Até há relativamente pouco tempo, não saía de casa para um passeio à beira-mar ou na serra sem levar comigo um saco para apanhar lixo.
Susana Santos
Diz o adágio que os santos da casa não fazem milagres, mas na nossa casa, isto é, na nossa região, este ditado parece não ser aplicável. Acabo de saber que Alcobaça e Nazaré constam da lista dos municípios com mais praias classificadas com o selo de Zero Poluição, atribuído pela associação com o mesmo nome, a Zero. Não sei se também classifica serras, mas se o fizer e quando o fizer, estou certa de que as nossas serras de Aire e Candeeiros, hão de ostentar um selo idêntico, que também se pode estender aos rios e ribeiros. O Salgado, que é, já agora, a minha praia, Água de Medeiros, Légua e Pedra do Ouro foram as praias agraciadas e fazem parte de uma extensão de 20 Km de costa com águas limpas e um cheiro a maresia que se cola à pele e nos limpa a alma.
Até há relativamente pouco tempo, não saía de casa para um passeio à beira-mar ou na serra sem levar comigo um saco para apanhar lixo. Os meus amigos gozavam comigo, diziam que tenho costela de cantoneira, mas a verdade é que a quantidade de plástico trazida pelo mar ou abandonada nas matas me perturbava e, mesmo sabendo o quanto era pequeno o meu gesto, não conseguia evitar fazê-lo. Com o passar do tempo, os meus sacos foram, progressivamente, sendo menos necessários. Agora, chego a fazer 10 km à beira-mar e outros tantos no meio da serra sem conseguir apanhar uma única garrafa de plástico, o que é, para quem viu o que eu vi há uns anos ou mesmo noutras regiões do globo, um verdadeiro milagre. Direi o mesmo dos nossos rios, cujo cheiro, tantas vezes nauseabundo, nos perseguia até às praias onde desaguam, depois de ter infestado as aldeias e a cidade de Alcobaça e que agora estão cheios de peixinhos e de rãs.
É certo que ainda estamos longe de valorizar como devemos a natureza e as maravilhas com que nos brinda. Mas, nesta semana em que começa a época balnear, vale a pena agradecer a todos os que têm contribuído para cuidar a nossa serra e o nosso a mar, que são, como os versos da Sophia, um verdadeiro milagre que nos acontece a cada dia: “De todos os cantos do mundo / Amo com um amor mais forte e mais profundo / Aquela praia extasiada e nua / Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.”