel Aurélio, desvendando alguns projetos em curso e outros pensados para o futuro.
“A Fundação tem uma coleção de arte contemporânea portuguesa estupenda, que não envergonha ninguém. Partilhamos obras de artistas que estão contemplados em coleções muito relevantes de espaços culturais nacionais. É muito importante não só o Armazém valorizar essa coleção, o que até à data não tinha acontecido, como sobretudo as pessoas se irem apercebendo que essa coleção existe”, adianta a diretora executiva do Armazém das Artes. Nesse sentido, está a ser feito um trabalho de bastidores com a recuperação e catalogação das obras, a inventariação, a formalização de doações – este ano a coleção deste espólio vai quase duplicar só em formalizações de doações que aconteceram. “Há uma necessidade urgente da valorização deste património e de o dar a conhecer”, refere a alcobacense. “Temos feito coisas muito interessantes que anunciam um caminho neste sentido, como os contos nocturnos e o projeto ‘Aprender com a Arte’ com a Academia de Música de Alcobaça”, acrescenta. Mas, muito há por fazer e valorizar na “Gulbenkian” de Alcobaça.
“O edifício precisa de obras grandes, há problemas estruturais para serem resolvidos. Essas obras são muito dispendiosas mas necessárias para se pensar em parcerias mais ambiciosas“, ressalva. Intervenções como colocação de painéis solares, mais casas de banho, isolamentos, substituição dos projetores por leds, funcionamento do elevador e iluminação na fachada são necessárias, mas difíceis de concretizar. “Somos uma fundação cultural sem fins lucrativos, mas há muitas despesas e é necessário darmos o passo seguinte com a ajuda da comunidade e das várias entidades locais”, confessa. “Gostava que este ano fossem colhidos mais frutos da relação comercial com as várias entidades”, acrescenta a gestora. Certo é que há muitas ideias, vontade e entusiasmo de assumir o Armazém das Artes como uma referência no panorama nacional das artes.