Comecei a escrever este texto em modo de zangado, desancando em quem se acha “herói” nesta situação, de contornos épicos, em que um vírus nos colocou. Já ia na terceira enumeração de falsos heróis quando me dei conta do desaforo que estava a promover. De facto, para desgraça, basta-nos a realidade; não é necessário comentário que a potencie.
Assim, em vez de algum acinte crítico, redirecionei-me para o modo de dizer bem, tentando olhar para além da realidade dos números de infetados, de mortos e de internados.
Ora, se esta situação é desastrosa para todos, é especialmente penosa para quem se cruzou com ela sem a inscrever no programa do governo ou do município e que, sabendo pouco ou nada sobre os caprichos da Covid , não pode declinar a obrigação de decidir se confina ou não confina, se dá Natal ou Ano Novo, se decide como a Suécia, a Itália ou a Nova Zelândia…
Este Natal trouxe-nos, para além da insuportável pandemia, uma coisa boa: menos consumismo à volta da árvore de natal. E, embora tenhamos tido saudades das ausências, o nosso núcleo familiar, embora espartano e insuficiente, foi “competente na felicidade possível”.
É necessário dizer que a dicotomia maniqueísta entre bom e mau não é coincidente com a divisão privado / público; é necessário que se aprecie e se repare no ar fatigado de quem nos governa. Na verdade, a todos os níveis da administração, nacional ou local, há gente que se consome em encontrar as melhores soluções, em nos proporcionar as melhores condições de vida.
Este Natal trouxe-nos, para além da insuportável pandemia, uma coisa boa: menos consumismo à volta da árvore de natal. E, embora tenhamos tido saudades das ausências, o nosso núcleo familiar, embora espartano e insuficiente, foi “competente na felicidade possível”.
2021 – que desejo Bom para todos – tem de ser o ano da vitória da ciência sobre este vírus. E esse tempo que há de vir tem de ser melhor do que seria sem esta experiência traumática, mas, na sua radicalidade, também purificadora.