A CDU nunca elegeu representantes para o executivo municipal em Porto de Mós, apostando no pasteleiro Telmo Cipriano, que há quatro anos se candidatou à Junta das Pedreiras, para concorrer como cabeça de lista à Câmara nas próximas eleições autárquicas. O candidato reconhece a obra efetuada por Jorge Vala (PSD), mas aposta num bom resultado.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > O que o motivou a ir a votos novamente, desta vez como cabeça de lista à Câmara Municipal, depois de ter sido candidato à freguesia das Pedreiras em 2021?
Telmo Cipriano (TC) > A ideia inicial seria concorrer novamente à Junta de Freguesia das Pedreiras, mas depois a CDU convidou-me a avançar também para candidato à Câmara e resolvi aceitar mais esse desafio. Hesitei um pouco, mas acabei por aceitar o convite, pela pessoa que me pediu.
RC > E parte com que prioridades para este despique eleitoral?
TC > A grande prioridade da minha candidatura passa por tentar acrescentar algo de novo ao concelho, novas ideias. Há pouco mais a acrescentar, porque o concelho está bem apetrechado em termos de equipamentos e diria mesmo que estamos quase a tornar-nos no concelho mais bem equipado do País.
RC > É pasteleiro de profissão e vive nas Pedreiras. Que impacto tem o seu percurso de vida e profissional na forma como olha para os problemas do concelho?
TC > Sou novo nisto. Comecei há pouco tempo a ter mais atenção nestas coisas. Confesso que não tenho muita experiência autárquica, nem conhecimento da realidade autárquica. Mas as pessoas acham piada ao facto de ser um candidato que é pasteleiro e isso é interessante e diferente. Tenho recebido feedback da população e há quem me diga que, por ser pasteleiro, vamos ter um concelho mais doce…
RC > Já afirmou que “não são só os doutores que concorrem”. Sente que ainda existe um preconceito na política local contra candidatos que vêm de profissões mais comuns?
TC > De facto temos bastante presidentes de Junta com os mesmos estudos que eu, ou seja, o 9.º ano e alguns até menos, isso não tira valor a esses autarcas. A obra quando nasce não está na qualidade do candidato. Muitas vezes há grandes obras que resultam de ideias de pessoas com menos estudos. Em termos pessoais, ficaria mais confortável na Junta, porque é menos exigente em termos de responsabilidades e creio que tenho jeito para servir as pessoas, mas para a câmara será mais difícil, é mais trabalhoso. É um desafio mais complicado, mas, ainda assim, sou candidato.
RC > Liderar um município exige conhecimentos técnicos e políticos… Como responde a quem diz que não tem experiência para ser presidente da câmara?
TC > Como disse, reconheço que será um exercício difícil, porque não estou na área, [da gestão autárquica] faltam-me conhecimentos. Não é fácil ser presidente de uma câmara. Mas o presidente é só um, é o cérebro de tudo, mas a equipa depois é grande e precisa de trabalhar bem. Creio que isso é essencial. No meu caso, para exercer o cargo teria de ter uma equipa capaz ao meu lado e conseguir estar ao lado das freguesias. No entanto, também a esse nível o que está a ser feito por este executivo está a ser bem feito. É dificil encontrar algo menos positivo. Há muita coisa em projeto e a avançar, tudo o resto não avançou já e não está pronto porque também é preciso ter em conta o orçamento. Havendo dinheiro, as obras já estavam todas feitas. As coisas têm de se ir fazendo.
RC > Afirmou, quando se apresentou, que “muita coisa foi feita, mas ainda há muito por fazer”. Pode dar exemplos concretos do que está bem e do que está mal no concelho?
TC > Sabemos que há muitas obras a serem planeadas e executadas, mas reconhecemos que o orçamento não chega para tudo. Estou de acordo com aquilo que está a ser feito e, em certas áreas, a câmara cumpre até para além daquilo que seria uma obrigação. Posso dar um exemplo: o Mercado vai para obras grandes e terá a Loja do Cidadão, uma mais-valia que vai dar muita vida ao centro da vila. Vamos ficar com um mercado vivo durante a semana, uma vez que agora só funciona à sexta-feira de manhã. Vai tornar Porto de Mós mais vivo, mais mexido. Nas freguesias mais próximas da serra têm outras necessidades, mas diria que o concelho em si está bem adiantado, até ao nível do saneamento básico. Já estamos nos 70%. O que ainda não está coberto é porque é de difícil concretização. É um orçamento de muitos milhões e não é possível estalar os dedos e a câmara em quatro anos fazer o saneamento a 100%. Pergunta-me ainda o que pode ser feito, mas é difícil. Quem chega a Porto de Mós vê uma vila bonita, há bons jardins, temos bicicletas instaladas para as pessoas andarem gratuitamente, temos uma Zona Industrial que esgotou… Não há farpa para atirar. A câmara tem obra feita e uma visão de futuro. Estamos dentro dos melhores concelhos do País. Há que reconhecê-lo.
RC > Se for eleito, quais seriam as suas primeiras medidas a implementar?
