O autarca há mais anos em funções na região faz o balanço de um primeiro mandato como presidente da Câmara de Alcobaça. Com uma equipa renovada, o candidato do PSD volta a pedir a confiança do eleitorado para cumprir o projeto iniciado há quatro anos.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > Foi eleito presidente de câmara há quatro anos, mas já integrava o executivo desde 1997. Quais foram as principais dificuldades em passar a ser o número 1?
Hermínio Rodrigues (HR) > Sabemos que a decisão final cabe ao número 1. Enquanto vereador respeitei sempre os meus antecessores. Não é que vereador signifique ter vida mais fácil, o trabalho de vereador é fundamental. Um bom vereador torna a vida mais fácil ao presidente. Não tive grandes complicações em assumir a função de presidente porque conheço a câmara em toda a profundidade, desde a parte financeira ao pessoal. Não há praticamente nada que não conheça. E isso tornou o mandato mais fácil.
RC > O que o motiva a tentar um segundo mandato à frente da Câmara de Alcobaça?
HR > As pessoas. Sou muito próximo das pessoas. Encaro esta recandidatura como uma missão e um compromisso de continuar com a proximidade com os alcobacenses e, acima de tudo, desenvolver o que falta do projeto que apresentei há três anos e meio. Estamos em final de mandato, infelizmente não consegui concretizar todos os compromissos a que me propus. Mas a grande maioria foi cumprida. Este trabalho desenvolve-se com uma equipa de vereadores e de colaboradores do município. Gosto de cumprir com a minha palavra, mas nem sempre é fácil. Tenho um grande projeto, que praticamente foi o único que não cumpri, que é o das ciclovias. Está desenhada, começámos já na Benedita, mas queremos que se desenvolva em todo o concelho. Espero concretizar no próximo mandato.
RC > Há uma grande alteração na equipa que se apresenta agora a votos. Porquê a ausência de João Santos?
HR > Foi uma posição pessoal dele. Felizmente, a vida, a nível particular, está-lhe a correr bem. Disse-me que não tinha condições para estar a tempo inteiro e preciso de uma equipa a tempo inteiro. Fica um agradecimento pelo seu trabalho excelente nos seus pelouros. Vou buscar outras pessoas para trabalhar comigo e muito direcionadas. Fui buscar gente de várias áreas sociais. José Vinagre para a área do desporto. Queremos apostar no bem-estar e na felicidade das pessoas e o desporto tem de estar presente. Quero continuar a apostar fortemente no ensino e aí temos o Alcobaça Hub, fundamental para a qualificação e para reforçar o ensino superior no concelho. Nesse caso, fui buscar a professora Paula Malojo, que já foi deputada na Assembleia da República. Continua ao meu lado Paulo Mateus, também um homem do povo. E estamos a apostar fortemente na juventude, com os restantes candidatos. Estou muito bem acompanhado. O mesmo se passa para a Assembleia Municipal. Carlos Marques fez um trabalho magnífico e também me ajudou muito.
RC > Houve necessidade de ir buscar novas caras para atenuar o facto de ser o autarca com mais anos de funções no executivo?
HR > Não. Apostei, acima de tudo, na juventude. E vai ser uma aposta ganha. Entrei na câmara com 27 anos, sem experiência. São candidatos a vereadores, não são candidatos à câmara. Quero apostar na juventude para ganharem experiência e futuramente Alcobaça estar preparada para ter excelentes candidatos à câmara. É esse o trabalho que também me compete fazer. Preparar gente jovem para daqui a quatro, oito anos, estarem preparados para assumir à câmara. Estamos a falar de uma autarquia que tem um orçamento de quase 100 milhões de euros, com os Serviços Municipalizados. Somos das maiores empresas do concelho. Tem de haver muito rigor e, acima de tudo, é preciso conhecer a casa. Não é um paraquedista, desculpem o termo, que chega e faz. São precisas lideranças fortes para concretizar grandes projetos.
RC > Chega ao final do mandato com menos uma vereadora a tempo inteiro. Afinal, o que aconteceu? Houve mais do que divergências pessoais na saída de Inês Silva?
HR > Não, nem foram divergências pessoais. Foi uma decisão pessoal dela, que aceitei. Não fiquei inimigo da senhora vereadora, pelo contrário. Tenho muita estima por ela. Fez um excelente trabalho. Foi uma opção pessoal dela, que respeito e respeitei sempre. Com a saída da Inês [Silva], entrou uma jovem que nos tem ajudado muito.
RC > Desde a renúncia de Inês Silva que foi necessário redistribuir pelouros e com isso ficou com mais dossiês. Não teme que o acusem de ter sido um presidente ‘presidencialista’?
HR > Já tinha poucos pelouros porque entendo que o presidente não deve ter todos os pelouros. Com a saída da vereadora Inês, assumi a educação e a cultura. Não é um trabalho só meu, é de uma equipa. Tentaram encostar-me ao presidencialismo, mas provou-se o contrário. Os vereadores têm o seu espaço de manobra, de apresentar os seus projetos e as suas ideias. Claro que a decisão final, por norma, é do presidente ou da câmara e aí somos sete vereadores. Assumi os pelouros porque a Anita [Soares] estava a terminar a licenciatura em Medicina, o João [Santos] ficou com as obras particulares e as obras municipais, que era da senhora vereadora, continuaram a ser geridas em grande parte pelo vereador Paulo Mateus. Como disse, fiquei com a educação, que já tinha em parte, e com a cultura, que é transversal e que não pode ser só de um vereador. O presidencialismo fica na câmara, nas reuniões de câmara, com os sete vereadores. Se fosse o tal presidencialista, como muita gente fala, como é que ouvia toda a gente e estava próximo das pessoas?
