Li um artigo fenomenal no Imagens de Marca, de José Borralho, Chairman & Inspiration Officer Consumer Choice. Conteúdo pertinente apropriado à vertigem digital. A reflexão direciona-se ao universo do Branding e apela à responsabilidade moral das marcas como construtores de ética social. Mas num 1º momento observamos uma descrição da sociedade atual, e que por ser extensível a vários quadrantes partilho convosco. O autor afirma que “vivemos num tempo estranho” onde “todos têm voz, mas quase ninguém escuta”. Fala “de aparências onde a moralidade se tornou performativa e a escuta, um recurso escasso”.
Nas redes sociais observam-se “avalanches de opiniões, indignações, certezas morais e julgamentos relâmpago” e por isso questiona se “será mesmo democracia o que vivemos hoje”. As suas palavras tomaram-me de assalto. Particularmente no parágrafo onde afirma que vivemos na era da “vigilância metediça”. Explica que é “uma espécie de censura informal exercida por milhões de dedos invisíveis, atentos, indignados, sempre prontos a corrigir, denunciar, envergonhar.” E “todos opinam, mas poucos refletem. Todos gritam por liberdade, mas poucos a sabem sustentar”. As palavras de Borralho são valentes. É preciso bravura para partilhar a verdade. Intrépido, acrescenta que hoje o “erro é sentença pública, e o silêncio, muitas vezes necessário, é interpretado como conivência”. O que ele nos diz é que a liberdade digital se transformou no tempo dos implacáveis repreensores que confundem liberdade com licenciosidade. Entendemos isso quando refere que hoje se confunde “empoderamento com exibicionismo e liberdade com o direito de corrigir o outro”. Finda com algo incontestável – “o sucesso alheio é desconfortável e a felicidade incomoda”. Segundo o autor é isso que faz de nós “vigilantes metediços” – “atacamos com preocupação encenada” escondida atrás de ressentimentos. Borralho diz que “vivemos num tempo onde o egoísmo se disfarça de autoexpressão, e a inveja de opinião bem-intencionada; “damos opinião como quem oferece um presente, quando na verdade se trata apenas de descarregar frustração mal resolvida”. Concordo. Mas digo-vos que vamos a tempo de voltar a “escutar com empatia”, de agir “com ética de construção” e de impactar a sociedade com ações de coragem e responsabilidade.