TC > A CDU, caso vença as eleições, vai tentar dar sequência ao que tem vindo a ser feito. Na equipa que ganha não se mexe. A sensação que temos é que [o presidente Jorge Vala] irá para um terceiro mandato e, se isso acontecer, será pelo presidente que é, uma pessoa sempre acessível, sempre pronta a avançar com novos projetos. Sou candidato da CDU, mas não vejo onde colocar defeitos. É um presidente muito acessível, que em princípio vai vencer e bem, e o facto de eu ser candidato por outra força política não implica que desvalorize o trabalho feito. Tem trabalho feito, tem trabalho a fazer. Não há por onde apontar defeitos.
RC > Mas, se é assim, não faria mais sentido ser candidato nas listas do PSD?
TC > Se tivesse sido convidado pelo PSD teria aceitado, mas chegou o convite da CDU e aceitei. Sem interesses e sem querer fazer da vida isto. As pessoas fazem os partidos, os partidos não fazem as pessoas. As pessoas que vão votar é pelo presidente e não pelo PSD. Ele ganhou pela pessoa que é e pela obra que tem.
RC > Como pretende conciliar as necessidades urbanas com as das zonas mais rurais do concelho? Que medidas podem minimizar essas diferenças?
TC > Não tenho muito conhecimento nessa área. Conheço mais a minha freguesia, que está bastante moderna, não temos falta de médico, temos todos os serviços. Temos um paraíso à porta, enquanto há outras freguesias menos bem apetrechadas. Temos muita indústria e empregamos muitas pessoas. O concelho de Porto de Mós está com muita força. O problema é a habitação, mas a câmara está a resolver alguns problemas para que haja mais construção. No caso da CDU defendemos que terrenos em que não se pode construir se altere [o Plano Diretor Municipal] para que se possa construir.
RC > Nas últimas legislativas, a esquerda perdeu força, enquanto a extrema-direita cresceu de forma significativa no país. Como é que interpreta esta tendência e que impacto acha que pode ter nas autárquicas em Porto de Mós?
TC > Essa é uma realidade em Porto de Mós e no País inteiro. Talvez essa mudança não se faça sentir tanto nas juntas e nas câmaras, porque nesse caso contam muito os candidatos. Os rostos importam muito nas eleições locais, confiam na pessoa que conhecem, no amigo, enquanto nas eleições para o Governo não conhecem os candidatos. Vamos ver qual será a diferença dos últimos quatro anos para agora. O Pedro [Santos], candidato da CDU à câmara há quatro anos não era de Porto de Mós, enquanto sou uma pessoa mais conhecida e, por isso, acredito que terei mais votos. A Iniciativa Liberal também tem um candidato muito conhecedor da realidade e, mesmo não ganhando estas eleições, será um candidato forte no futuro.
RC > A CDU nunca conseguiu eleger um vereador em Porto de Mós e, nas últimas autárquicas, ficou muito aquém dos partidos com maior expressão local. O que o leva a acreditar que agora será diferente?
TC > Gostaria, pelo menos, de não ficar em último nestas eleições, mas se ficar aceitarei os resultados com toda a humildade. Gostaria de ficar em segundo, terceiro. Em último ninguém gosta de ficar. Acredito que podemos ter um bom resultado. Esta praia [da política] não é a minha. Com toda a humildade digo que tenho mais perfil para a junta do que para a câmara.
RC > Mas como pretende convencer o eleitorado a votar na CDU?
TC > Em Porto de Mós há pouco para inventar. Quando me perguntam por projetos, olho para o que está a ser feito pela câmara e confesso que tenho pouco para acrescentar. Não me quero desviar nem um milímetro de quem tem feito um bom trabalho apenas com o intuito de ganhar votos. Se votarem em mim sabem que estarão a votar na verdade. O que posso mudar no concelho quando a câmara está a fazer um bom trabalho? Até ao nível da saúde a câmara tem sido capaz de apresentar boas propostas, como o cartão de saúde, ao qual também aderi. Mas podia falar das bolsas de estudo. Não posso acrescentar muito mais, a não ser elogiar o trabalho. Não está em causa o partido.
RC > Mas é candidato pela CDU. Tem noção de que o que diz é polémico…
TC > Não vejo como polémico, o eleitor também tem dois olhos. Quem for sério aceita a realidade do concelho.
RC > Nas autárquicas, como já disse, vota-se nas caras. Mas não teme que junto do eleitorado da CDU esse alinhamento com o PSD lhe possa custar alguns votos?
TC > Até pode custar votos, mas a minha verdade é só uma. Entendo que um presidente tem de ser como aquele que está na câmara, é uma pessoa sempre pronta a servir. Não vale a pena ir contra a realidade e, se fosse eleito, seria como ele. Não dá para ser diferente disso. A câmara desdobra-se em apoios às pessoas.
RC > Se for eleito vereador, qual a postura que vai adotar?
TC > Manterei os meus princípios. Tenho o meu perfil e o meu pensamento não se vende. Continuarei a pensar da mesma forma e a apresentar propostas. Já apresentei uma proposta de criar uma via verde para ajudar os munícipes a resolver problemas na autarquia.
RC > Mas por que razão aceitou o convite da CDU? Não faria sentido ter avançado como independente?
TC > Aceitei muito por amizade a quem me convidou. A minha ideia sempre foi integrar uma equipa e não em criar uma equipa de raiz para concorrer. Tenho várias pessoas experientes nas listas, pessoas conhecedoras da realidade autárquica e podemos fazer um bom trabalho. A equipa está montada e tem gente capaz para desenvolver um bom trabalho.