Após oito anos à frente da Câmara de Porto de Mós, o candidato do PSD antecipa os próximos passos para o concelho, com a promessa de dar continuidade à transformação de Porto de Mós, com foco na habitação, educação gratuita e melhorias nas infraestruturas.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > Passados oito anos como presidente, sente que conseguiu realmente “ligar-se” aos portomosenses e colocar Porto de Mós no “sítio certo”, como prometeu nas candidaturas em 2017 e 2021?
Jorge vala (JV) > Sim, temos desenvolvido uma política de proximidade. É fundamental que as pessoas sintam que os seus representantes estejam próximos e sejam pessoas com quem podem falar, tenham capacidade para admitir a crítica e para as ouvir. A esse nível, tiro um dia por semana para atender a população. Todas as sextas-feiras atendo os munícipes. Faço isso desde o início do primeiro mandato. Assentamos muito a nossa estratégia na tentativa de resolver o problema das pessoas, com uma política de proximidade. Por isso, fazemos as reuniões de câmara públicas descentralizadas e adaptámos horários para que as pessoas possam ir. O nosso propósito é ter as pessoas, não numa perspetiva de confronto, mas numa perspetiva de participação cívica, que vai muito além da conversa de café ou da discussão das redes sociais. São estes fóruns que devem ser utilizados para fazer a participação dos munícipes. Estamos sempre disponíveis para ouvir as pessoas. Invertemos muito do que era a política anterior da câmara.
RC > Agora, com um terceiro mandato em vista, que “diferença” é que Jorge Vala pretende fazer nos próximos quatro anos?
JV > Avancei para a candidatura a um terceiro mandato porque sinto capacidade e energia para continuar. Costuma-se dizer que os autarcas nunca têm as suas obras terminadas. Penso que 12 anos é o tempo suficiente, não mais do que isso. Quero revelar que, ganhando as eleições, irei fazer o mandato completo, as pessoas não se sentirão defraudadas. Não irei ter qualquer outra participação política no futuro. Por outro lado, quero terminar um conjunto vasto de projetos, que têm a sua conclusão com o aumento da população. Foi essa a nossa estratégia inicial, inverter uma tendência de perda de população. Hoje Porto de Mós é um concelho diferente. Temos mais cerca de 500 alunos nas escolas. Temos as escolas de pré-escolar e o 1.º ciclo praticamente todas cheias. Isto diz bem do trabalho deste executivo. Temos o IMI mínimo, devolvemos 50% de IRS, reforçámos os apoios das bolsas de estudo em mais de 50%, apoiamos a natalidade… Estamos num caminho, que será concluído em 2029, com a educação gratuita para as famílias do concelho. Pensamos que este fator será a chave para a fixação e captação de novas famílias em idade ativa. Acreditamos que aquilo que recentemente conquistámos – a qualificação de Porto de Mós como um centro urbano estruturante da região Centro –, a par da Carta Municipal de Habitação, aponta para que, daqui a 10 anos, tenhamos cerca de 30 mil habitantes. O que quer dizer que passamos a ter um crescimento a dois dígitos, de uma forma quase sistemática. Este crescimento de população vai transformar completamente Porto de Mós. Em 2029, quero fechar este ciclo, com orgulho e com o sentimento de missão cumprida porque, de facto, Porto de Mós está a dar uma volta muito grande.
RC > Esta recandidatura representa a continuidade de um projeto que ainda não foi totalmente concretizado ou a implementação de novos projetos para o concelho?
JV > A estratégia inicial foi a educação. Tínhamos de deixar de apoiar as famílias para os filhos irem estudar para outros concelhos. Essa questão foi eliminada. Passámos a ter um plano de intervenção em todas as escolas, em ambiente rural. Em oito anos, fizemos intervenção em quase todas as escolas. Além da educação, fizemos investimento na área económica, com as zonas industriais, a fixação de empresas, a facilitação às empresas e a redução dos impostos. A par disto, vamos entrar num novo mandato com uma estratégia para a habitação. Temos um projeto em Mira de Aire, em fase de negociação, que queremos até final do ano concluir, que tem que ver com a antiga fábrica da Fiandeira. Queremos implementar apartamentos para depois colocar como oferta, a baixo custo, para quem se quiser instalar no espaço de coworking, no mesmo edifício. Na freguesia de Pedreiras, temos um terreno com cerca de 15 mil metros quadrados. Negociámos recentemente mais 2 ou 3 mil metros. Estamos a terminar a revisão do PDM e a adaptá-lo para a habitação. Não vamos fazer habitação social, vamos fazer habitação para colocar no mercado ao preço que nos custa. No passado, a câmara já tinha feito isto. Sentimos que é o que nos falta, ter habitação a custos controlados para a chamada classe média baixa. É isso que vamos fazer no próximo mandato. Até porque a Carta Municipal de Habitação aponta para uma carência habitacional. As ARU têm criado dinâmicas impressionantes, muito acima do que era a nossa expectativa, nomeadamente em Mira de Aire. Face aos resultados dos censos 2021, com muitas casas devolutas, a nossa estratégia de habitação passou pela requalificação. Na revisão de PDM, estamos a implementar um processo de apoio para as zonas onde não existem ARU, para podermos apoiar a requalificação de todas as casas com mais de 30 anos.
RC > Na apresentação da candidatura, destacou ainda áreas como mobilidade, saúde e saneamento. Como pretende concretizar essas promessas e quais considera as mais urgentes?
