Depois de ver o lembrete, sempre amável, da diretora deste jornal, vi, na mesma plataforma, uma mensagem de alguém que já não via há mais de 40 anos. Era da Elisa. Olhando para as informações e para um rosto bonito, soube, quase logo, que a Elisa era a irmã da Zinha. O nome “Zinha” remete-me para uma pessoa que eu conheci, quando tinha 19 anos, lá para o norte. Chamava-se Fátima, mas todos a conheciam por Zinha. Mesmo ligado a outros interesses, sempre achei lindo e delicado aquele rosto, “atento como antena”, como disse Sophia. Por cerca de 40 anos, o nome “Zinha” foi-se desvanecendo, até se tornar inexistente. Porém, muitos anos depois, as redes sociais – que poderiam ser um instrumento fantástico de comunicação, não fossem os sujos jogos de poder – redescobriram-me a Zinha: era uma professora de 1º ciclo, tornada infeliz, “por culpa sua”, assim dizia, pelas voltas da sua vida pessoal. Mas continuava a Zinha de sempre: sensível e bonita, melómana de êxitos que tão bem conheci dos anos 80 e 90. Como foi gostoso ouvir e rever, por intervenção sua, esse período da minha história.
Por isso, estou devastado. E por várias razões. Pela Zinha, em primeiro lugar: não há direito de a vida ter estas escolhas. Em vez da Zinha, um ser bonito que acrescenta(va) sempre humanidade e beleza a qualquer circunstância, a vida conserva seres feios, vingativos e secos como Putin, Netanyahu, Trump, Orban.
Descubro, porém, mais uma vez, a verdade do pensamento de um autor maldito, segundo o qual, dramática, é a morte de uma pessoa; a morte de milhares ou milhões de pessoas releva apenas da estatística.
É cínico, Zinha, eu sei. Mas é a verdade. Hoje, esqueci as matanças em Gaza ou na Ucrânia, por tua causa. Mas fiz bem. A tua memória merece um hiato. Porque eras linda e tranquila, ser-me-ás sempre suave à memória.