Quando recebi o convite para escrever uma coluna este jornal, não hesitei em escolher o nome: Passadeira.
Sendo uma cidade pequena, com um trânsito que em nada se compara ao das cidades maiores, reparei que um dos grandes desafios quotidianos de um morador de Alcobaça é passar, em segurança, numa passadeira.
Já vi isto a acontecer, a mim e aos outros, mais vezes do que seria civilizado:
Um autocarro do expresso, a caminho da rodoviária, ia-me arrancando o nariz na passadeira em frente à funerária; ao pé do café Pingo de Mel, já eu estava em plena passadeira quando uma carrinha comercial me ia abalroando, dei-lhe um toquezinho com os dedos na chapa, o rapaz não gostou e ainda me disse para não tocar no carro dele; outro dia ao pé duma escola de condução, outro rapaz com um bom carro não só passou primeiro, como disputou a legitimidade da minha passagem no sitio designado para isso mesmo. Isto tudo como peão.
Como condutor, já me apitaram e ultrapassaram na passadeira quando estava parado para deixar passar os peões (Largo João de Deus); e o mais cómico, se desse vontade de rir, foi quando fui levar os livros usados do meu filho, à Frei Estevão Martins, duas mães mal-estacionadas (uma das quais, já em terceira fila) à porta da escola, em cima da passadeira, em alegre converseta. Não me livrei da má cara de uma delas quando apontei o absurdo desplante, especialmente porque os nossos filhos tiveram todo o ano de entrar pela escola num circuito alternativo (digno de uma prisão militar) por causa do mau civismo dos pais e mães.
Remato por dizer que também há uma passadeira que entra e sai de dentro do Glamour, megaloja chinesa, e que por isso tapa qualquer visibilidade ao condutor de quem atravessa vindo de dentro da loja.
Há um vídeo asiático no IG a gozar com esta situação: quando um carro não para na passadeira, aciona dispositivos que podem ser barreiras, antiaéreas ou martelos gigantes que o destroem.
Talvez fosse isso o que Alcobaça precisa.