RC > Olhando para estes quatro anos, há uma série de assuntos resolvidos. Mas, apesar disso, não há um projeto estrutural de Hermínio Rodrigues… É preciso um segundo mandato para que isso aconteça?
HR > Sabíamos que tínhamos uma série de dossiês por resolver, que não eram fáceis. Assumi desde a primeira hora que era uma prioridade fechar esses dossiês. E isso é um sucesso absoluto. Falo do PDM, andámos 20 anos para rever o PDM. Temos o PDM aprovado, vai ser publicado agora durante o mês de setembro. Fechámos o problema da Cister Equipamentos SA, que se vinha a arrastar. Falta mais um visto do Tribunal de Contas para podermos pagar às Finanças e fica resolvido. Temos fechada a aquisição dos armazéns da Rua D. Pedro V, outro dossiê pesadíssimo. Conseguimos negociar com os privados e hoje o espaço é do município. Fechámos o dossiê da ALEB, hoje com 90% dos lotes vendidos. O Panorama, uma obra estruturante, está feito. Executámos o que faltava da obra e está paga. Somos um município sem dívidas. A nível de empréstimo, a médio longo prazo, falamos de 200 mil euros, que não é nada para um município com um orçamento de 100 milhões. Mas, que se diga, não deixámos de investir. Temos uma média de investimento de 15 milhões por ano. Se queremos ser um concelho atrativo temos de ter estas duas respostas: educação e saúde. Na educação, terminámos a obra da Frei Estêvão Martins, lançámos o projeto de Pataias, onde infelizmente estamos a ter alguns problemas com o empreiteiro, mas a obra está adjudicada. Estamos a fazer o projeto da Escola D. Pedro. Falta-nos Vimeiro, que é uma escola antiga, e em São Martinho do Porto estamos a avaliar se temos condições de criar uma única unidade escolar para centralizar o que temos. E estamos também a estudar o eixo de Coz, Alpedriz e Montes. Na área da saúde, o que tínhamos proposto no início do mandato cumpri. Centro de Saúde de Alfeizerão: está lançado o concurso, está por adjudicar. Centro de Saúde da Cela: lançado o concurso e adjudicada a obra. Centro de Saúde de Évora: lançado o concurso e adjudicada a obra. Em Alcobaça: uma USF está no centro de saúde e outra nas instalações da antiga clínica São Francisco. Já temos um estudo prévio para a execução de um novo centro de saúde em Alcobaça, que se situa nas traseiras dos bombeiros. E queremos deixar o atual espaço para dar outras respostas e valências ao hospital, que temos apostado também. Não temos nenhum centro de saúde fechado e somos dos poucos na região Oeste que temos médicos em todo o espaço. Não tínhamos médico em São Martinho e em Alfeizerão e já temos. Queremos criar uma unidade de saúde familiar entre Alfeizerão e São Martinho. Se conseguirmos, no âmbito de cuidados primários, ficamos com resposta a 100%. A nível social, também foi feito muito. Quando cheguei à câmara, eram atribuídas 50 bolsas de estudo. Este ano foram atribuídas 268 bolsas. Todos os jovens alcobacenses, desde que cumpram com os indicadores financeiros, têm bolsas de estudo. Passámos de um investimento de 50 mil euros para 400 mil euros nesse particular.
RC > A habitação ainda está por resolver…
HR > Falta a construção. No privado, manda-se fazer um boneco e rapidamente está-se a construir. Na câmara não é assim. É preciso anteprojeto, estudo prévio, projeto… estamos a falar de quase dois anos até à execução da obra. Vimos o espaço onde queríamos começar o projeto de habitação jovem acessível. Foi uma opção política não ir ao PRR, dirigido a outro tipo de habitação. Apoiamos 100 famílias e com este apoio demos qualificação e valorização do património mais degradado. Estamos a dar um apoio só para rendas de 100 mil euros por ano. Estou convicto que o projeto da habitação é para arrancar em janeiro. São 120 apartamentos, que vamos fasear. Se houver condições e se formos atrativos, conseguimos jovens talentosos, que muitos já trabalham em casa.
RC > O CDS não vai a votos, houve alguma tentativa de coligação com o PSD?
HR > Houve conversas. Não fizemos coligação nos últimos 24 anos com o CDS, não era agora que ia haver. Podia haver para uma junta ou outra, mas não foi esse o entendimento das partes.
RC > A pouca experiência do candidato do PS, principal opositor do PSD ao longo dos anos, dá-lhe mais confiança para estas eleições?
HR > A confiança não é pela oposição, a confiança que tenho é em mim e na minha equipa. Tenho é de olhar para as propostas que tenho para o concelho. A tal experiência que falo, falo em relação a mim. Os restantes candidatos, de gestão autárquica também não têm. Os únicos candidatos à Câmara sou eu e o Rogério Raimundo. Os restantes estão a propor-se como vereadores.
RC > O que será uma vitória?
HR > Ganhar as eleições. Penso que tenho feito um excelente mandato. Não está tudo feito, mas há propostas concretas e sabemos para onde ir. O programa está praticamente concluído. Felicidade, economia e território continuam a ser os eixos prioritários.
RC > O projeto que tem é possível realizar em 8 anos? Ou serão necessários 12?
HR > Espero que sejam oito. Sabemos que ficam pequenas franjas por realizar. Mas, estou convicto que em dois mandatos consigo realizar os meus sonhos e dos alcobacenses. Pode ficar uma pequena aresta e, por isso, não vou fechar a porta em dizer que em oito anos vou conseguir executar tudo. Se não conseguir, veremos daqui a quatro anos. Agora apresento um projeto para os próximos quatro anos. Mas, pelo que concretizámos nestes quatro anos, penso que temos condições para executar nos próximos quatro.