JV > O saneamento é fundamental. Quando iniciámos há oito anos definimos o caminho em duas áreas distintas: a resposta social, com o objetivo de fixar e captar novos habitantes, e depois dar seguimento ao que estava a anos de luz do que devia ser, que é o ciclo urbano da água. Concluímos em 2020 o abastecimento de água a todos os lugares do concelho. Todos os anos vamos substituindo redes de conduta de água, melhorando o estado dos reservatórios e centrais elevatórias com a substituição de equipamentos eletromecânicos. Mas, sobretudo, tornámos muito eficiente todo o sistema, com reduções com algum significado de perdas de água. Ainda não atingimos o ótimo, mas continuamos a fazer investimentos para atingir níveis interessantes de perdas de água. Em relação ao saneamento, éramos um dos concelhos da região com menos população servida. Fizemos investimentos com alguma importância em várias freguesias do concelho e vai ter continuidade. O projeto de saneamento em Mira de Aire é muito complexo, sob o ponto de vista da engenharia. Pela complexidade e custo, avaliada em mais de 10 milhões de euros, precisa do apoio do Governo. Se o aquífero de água doce em Mira de Aire for acautelado, teremos a coragem de avançar com o projeto, que vai criar muita insatisfação e que será muito moroso. A complexidade da obra não nos assusta, o que é fundamental é que o Governo crie condições para podermos avançar. Mapeámos recentemente o centro de saúde da Mendiga, cremos que poderá avançar já no próximo ano, com fundos comunitários. Também está mapeado o de Alqueidão da Serra, mas mais atrasado. Temos um cartão de saúde com 16 mil utilizadores e com mais de 1000 consultas ao domicílio. Descontinuar este serviço seria defraudar as expectativas. Continuamos a ter projetos diferenciadores, como a saúde oral. A partir do início do próximo mês, vamos iniciar o processo do transporte flexível e a pedido. As populações de baixa densidade – Alvados, Alcaria, São Bento, Serro Ventoso, Arrimal e Mendiga – vão ter a resposta dos taxistas, que cobrarão o bilhete de autocarro e o restante será patrocinado pela comunidade intermunicipal e câmara. Reforçámos o Vamós, lutámos pela Rede Expresso e já temos. Vamos criar um passe para seniores, para mais de 65 anos, gratuito, para circular em toda a região de Leiria e estamos a tentar também oferecê-lo aos bombeiros voluntários e aos dadores de sangue.
RC > O PS e o Chega têm sido bastante críticos à gestão do PSD, incluindo acusações de “bullying político” e alegações de que o 25 de Abril nunca chegou a Porto de Mós. Como responde a essas críticas?
JV > É uma crítica completamente infundada e vinda de quem vem é absolutamente ilegítima, até porque são pessoas que não me conhecem, não conhecem este executivo e não conhecem sequer o concelho. O que disseram é aquilo que lhes vem à cabeça. Relembro que há quatro anos quem quis ser candidato nas listas doutros partidos, alguns foram funcionários da câmara, e a melhor resposta que dou é irem perguntar a essas pessoas o que lhes aconteceu. Não só estão no mesmo lugar, como em alguns casos tiveram reconhecimento profissional. Esses candidatos não tiveram competência e capacidade para arranjar pessoas para as listas. Não admito sequer que se fale que, nalguma circunstância, haja medo ou receio de integrar listas. Não aceito esta acusação, é infame. Não é possível estarmos numa sã convivência democrática com pessoas que atiram pedras sem saberem aquilo que dizem.
RC > Há diversas “transferências” políticas nesta candidatura, algo que também já aconteceu no passado. Não teme que ter “vira-casacas” nas listas do PSD prejudique os resultados?
JV > Esta não é uma candidatura política, de discussão política, é uma candidatura em prol do concelho de Porto de Mós e, neste particular, das freguesias do concelho. Não queria muito ir por aí até porque há partidos que estão a trazer esse assunto que não são o melhor exemplo no passado. Se houve quem tenha feito isto de uma forma abruta e até, nalgum particular, censurável não foi o partido que represento e que me elege. Tenho um pensamento político próprio, sou social-democrata de base e independentemente das convicções ou dos alinhamentos do partido que me apoia, eu não mudo. Continuo a ser social-democrata, nas convicções e nas ações. Quando trabalhamos para as pessoas, temos de pensar e fazer para elas, não podemos dizer apenas que estamos preocupados. E isso é ser social-democrata. Todos os que querem ou estão alinhados com este pensamento estão de bem connosco porque estão de bem também com o concelho de Porto de Mós. O que me preocupa, para não trazer o chavão do lugar comum que o meu partido é Porto de Mós, são mesmo as pessoas do nosso concelho. Ao fim de 12 anos, quando terminar o meu percurso autárquico, as pessoas de Porto de Mós estão melhores do que estavam em 2017. Essa é a minha grande bandeira e será a minha grande obra.
RC > Como olha para os resultados das legislativas que deram colocaram o Chega a apenas 1597 votos do PSD em Porto de Mós?
JV > A convicção que temos é que estes resultados são em função dos candidatos e não dos partidos políticos. Temos pessoas que nos apoiam com origem no Chega e do PS, alguns até militantes históricos. Isso diz bem da abrangência que temos. Penso que as eleições autárquicas são completamente diferentes das nacionais, não tem que ver com os partidos. Contam as pessoas, as equipas. Renovámos a assembleia e a câmara, entrou gente nova, com muita qualidade, com o objetivo de acautelar o futuro. A maioria são independentes, não têm militância, temos conseguido agregar a população do nosso concelho em torno de um projeto sério, válido e de mudança. Julgo que temos condições para manter a maioria absoluta, é importante para podermos governar a câmara com a tranquilidade que uma maioria nos dá. Há condições para podermos ter um pensamento de reforço, mas não é isso que me preocupa. A abstenção é que me preocupa.