Depois de se ter candidatado à Câmara de Leiria em 2021, o liberal vai a votos à Câmara de Porto de Mós, com uma candidatura assente na proximidade, transparência e eficiência.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > Em 2021 foi candidato à Câmara de Leiria. Agora apresenta-se a votos à Câmara de Porto de Mós. Porquê esta mudança de território?
MARCOS RAMOS (MR) > É muito simples. Sou natural de Leiria, a minha família materna é de Leiria, mas vivo, desde sempre, com pequenos intervalos para estudo e trabalho, em Mira de Aire. Há quatro anos começámos o caminho para uma candidatura em Porto de Mós, que acabou por se materializar apenas na freguesia de Mira de Aire. Tínhamos também a decorrer este trabalho autárquico no concelho de Leiria. Sendo o coordenador do núcleo de Leiria e sendo também de Leiria, a escolha acabou por recair em mim há quatro anos. Este ano, os leirienses estão muito melhor servidos com o Paulo Ventura e pude-me focar em Porto de Mós, onde resido.
RC > Além da ligação afetiva ao concelho, que motivações justificam esta candidatura?
MR > As minhas motivações prendem-se muito com as propostas que temos para apresentar e com as ideias que a Iniciativa Liberal defende e que subscrevo. Acreditamos que é possível fazer mais com políticas autárquicas focadas no indivíduo, em que cada um tem a liberdade de desenvolver os seus projetos e fazer aquilo que bem entende, de forma responsável. Consideramos que falta liberalismo em todas as autarquias. Temos propostas válidas para apresentar e estamos aqui com esse propósito, para nos fazermos ouvir e para conquistar o nosso espaço. Ao mesmo tempo, julgo que sou a pessoa certa para encabeçar este desafio da Iniciativa Liberal para a câmara.
RC > Foi também o número 2 do partido na lista candidata à Assembleia da República nas legislativas deste ano. Essa experiência impulsionou esta candidatura?
MR > São eleições diferentes. Tive a honra de ser o número 2 pelo partido atrás do André Abrantes do Amaral. Acredito veementemente que devia ter sido eleito porque Leiria já merece um deputado liberal há algum tempo. Já acreditava que o Miguel Silvestre em 2024 devia ter sido eleito porque ia fazer um excelente trabalho. Mas, por poucos votos, ainda não foi desta. Acredito que seja para próxima. Estou na política de forma descomprometida e de forma abnegada. A minha ideia é contribuir, de uma forma desinteressada. Juntei-me à política, na verdade, por causa do meu filho. Ele nasceu e eu pensei que queria contribuir, fazer alguma coisa, para que ele, se quiser emigrar daqui a uns anos, seja por opção própria e não porque não tem alternativas. Quero fazer esse percurso, tentar melhorar um bocadinho o País, começando à minha porta, no meu concelho.
RC > Essa heterogeneidade é também aplicável em Porto de Mós…
MR > Este conhecimento do território e das suas diferenças acaba por ser muito importante para uma boa gestão autárquica e para uma boa candidatura. O concelho de Porto de Mós tem características únicas, nomeadamente o enquadramento natural onde está, com o Parque Natural, mas, ao mesmo tempo, também tem desafios que acabam por ser sensíveis e criar dificuldades às pessoas que cá vivem. A mobilidade é um desses desafios. O concelho é atravessado por estradas nacionais, uma delas altamente violenta, que é o IC2. Temos trânsito de atravessamento e com isso excessos de velocidade, acidentes e atropelamentos que já não deviam haver. A zona da serra, em freguesias como São Bento e Arrimal e Mendiga, tem desafios mais característicos da sua condição mais rural. Há um abandono habitacional, com casas devolutas. É importante ter esta visão integrada do território e ter uma abrangência que nos permita identificar as principais causas e apresentar propostas que procurem colmatar estes desafios.
RC > Chegado aqui, não teme que os eleitores vejam nesta candidatura uma missão pessoal de afirmação política?
MR > Vou dizer que não e sim, porque as candidaturas autárquicas são altamente pessoais. Há um foco muito maior na pessoa do que no partido. Por isso é que também vemos pessoas a saltar do partido A para o partido B, como acontece em Porto de Mós. São eleições altamente pessoalizadas ou personalizadas. O meu foco é contribuir para o concelho onde estou, melhorando as condições de vida dos que cá vivem e dos que virão.
RC > Depois de 23 anos no setor privado, sente-se preparado para lidar com os desafios e limitações da administração pública local?
MR > Defendemos que gerir uma entidade pública deve ser como gerir uma empresa, com responsabilidade, com indicadores, com eficiência nos processos, com muita transparência. Trago uma bagagem importante da minha experiência profissional para o setor público para contribuir para essa melhoria. Os recursos públicos não são do Estado, são nossos, enquanto cidadãos, e devem ser geridos de forma criteriosa e com muito cuidado para que cada euro investido seja investido e não um gasto. Esta experiência profissional que transita do setor privado e empresarial para o setor público acaba por ser importante.
RC > O que o leva a acreditar que um partido como a IL, com um discurso marcadamente urbano e nacional, consegue convencer o eleitorado de um concelho como Porto de Mós?
