Domingo, Junho 22, 2025
Domingo, Junho 22, 2025

E agora, José? Na ressaca das últimas eleições

Data:

Partilhar artigo:

Creio que sempre acreditei, com pequenas variações, nas mesmas causas que agora defendo. Sempre acreditei na propriedade privada, mas com reservas.

Gaspar Vaz

Já várias vezes convoquei o “José” e o seu criador, Carlos Drummond de Andrade: “E agora, José? / A festa acabou, / a luz apagou, / o povo sumiu, / a noite esfriou, / e agora, José? / e agora, você? / você que é sem nome, / que zomba dos outros, / você que faz versos, / que ama, protesta? / e agora, José?” Nunca me senti tão “José” como agora, como se estivesse naquele tempo depois de uma batalha perdida.

Creio que sempre acreditei, com pequenas variações, nas mesmas causas que agora defendo. Sempre acreditei na propriedade privada, mas com reservas, porque ninguém pode começar a vida com tanta margem de avanço nem com tantos pontos de atraso. Sempre acreditei na democracia, no sentido de dar voz ao povo, e, sobretudo, aos mais desfavorecidos.

Esta é a minha marca de “esquerda”. Os bem-nascidos, os mais capazes são produtos da natureza e são por ela defendidos. Chegarão, “naturalmente”, mais longe e não têm de pedir desculpa a ninguém por isso. Eu, porém, sempre achei que, através da obra humana, a natureza pode ser humanizada pela educação cívica, pela religião, pela realização técnica. Também sempre pensei, depois de um primeiro assombro nacionalista, que a Península Ibérica, primeiro, e a Europa, depois, seriam melhores espaços para viver. Porém, depois, veio Trump, Le Pen, Orban, Bolsonaro, Putin, o Brexit…

Região de Cister - Assine já!

Depois, veio uma educação que confundiu felicidade com facilitismo. Depois, veio uma cultura que não deixou de olhar para o passado como a terra prometida. E, falando disso, depois, veio Israel que, nascido da boa-vontade de uma cultura abraâmica, se tornou uma entidade equívoca, capturada por interesses locais, em que Smotrich ou Ben-Gvir podem, ou não, mandar Netanyahu para a cadeia.

Em vez disso, enviam milhares de pessoas para infernos inomináveis, ao pé dos quais os campos de concentração nazi se naturalizam.

A história não é, nunca foi, uma estrada direita que vai do mal ao bem. Continuo, porém, otimista, de acordo com o meu mestre de ver as coisas, Alberto Caeiro: “Passou a diligência pela estrada e foi-se; / E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia / Assim é a ação humana pelo mundo fora. / Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos; / E o Sol é sempre pontual todos os dias.”

AD Footer

Artigos Relacionados

Cláudio Azoia é o novo presidente do HC Turquel

Cláudio Azoia foi eleito, na passada sexta-feira, presidente do Hóquei Clube de Turquel. O ex-vogal da Direção do...

Montes acolheu festa dos Bombeiros de Pataias

Nos Montes, a emoção foi bem visível, no passado dia 15, no final do discurso do presidente da...

APA faz derrocadas em rocha com risco de rutura iminente na Nazaré

Por existir, na arriba do Sítio, uma massa rochosa “com fortes sintomas de instabilidade e indícios de rotura...

CDU volta a apresentar João Paulo Delgado como cabeça de lista à Câmara da Nazaré

João Delgado volta a ser o candidato pela CDU à Câmara da Nazaré nas eleições autárquicas. “Com uma trajetória...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!