MR > Não é fácil. Há essa leitura do posicionamento da Iniciativa Liberal para meios mais urbanos, ainda que, estando cá dentro, não é tanto assim como se pinta. Mas, basta olhar para as estatísticas, e temos mais incidência nos meios mais urbanos. Acaba por ser factual, não há como negar. O que cria desafios nos meios mais rurais, sobretudo em pessoas com pouca formação, é que acabam por não perceber, às vezes, termos mais técnicos. Contra mim falo, mas tenho vindo a melhorar isso. O liberalismo não é uma parangona, uma palavra bonita. É uma ferramenta nacional ou internacional, que pode ser aplicada ao nível local. Temos de conseguir chegar às pessoas e explicar-lhes que estamos aqui para lhes melhorar a vida, para lhes dar melhores condições. A proximidade é uma das nossas linhas-mestres, além da transparência e eficiência. Queremos ouvir as pessoas, só assim faz sentido. Há muitas coisas podem ser resolvidas com menos burocracias ou agilização de processos ou digitalização. Os meios rurais são efetivamente um desafio, mas temos vindo a entrar em alguns territórios. Posso dar o exemplo de Mira de Aire: com um orçamento limitado, fomos para o café falar com as pessoas, beber cerveja, fomos ouvir e conseguimos cerca de 10% dos votos. Elegemos, pela primeira vez, um membro da IL na Assembleia de Freguesia.
RC > Diz que o concelho tem “enorme potencial por explorar”. Em que áreas concretas isso se nota mais? E o que propõe?
MR > Tradicionalmente e historicamente, Porto de Mós é um concelho de passagem. As pessoas passam por Porto de Mós para ir para a Nazaré, para a Batalha, para Alcobaça ou para Mira de Aire. Porto de Mós tem condições para deixar de ser um concelho de passagem. Os últimos executivos têm tentado atrair empresas. A área empresarial de Porto de Mós está cheia, a de Mira de Aire nem por isso, mas tem a ver com questões de acessos. Esta atração de empresas é importante. Acreditamos que, além do que já foi feito, conseguimos acrescentar outras coisas. Queremos que seja mais atrativo para trazer mais pessoas e mais empresas para Porto de Mós. Uma área que não tem sido trabalhada, da forma que poderia ser, é o desporto de natureza. O concelho tem as condições necessárias, tendo em conta o enquadramento do parque natural, para ser uma referência nacional e internacional no desporto de natureza. Estamos a falar de btt, de trail, de orientação, de arborismo, parapente, tudo o que possa ser realizado, de forma sustentada, dentro das condições naturais espetaculares do concelho. Queremos apresentar uma proposta para atrair provas, regionais, nacionais e internacionais. Há condições para que haja mais modalidades e criar condições para o concelho ser uma referência. O que aconteceu na Nazaré com o surf pode acontecer em Porto de Mós com estas provas.
RC > Que incentivos propõe para atrair investimento e, ao mesmo tempo, fixar população?
MR > O concelho tem alguns imóveis abandonados e devolutos, há condições para serem melhorados. É necessário um processo de licenciamento de construção bastante mais ágil do que aquele que existe. Foi feito um simples urbanístico em 2024 que criou algumas dificuldades. Há câmaras que trabalham de forma diferente neste aspeto. Acelerando esta velocidade de licenciamento, temos mais habitação e mais condições de ter mais pessoas e mais empresas. Outra questão tem a ver com os impostos. Estamos a analisar uma proposta para baixar a taxa de derrama, único imposto que incide diretamente sobre as empresas e pode ser um fator de competitividade entre os concelhos. As empresas são pessoas e queremos apresentar uma proposta para reduzir a taxa de IRS até ser zero. O dinheiro deve estar no bolso das pessoas.
RC > Lidera uma candidatura composta por muitos independentes. Olha para essa diversidade como uma força ou um risco para a credibilidade da candidatura que lidera?
MR > É uma força. Procurámos sempre envolver pessoas com sensibilidades e meios diferentes. Nas autárquicas, se não houvesse independentes também não havia eleições. É muita gente, que traz este espírito de disponibilidade, para melhorar as coisas à sua porta. Este espírito é uma demonstração de força da democracia. Tenho todo o gosto em receber independentes.
RC > Concorda com a solução da Bata Branca para Porto de Mós? Que soluções propõem para resolver o problema da saúde?
MR > A solução da Bata Branca não é uma forma de resolver o problema, resolve só alguns pontos. Com essa solução, as câmaras estão a reconhecer que o estado central está a falhar. O seguro de saúde foi uma excelente iniciativa, mesmo não tendo a adesão que poderia ter. Os problemas de saúde não se resolvem com betão. É um problema de gestão, que atrai e que permite reter recursos humanos. Esse passo é muito difícil dar, sobretudo em zonas mais rurais. Uma das propostas que ainda não foi cumprida é a passagem da USF de Mira de Aire para modelo C. Se o concelho for mais atrativo para as pessoas cá ficarem, também poderá ser para os médicos.
RC > O que será um bom resultado?
MR > Um excelente resultado é ser presidente de câmara. Costumamos dizer que as eleições autárquicas não se ganham, perdem-se. É muito mais fácil para quem lá está, ser reeleito, do que alguém que chegue conquistar a câmara. Em Porto de Mós, é muito provável que Jorge Vala venha a ser eleito e seja novamente presidente. Um bom resultado seria ser eleito vereador.
RC > Caso não vença, está disponível para colaborar com o executivo eleito ou será uma oposição crítica por princípio?
MR > Estamos sempre na política de forma construtiva. Estou na política para acrescentar e não para subtrair. Estou disponível para colaborar com o executivo e apresentar as nossas propostas e ajudar as melhorar as propostas do executivo. Independentemente das sensibilidades ideológicas, teremos de conversar e entrar em acordo e isso é política. Fazem falta estes encontros de vontade e propostas na política.